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22/10/2018 às 07h49min - Atualizada em 22/10/2018 às 07h49min

Ciência Pop

ANGELA SENA PRIULI
A série especial para o mês de outubro do CiênciaPop revelará como a ciência feita na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) tem contribuído com os avanços focados na saúde delas, AS MULHERES, e no câncer de mama. É a produção científica feita na nossa cidade, por gente que vive aqui e desenvolve avanços pela vida que se espelham por todo o planeta.

Esta semana conversei com o Prof. Robinson Sabino da Silva, cirurgião-dentista com doutorado em Fisiologia Humana. Na UFU, ele lidera o grupo de pesquisa em Fisiologia Humana e Nanobiotecnologia Salivar e orienta uma equipe de pesquisadores nos Programas de Pós-Graduação em Ciências da Saúde e em Odontologia, que tem como objetivo central desenvolver novos exames para diagnosticar diversas doenças pela saliva, inclusive o câncer de mama. Confira as respostas do Prof. Robinson sobre por que a saliva é o trunfo do futuro nas mãos de cientistas e médicos que queiram prevenir esse mal:

Como é feito o diagnóstico da maioria das doenças atualmente e em especial no câncer de mama?
A maioria das doenças atualmente são diagnosticadas pela história médica do paciente em conjunto com exames de sangue. No caso do câncer de mama ainda são necessário exames como mamografia, ultrassonografia e imageamento por ressonância magnética. Este protocolo de diagnóstico, apesar de ter uma boa eficiência para detectar a doença, é demorado, muito oneroso e acompanhado de dor e desconforto para geração de resultados. Em conjunto, isto se reflete em longas filas para agendamento de consultas, especialmente no Sistema Único de Saúde (SUS), o que promove atraso no diagnóstico das doenças.

Esse possível atraso no diagnóstico do câncer de mama pode causar prejuízos para as pacientes com câncer de mama?
Infelizmente sim. Sabe-se que a taxa de sobrevivência da mulher com diagnóstico em estágio inicial do câncer de mama pode ser de cerca de 98%, enquanto que em estágios muito avançados pode chegar a 27%. Por isso, o Instituto Nacional do Câncer incentiva que a mulher fique atenta a qualquer alteração suspeita na mama, faça autopalpação rotineiramente e busque uma equipe médica caso perceber qualquer alteração.

E quais pesquisas a UFU tem realizado para contribuir na melhoria dos protocolos de diagnóstico?
Nosso grupo de pesquisa desenvolve estudos para permitir que o diagnóstico das doenças possa ser realizado futuramente pela saliva. O ponto positivo disso é que a saliva pode ser coletada de forma não-invasiva, simples e indolor, tem facilidade no estoque e transporte e em comparação ao sangue é mais econômica, com menor risco de contaminação e não coagula. Por estas vantagens, o Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde dos EUA (NIH) investiu quase 1 bilhão de dólares para que a saliva substitua o sangue nos testes de diagnóstico futuramente. Nós temos buscado desenvolver novos modelos de diagnóstico salivares baseado em técnicas de espectroscopia por Raman e FTIR pois elas permitem uma análise de alta sensibilidade, em tempo muito reduzido e sem utilização de reagentes, isso permite uma redução drástica do impacto ambiental com baixo custo. Adicionalmente, temos buscado desenvolver plataformas nanotecnológicas por sensores eletroquímicos para que no futuro possamos realizar o diagnóstico de doenças sistêmicas de forma rápida e eficiente por meio da saliva em clínicas médicas, consultórios de odontologia ou até em casa com kits comprados em farmácia.

E no caso do câncer de mama, existem pesquisas buscando fazer o diagnóstico por meio da saliva?
Sim, temos conduzido estudos com pacientes da Uberlândia e do Triângulo Mineiro buscando caracterizar biomarcadores para diagnóstico do câncer de mama.
Recentemente, realizamos o depósito de uma patente no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual na qual demonstramos que é possível fazer o diagnóstico salivar do câncer de mama com alta eficácia de sensibilidade e especificidade pela quantificação do componente espectral do grupamento químico PO2. Para uma aplicação clínica em grande escala na população, ainda são necessários mais estudos com um maior número de pacientes, mas após a validação dos biomarcadores salivares acreditamos que a saliva pode abrir uma nova fronteira dos cuidados de saúde junto com o monitoramento em tempo real associado com uma medicina preventiva personalizada de alto impacto.

Se você fosse fazer um exame usando a saliva de uma paciente interessada, você faz ideia de como seria?
Sim, a coleta de saliva poderia ser feita pela própria paciente ou por algum profissional da área da saúde durante menos de 1 minuto e inserida em tubos de polipropileno (Figura 1). Em seguida, realizamos a pipetagem de apenas 2 microlitros (milionésima parte de um litro) em um aparelho de espectroscopia por FTIR. Após a análise do aparelho que leva cerca de 30 segundos, precisamos fazer processamentos matemáticos até o resultado final. Ou seja, em até 5 minutos o teste de diagnóstico poderia estar pronto. Esperamos que o investimento realizado nesta pesquisa possa ter no futuro um retorno aplicado para a sociedade, permitindo que o diagnóstico salivar do câncer de mama possa complementar os exames de detecção realizados atualmente com rapidez, baixo custo e com maior conforto para as mulheres.

O que me deixa mais esperançosa é todos pensam não somente na cura ou prevenção, que é tudo, mas também em facilitar e proporcionar mais qualidade de vida às mulheres. Continuo no viva os cientistas de Uberlândia e do Brasil! UFU por elas sempre!

Fontes:
http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/mama/deteccao_precoce
Guedes et al. Variation of Energy in Photobiomodulation for the Control of Radiotherapy-Induced Oral Mucositis: A Clinical Study in Head and Neck Cancer Patients. International Journal of Dentistry. 2018;2018:4579279.
http://www.icbim.ufu.br/fisionanosalivar
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