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20/02/2018 às 09h24min - Atualizada em 20/02/2018 às 09h24min

Olhos assustados

ANA MARIA COELHO CARVALHO* | LEITORA DO DIÁRIO

Assisti um ótimo filme chamado "Grandes Olhos" um drama real sobre a pintora Margaret Keane, que fazia pinturas incríveis e únicas de meninas com olhos muito grandes e tristes. O filme mostra o despertar da artista e a sua luta contra o marido, na maior fraude da história da arte, pois ele se dizia autor das obras da esposa e o mundo todo acreditou.

Nem sei porque associei o filme com olhos assustados e espantados que presenciei em cenas que aconteceram na nossa viagem de final de ano. Fomos num grupo de oito pessoas visitar a filha que mora na praia de Algodões, BA. Lugar lindo, mas difícil de chegar, com estrada de terra esburacada. Como o trajeto final foi o mais difícil e na escuridão da noite,  com o motorista um pouco perdido e com medo de assalto, o grupo já chegou de olhos assustados. Na hora de dormir, o Zé, meu marido, precisava de uma tomada para ligar o aparelho que usa para respirar melhor. Encontrada a tomada, a cama não dava certo com o cortinado usado para evitar a multidão de pernilongos. Emendou-se duas camas e ele se esparramou. No dia seguinte, estava com os olhos espantados: as camas se separaram, ele caiu no chão e ficou enrolado no cortinado e nos fios do aparelho. Primeiro tombo.

Na noite seguinte, fomos comer pizza feita no forno a lenha, na pizzaria simples ao lado da casa da filha: mesas e bancos rústicos debaixo de árvores, chão de areia, velas, redes, um carinhoso cão labrador. Num mesmo banco grande cinco pessoas sentadas.  Sem nenhum aviso prévio, o banco velho e carcomido pelo tempo foi vergando devagarzinho, quebrou e todos caímos  com olhos espantados. Rimos muito, menos o netinho que estava no meu colo e caiu em prantos. Segundo tombo do Zé.

Noutro dia, quando  íamos pelo caminhozinho que chega até a praia, chegamos a uma ribanceira de areia alta. Falei para o Zé que ele não conseguiria descer por ali, que iria cair e eu não conseguiria segurá-lo. Teimoso, disse que era fácil. Escorregou de ponta cabeça, dobrando o joelho operado há pouco tempo. Olhos assustados novamente. Terceiro tombo.

Na sequência dos acontecimentos, a bomba que retira água do poço para mandar para a casa, estragou. Assim, passamos a tomar banho de canequinha, esquentando água no fogão, mas o Zé se recusou.  Preferiu usar o chuveiro do quintal do vizinho. Mas, certa noite, depois de limpinho, com uma lanterna que não iluminava muito bem, trombou num formigueiro numa árvore. Formiga entrou pelos "zóio, zoréia e zovido". Não foi tombo, mas foi pior. Olhos assustados outra vez. Penso que ele não volta na Bahia tão cedo...

Outras cenas que causaram espanto aconteceram na ceia de Natal. Moro no terceiro andar e resolvi fazer a ceia de Natal no décimo terceiro andar, no salão de festas. Fiquei presa no elevador duas vezes, uma delas com o Papai Noel. Um amigo vestiu a roupa calorenta do bom velhinho no meu apartamento. Colocou a barba, a peruca, o bigode, a touca, um travesseiro na barriga, encheu o saco com os presentes e tomamos o elevador. Ele emperrou entre o sexto e o sétimo andar. O Papai Noel suava em bicas. Falei pra ele tirar a roupa, mas não quis. Com os olhos assustados, ficamos presos uns bons minutos. Depois, foi a vez de uma moça que me auxiliava. Ela subia e descia o elevador sem parar (eu também). Levamos o filé ao molho madeira, ele acabou e ela não chegava com o chester com farofa e abacaxi, uma delícia. Claro, estava presa no elevador. Depois de meia hora, chegou com olhos assustados carregando a bandeja. Sem contar que levou uma mordida (não machucou) da minha cachorrinha york que estava com filhotinhos. Penso que ela não volta mais a me ajudar e que terei que trocar de Papai Noel...

Penso também que muitos não acreditarão em tantas confusões. No caso da pintora, o mundo todo acreditou no marido mentiroso e ela precisou ir a um tribunal para provar que os quadros eram seus. No meu caso, tudo o que contei é a mais pura expressão da verdade.
(*) Bióloga
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