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23/08/2022 às 09h45min - Atualizada em 23/08/2022 às 09h45min

Empreendimento ameaça cerca de 200 espécies de aves em área do Córrego Mogi, em Uberlândia

Incorporadora já iniciou o desmatamento de área de preservação e de cerrado, que conta com cerca de 3,2 mil árvores

SÍLVIO AZEVEDO | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Cerca de 3,2 mil árvores serão retiradas para a construção de 800 apartamentos | Foto: Sílvio Azevedo

A construção de um empreendimento imobiliário próximo à nascente do Córrego Mogi, em Uberlândia, ameaça cerca de 200 espécies de aves que vivem na Área de Preservação Permanente (APP) da região. Imagens cedidas por moradores dos bairros Itapema Sul e Jardim Botânico ao Diário de Uberlândia mostram que a incorporadora responsável pela construção já iniciou o desmatamento da área, que conta com cerca de 3,2 mil árvores típicas do cerrado. 

Mesmo após várias tentativas de intervenções da população e de entidades ambientais, o projeto para a construção do empreendimento foi aprovado pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente (Codema) em dezembro do ano passado. No local, serão construídos 800 apartamentos. 

Segundo o diretor de sustentabilidade da Associação para a Gestão Socioambiental do Triângulo Mineiro (Angá), Gustavo Malacco, a destruição da área trará prejuízos para a fauna e flora do local, que é habitada por aves como mutum-de-penacho e espécies da flora como o palmito-juçara, além do pequizeiro, buriti e ipês-amarelos, que são protegidos pela legislação ambiental municipal.

“Para ter uma ideia, só de aves, são quase 200 espécies de aves entre a APP do Mogi e o cerrado. E algumas ameaçadas, como o mutum-de-penacho, que depende de áreas que tenham árvores frutíferas do cerrado, e outras espécies associados ao cerrado que vivem naquela área”, alertou Gustavo.

Além disso, Malacco defende que a área de cerrado garante que o clima da região seja mais ameno, além de reduzir problemas de enchentes na zona sul da cidade. “Hoje não temos enchentes nessa região do córrego Mogi  por conta da existência dessa área verde que tem de cerrado e das áreas de preservação permanente (APPs). Quando tirar o cerrado, a água não vai percolar, vai em direção com muita velocidade. Então, isso é um absurdo perder uma área com capacidade de suporte para ajudar a cidade”.

Morador do Itapema Sul, o professor Alex da Silva Ferreira, de 51 anos, já está preocupado com os impactos que o empreendimento trará à região. “O bairro não tem estrutura. A Zona Sul tem problemas de saneamento, inclusive, tanto que atualmente está bloqueado o lançamento de novos condomínios pois a rede de esgoto não comporta. Apenas aqueles que tinham sido aprovados anteriormente”.

Entre os problemas apontados por Alex está o aumento da temperatura com o desmatamento e o fluxo de pessoas e veículos com a chegada dos moradores dos novos apartamentos que serão construídos. 

“Além da redução da mata, terá aumento na emissão de gases, com aumento no fluxo de carros e novos moradores”, disse.



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PARQUE MOGI
Em abril deste ano, o Ministério Público Estadual (MPE) propôs à Prefeitura de Uberlândia a
criação de um parque na extensão do Córrego Mogi. O promotor de Justiça de Defesa do Meio Ambiente e autor da proposta, Breno Lintz, se reuniu com o prefeito Odelmo Leão para apresentar o projeto, mas o Executivo ainda não deu retorno ao MPE.

Breno Lintz afirmou que vê a situação do Mogi com tristeza e disse que a Prefeitura poderia ter agido em favor da área, com a troca de áreas públicas em forma de compensação. O promotor também criticou a atuação do Codema.

“Infelizmente o MPE não participa do Codema. Eu só soube do empreendimento quando ele já estava autorizado. Uma vergonha criada no governo passado e não consertada no atual. O Codema autoriza tudo que se trata de um grande empreendimento. Nunca vi ser negada a implantação de um grande empreendimento. A representatividade existente dentro do Codema foi feita justamente para o poder econômico dominar”, disse Lintz.

O promotor disse ainda que a incorporadora repassa informações sobre as ações ambientais tomadas no local. “A empresa está fazendo o acompanhamento com biólogo e veterinário acompanhando a retirada das árvores. Essa deliberação foi tomada pelo incorporador, não pelos donos do imóvel ou pela Prefeitura”, informou.

A reportagem entrou em contato com o Município para saber sobre a fiscalização da obra no cerrado do Mogi. Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Serviços Urbanos informou que o setor de fiscalização da pasta atua de forma rotineira e permanente e adota todas as providências cabíveis sempre que há indícios de descumprimento e desconformidade com as leis ambientais vigentes. Em relação às condicionantes aprovadas pelo Codema, o Município reforçou que elas estão em andamento dentro dos prazos estabelecidos.

Em relação à criação de um Parque Municipal, a Prefeitura não respondeu ao questionamento até a publicação desta matéria.


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