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18/12/2018 às 08h51min - Atualizada em 18/12/2018 às 08h51min

Trapalhadas do Papai Noel

ANA MARIA COELHO CARVALHO
No Natal da minha família sempre alguém se veste de Papai Noel pra alegrar a criançada. Alguns são bem desengonçados, outros se ajustam bem ao papel. Ao longo dos anos, já teve Papai Noel entalado na janela; com a roupa do avesso por causa da pressa em se vestir; suando em bicas por causa do calor da barba e do bigode falso; ceguinho porque colocou óculos escuro e não conseguia ler de quem era o presente, etc. Mas a roupa era sempre a mesma. Casaco e calça de cetim vermelho com pelúcia branca, capuz, barba e bigodes falsos, brancos e calorentos; cabeleira postiça, luvas, cinto preto, saco de cetim para encher de presentes e um travesseiro de acessório para aumentar a barriga.

Acontece que em um Natal, muitos anos atrás, toda a indumentária do Papai Noel tinha desaparecido. Tudo indicava que o saco vermelho, com a roupa dentro, tinha caído da camionete no trajeto de Uberlândia a Carmo do Rio Claro, onde iríamos passar o Natal (imaginem a surpresa de quem encontrou o saco). Assim, o bom velhinho não poderia aparecer para a criançada, pois Papai Noel pelado não dá. Foi a sorte dele, como se segue.

Na noite de Natal, estavam as crianças comentando ansiosas o que haviam pedido para o Papai Noel. Um dos netos, na época com cinco anos, pediu um laptop do Batman e o irmão de quatro anos, uma pistola do Power Ranger. O pai (meu filho) achou o máximo o pedido da pistola, coisa de macho. Depois, como médico, lembrou-se que armas, mesmo de plástico, estavam em desuso, pois mexem com o hipotálamo e o sistema límbico da criança, desajustam a membrana coriônica do sistema alfa e estimulam a violência. Concluindo: o filho iria virar bandido. Como ele pagou os presentes, já não sabia se era um bom ou um péssimo pai.

As horas corriam e os adultos, consternados, não sabiam como resolver a ausência do bom velhinho. Súbito, alguém teve uma brilhante ideia e gritou com entusiasmo que o Papai Noel já tinha passado, sem ninguém ver, e tinha deixado os presentes debaixo da árvore de Natal. Ainda completou que alguém tinha visto o trenó puxado pelas renas indo embora. E que havia uma rena com um narizinho vermelho brilhando, e que o Papai Noel estava com pressa e não pôde esperar, tinha muitos presentes para entregar.

As crianças, enganadas direitinho, saem em disparada (algumas vão devagar, pois têm medo do Papai Noel). O neto mais novo, eufórico, abre o presente com o seu nome e solta um grito de terror: "O que, uma Barbie? Eu mato esse Papai Noel!" E o mais velho, decepcionado e choroso: "Olha o que eu ganhei, um tapete mágico cor-de-rosa da Barbie!" O pai olhava tudo, boquiaberto e indignado, pensando: "- Não dar a pistola, tudo bem, mas uma Barbie! Aí o Papai Noel exagerou!"
Confusão geral. Os pimpolhos correm pela casa, tentando encontrar e matar o Papai Noel. Os adultos, conversando baixinho, descobrem que a mãe trocou os presentes com a irmã, que mora em Araguari e tem duas filhas. Tentando contornar a situação, colocam as crianças para conversarem ao telefone. As priminhas contam que ganharam a pistola do Power Rangers e o laptop do Batman. Eles falam que ganharam a Barbie e o tapete. Concluem aliviados que o velhinho se enganou e que os presentes estavam a salvo. Depois, os netinhos encontraram na árvore uma roupa do Power Rangers. Vestiram, incorporaram o personagem e esqueceram a frustração.

O problema maior de tudo isso foi o pai, que após a confusão ficou emburrado, deitado no sofá. Desenterrou do fundo da memória um episódio, um trauma de infância, de um Natal quando tinha seis anos. Na época, escreveu uma cartinha para o Papai Noel, endereçada para o Polo Norte. Pediu um Rifle Super Tiro, uma arma que espocava 20 tiros fortes em sequência. Ganhou uma Super Mouse, que dava cinco tirinhos.

Também queria matar o Papai Noel.
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