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07/05/2018 às 13h39min - Atualizada em 07/05/2018 às 13h39min

Nossos medos e vergonhas

ALEXANDRE HENRY ALVES | COLUNISTA
 
Certa vez, ainda nos tempos de coluna no Correio de Uberlândia, eu escrevi alguma coisa sobre síndrome do pânico, relatando um problema que eu tinha. Depois de publicado o texto, um amigo meu me ligou e disse que tinha ficado feliz por descobrir que ele não era a única pessoa no mundo a sofrer daquilo.

Isso ocorreu de novo há poucos dias, quando eu fazia uma trilha com quatro amigos. Relatei que eu não havia dormido bem de noite, pois tivera uma espécie de ataque de pânico, com taquicardia e idas ao banheiro, com a cabeça preocupada em como eu faria no dia seguinte, já que tinha marcado um longo pedal logo no começo da manhã e não conseguia relaxar para ter uma boa noite de sono.

Em uma das paradas da trilha, começamos a falar sobre isso e eu disse que estava ali muito mais como treinamento da cabeça do que do corpo: “Hoje pela manhã, quando o relógio despertou, eu decidi me levantar e vir pedalar com vocês, mesmo tendo dormido muito pouco e ter ido ao banheiro várias vezes. A minha ideia é não sucumbir a essas pequenas crises que tenho de vez em quando, especialmente quando sei que terei um compromisso logo pela manhã e que, se eu não tiver dormido bem, as coisas ficarão difíceis para mim” – confessei a eles. Pois foi eu dizer isso e dois deles começaram a me relatar suas crises frequentes envolvendo idas e mais idas ao banheiro, entre outras situações constrangedoras. Situações bem piores do que a minha.

Naquela conversa, eu ratifiquei as conclusões a que havia chegado após escrever o texto de que falei: praticamente todo mundo vai desenvolvendo pequenas ou grandes síndromes do pânico ao longo da vida, que vão se agravando na medida em que a idade vai chegando. Muitas delas acabam atingindo o sistema digestivo. A pessoa desenvolve medo de alguma situação. Quando pensa naquilo, o medo de passar mal acaba levando a pessoa a passar mal. Começa com um pensamento simples, uma sementinha maligna dentro da cabeça. Aquele pensamento vai crescendo, crescendo, você começa a ter taquicardia, vem aquele “suor frio” e, para alguns, náuseas ou intestino solto. Os medos que geram esse círculo vicioso são de origens variadas. Pode ser uma reunião de trabalho, uma palestra que se tem que dar, uma viagem de avião, uma situação em que não se poderá ir ao banheiro se for necessário etc. Na maioria dos casos, o medo de ter algum problema durante aquele evento futuro dispara uma crise de ansiedade e a pessoa passa mal efetivamente.

Isso já aconteceu comigo várias vezes, a ponto de, há alguns anos, eu procurar um psicólogo. No meu caso, os problemas tiveram início depois de um ano em que, efetivamente, eu tive problemas de saúde no âmbito gastrointestinal. O receio de que os momentos angustiantes que eu passei naquele ano se repetissem fez com que minha mente desenvolvesse um pânico prévio. Mesmo que eu estivesse bem de saúde, se vislumbrasse algo no futuro próximo que me colocasse em uma situação complicada, como as que me torturaram quando eu não estava bem, começava em mim um processo horrível em que pensamentos crescentes aceleravam os batimentos cardíacos e me levavam a noites horríveis.

Com algumas idas ao psicólogo e muito exercício de autorreflexão, eu acabei superando esse problema quase que totalmente. Hoje, quando ele volta, eu digo para mim mesmo que eu conheço aquela situação, sei que já a superei inúmeras vezes e, quase sempre, acabo abortando o processo de pânico logo no início.

Como eu, há muita gente que sofre ou já sofreu de situações semelhantes. O mais importante é não ter medo ou vergonha de falar sobre o assunto, especialmente quando se percebe, como eu disse, que problemas assim são absolutamente comuns e quase todas as pessoas sofrem de algum pânico, por mais simples que seja. Converse sobre o assunto, procure ajuda e supere esse sofrimento desnecessário.
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