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12/12/2018 às 07h56min - Atualizada em 12/12/2018 às 07h56min

Questão de estilo

CARLOS ROBERTO FELICE | JORNALISTA
Cada um tem um jeito de escrever. Eu tenho o meu. Tudo depende dos fatos, das coisas e das pessoas. A maneira de perceber a realidade é fundamental. Eu apreendo o que vejo e sinto. E a tudo descrevo ao meu estilo influenciado até pela experiência acumulada. Se escrevesse diferente estaria me contrapondo e assumindo uma hipocrisia que não cogito por abominá-la. Escrevo de modo usual se assim o assunto exigir; noutros casos, com contundência, aí  abraço a franqueza ao abordar com palavras fortes o que desnudamente existe nas pessoas bem intencionadas, reverentes, honestas, mas, também, com foco em outras que são portadoras de desvios de conduta, de impulsos libidinosos incontidos, de polêmicas, complacências e contradições. A humanidade é o que é, e nada a fará mudar; o mundo é o que é, e assim permanecerá até o fim dos tempos apesar das tentativas em contrário. Com o fim da ditadura a censura acabou. Vai daí que não aceito a censura. Tampouco  a autocensura que é pior ainda do que aquela. Além do mais, não conheço autor, famoso ou não, laureado ou anônimo, que tenha se esquivado de palavras chulas e obscenas para abordar o que as pessoas fazem, escancaradamente ou não. Se Jorge Amado fosse contido com as palavras os seus livros simplesmente não existiriam.   
 
Não sou pudico, ao contrário; nem defensor de boas maneiras e do politicamente correto; nem guardião da “moral pública”; nem adepto do “bom mocismo” com a intenção de me tornar um “Irmão do Santíssimo”. Meus textos têm as expressões que acho adequadas para o momento. E aí entram frases, palavras e termos que considero justos como acessórios imprescindíveis ao tema, aos sentimentos, e até minhas indignações. Resumindo, redijo do jeito que acho que deve ser apesar dos conservadores.   
 
Não gosto de eufemismos. Vou direto ao ponto. Não sou como o Presidente Putin, que para se referir às putas russas com as quais Trump teria se envolvido, disse das “garotas de baixa responsabilidade social”. Se o caso é o de falar puta, eu escrevo puta, ao melhor estilo de Nelson Rodrigues, e não com o falso moralismo que disfarça a realidade só para agradar os puritanos. Às vezes sou propositadamente chulo porque naquele momento é preciso chulice para dar força a uma ideia mesmo que isso espante a quem queira passar a imagem de gente sem pecado e que quer nos convencer de que faz sexo de luz apagada e com um buraco no lençol. São os mesmos que até juram que nunca fizeram o que fazem às escondidas. Uma mulher que conheço bem mete os joelhos no chão evangélico da igreja, e ora contritamente, até em prantos; tem-se a impressão de que está prestes a galgar o Céu, mas sai de lá e – ato imediato -  dá para todo mundo: uma festa para os homens a fim de sexo. A rigor, o pudor não existe no ser humano simplesmente porque o desvirtuamento surgiu já nas origens, por isso somos todos afeitos a certas indecências sociais, sobretudo aquelas feitas na cama. Então, se os puritanos não gostam de como escrevo, paciência.
 
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