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24/12/2018 às 15h41min - Atualizada em 24/12/2018 às 15h41min

Futebol feminino

ANTÔNIO PEREIRA
Hoje elas estão em torno dos setenta, as pioneiras do futebol feminino no Brasil. São de Araguari e atenderam a um pedido da diretora de uma escola que estava em dificuldade financeira. As meninas vestiram as camisas dos tradicionais rivais daquela cidade: o Araguari e o Fluminense. Os técnicos desses times treinaram as meninas. O jogo foi em 19 de dezembro de 1958. Um sucesso, terminou 2 a 1 para o Araguari. Ano glorioso para o nosso futebol. O sucesso foi tão grande que as meninas foram chamadas a jogar no Juca Ribeiro. Tupaciguara também quis vê-las, mas o vigário proibiu, mas foram a Ituiutaba, Goiânia, Belo Horizonte, Salvador. E até o México quis vê-las, mas a lei brasileira impediu. Havia um decreto proibindo mulheres de praticarem esportes incompatíveis com as condições de sua natureza. Acabou-se o futebol feminino. Quando as meninas vieram a Uberlândia, o campo se encheu mais de torcedores do que na visita que nos fez, à época, o Botafogo (com Didi e Garrincha). Mas houve quem não gostasse. O Padre Durval publicou nota na imprensa dizendo que “Futebol Feminino não honra ninguém” e o Diretor do Departamento de Esportes da Rádio Cultura, Eudécio Casassanta Pereira, declarou ao Correio de Uberlândia que odiava o futebol feminino. Acabou.

Voltou essa prática a Uberlândia muito tempo depois quando se afixou, no estádio João Havelange, a placa de “Capital Sul Americana do Futebol Feminino”. Abrigamos, de 9 a 21 de janeiro de 1995, o 2º Campeonato Sul Americano e Eliminatória do Mundial de 1995. As equipes que participaram foram Brasil, Argentina, Bolívia, Chile e Equador.

Foi assim: o presidente da Futel, Lione Tannus Gargalhone, começou a divulgar as possibilidades do novo estádio João Havelange em abrigar grandes eventos futebolísticos. Quando se cuidou desse Campeonato e das Eliminatórias, a CBF sugeriu à empresa responsável pela organização dos eventos, Traffic Assessoria e Comunicação Ltda, que era associada à Sport Promotion, que usasse Uberlândia. Foram feitos contatos com a Prefeitura e a Futel. Paulo Ferolla, prefeito à época, concordou e colocou a prefeitura à disposição para que tudo corresse bem. O patrocínio foi oferecido pela Refinações de Milho Brasil, já patrocinadora oficial da seleção feminina, mais o Grupo Martins e ABC Algar.

Foi um sucesso, o estádio sempre cheio, com o ingresso custando um quilo de alimento não perecível e mais alguns recordes: o maior público em jogos oficiais femininos no mundo; a maior goleada quando o Brasil venceu a Bolívia por 15 a 0 e, pela primeira vez, um trio de arbitragem feminino, com três brasileiras, atuando no jogo Chile e Bolívia.

A participação do Brasil foi auspiciosa: contra o Equador, 13 a 0; contra o Chile. 6 a 1; contra a Argentina, 8 a 0; contra a Bolívia, 15 a 0. A final, contra a Argentina, deu Brasil, 2 a 0. Fomos bicampeões e classificados para o mundial. Pretinha marcou o primeiro gol feminino no estádio João Havelange e os destaques nacionais das eliminatórias e do campeonato foram Sissi, Pretinha e Roseli.
 
*Fontes: Alberto Gomide, revistas Cláudia e Dystak’s, Relatório de Prestação de Contas  da Futel, agosto/94 a março/95.

*OBS PARA OS LEITORES CONFERIREM: A reação do padre Durval e do sr. Eudécio vieram à época dos empenhos das sras. Adélia Rodrigues da Cunha e Noêmia Ribeiro Pereira para a realização de um jogo entre Araguari e Uberlândia em benefício da Casa da Criança. Será que se realizou?
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