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05/08/2020 às 11h46min - Atualizada em 05/08/2020 às 11h46min

Pacientes graves sofrem com falta de leitos de UTI em Uberlândia

Doentes com patologias distintas de Covid-19 enfrentam dificuldade para conseguir vagas na rede pública; um deles faleceu nesta terça-feira (4) na fila de espera

DHIEGO BORGES
Município criou novos leitos de UTI para priorizar atendimentos de Covid-19 | Foto: Divulgação/PMU
“Existe leito para a Covid, mas não para as demais doenças?” O questionamento, feito pela bancária aposentada Simone Freitas, de 55 anos, é um desabafo de uma filha desesperada para salvar a mãe, que há uma semana está internada em uma Unidade de Atendimento Integrado (UAI) do bairro Roosevelt, em Uberlândia, em estado grave e com risco de morte, segundo o laudo médico, aguardando por um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). 
 
Com problemas cardíacos, a cabeleireira Djanira Maria Ferreira e Silva, de 77 anos, precisou ser internada na última semana devido ao agravamento do quadro de saúde e dificuldade para respirar. Foram realizados testes de Covid, ambos negativos, mas a paciente foi entubada por conta de outras complicações.

Entre elas, uma contaminação por conta de uma bactéria. Segundo Simone, a mãe também teve o funcionamento dos rins prejudicado e necessita de hemodiálise urgente, mas não consegue leito na rede pública. Nesta segunda-feira (3), a filha procurou o Ministério Público Federal (MPF) para tentar uma transferência para a mãe na Justiça. “Na UAI eles não têm os recursos de que ela precisa e o quadro dela é muito crítico. Se demorar muito, eu vou perder minha mãe porque não tem leito na cidade”, conta.

No fim da tarde desta terça (4), Simone informou à reportagem que a mãe ainda aguarda pela vaga e que o irmão esteve na unidade de saúde e disse uma pessoa com suspeita de Covid-19 foi colocada no mesmo ambiente em que a paciente se encontra. A família também foi informada de que, caso dona Djanira seja diagnosticada com o coronavírus, deve ser transferida para hospital Santa Catarina.

Enquanto dona Djanira luta pela vida, o mecânico Leonidas Batista de Jesus tenta superar a perda do pai, que faleceu na manhã desta terça (4) na UAI Planalto, também à espera de um leito de UTI. Vander Batista, de 65 anos, lutava contra um câncer no estômago e procurou a unidade de saúde na última quarta-feira (29) com mal estar pós-tratamento de quimioterapia.

Segundo o filho, ele foi atendimento e recebeu alta no dia seguinte, mas passou mal novamente e teve que retornar à unidade no mesmo dia. Leonidas questiona o atendimento realizado na UAI e disse que uma das médicas quis colocar o pai próximo a pacientes diagnosticados com coronavírus.

“Depois que eu briguei, colocaram ele em um lugar reservado. Falei para os médicos que meu pai precisava de oxigênio, e que estava com a imunidade baixa por conta do tratamento do câncer. Me senti desamparado”, destacou.

Na sexta (31), Leonidas procurou o Ministério Público Estadual (MPE) para tentar a transferência do pai para uma UTI, devido a gravidade do caso. Infelizmente, a decisão não saiu a tempo. O filho, que também tem acompanhado a mãe, também paciente com câncer, nas unidades de atendimento questiona a abordagem médica.

“Tudo que você chega na UAI, eles dizem que é Covid. Se a gente não brigar, a gente não consegue ser atendido, então é um desgaste muito grande. Minha mãe está em fase de cuidados paliativos, mas também teve que ficar isolada”, conta. 
 
ATENDIMENTOS AMBULATORIAIS
Dona Djanira é uma das pacientes crônicas que ficaram sem acompanhamento na rede pública nos últimos quatro meses por conta da suspensão dos atendimentos ambulatoriais da rede municipal.

De acordo com a filha Simone, no fim março a consulta que ela tinha na rede pública para acompanhamento, agendada para 29 de março, foi cancelada e não mais remarcada até então. Para tentar contornar o problema, a família arcou com consultas e exames na rede particular. “Já fizemos até cintilografia que pagamos pela rede particular e consultas em clínicas privadas”, destaca.

O caso de dona Djanira foi uma das inúmeras situações que chegaram para a presidente do Conselho Distrital do Setor Oeste, Tânia Lúcia dos Santos, que tem acompanhado e intermediado as situações mais graves e levado ao Ministério Público. Segundo a conselheira, a sobrecarga de leitos de UTI e a suspensão dos atendimentos ambulatoriais na cidade por conta da Covid-19 têm prejudicado pacientes que necessitam de atenção por conta de outras patologias.
 
“Essa paciente já usa ponte de safena há cinco anos e tinha procedimento agendado em março, cancelado devido à pandemia. Infelizmente, agora chegou nessa situação agravada pelo fato de não ter tido o acompanhamento durante os últimos meses. Temos observado que os pacientes com Covid têm tido facilidade para conseguir leitos e os não Covid não estão”.

Além dos pacientes cardíacos, a conselheira também aponta que tem recebido constantemente solicitações de diversas naturezas e que estão desassistidos. “Praticamente todos os dias recebo demandas de pacientes com câncer, cardíacos e com outras complicações. Também há casos de pessoas que ficaram internadas com depressão, por exemplo, sendo tratadas com suspeita de Covid-19. Esses pacientes acabam ocupando leitos indevidamente”, conta.

Há três semanas, a Prefeitura anunciou a retomada dos atendimentos e consultas com especialistas de forma gradativa. Mas, segundo a presidente do Conselho Distrital do Setor Oeste, há pacientes procurando ajuda por não conseguirem atendimento ao procurarem as unidades de saúde. “Ontem mesmo uma paciente com crise de ansiedade me procurou por que esteve na UAI Pampulha e eles informaram que as consultas não estavam sendo agendadas”.

Na última semana, o Diário de Uberlândia mostrou a situação da saúde na rede municipal e a sobrecarga por conta da falta de leitos e profissionais afastados por suspeita de Covid-19. Em entrevista à reportagem, o procurador Cléber Eustáquio Neves revelou uma preocupação do Ministério Público Federal com a retomada dos atendimentos ambulatoriais para continuar atendendo pacientes com outras patologias.

No mês passado, o MPF recomendou que a Prefeitura de Uberlândia e o Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU) apresentassem um cronograma para retomada de cirurgias eletivas e atendimentos ambulatoriais na rede pública, suspensos desde março após determinação do Comitê Municipal de Enfrentamento à Covid-19. Os ofícios atenderam a um pedido feito por três membros de Conselhos Distritais que integram o Conselho Municipal de Saúde da cidade.
 
POSICIONAMENTO DO MUNICÍPIO
O Diário de Uberlândia procurou a Prefeitura para saber sobre os procedimentos adotados e a situação dos pacientes citados na matéria. Em relação à dona Djanira, o Município esclareceu que desde o acolhimento da paciente na UAI do bairro Roosevelt, o Município tem buscado viabilizar a transferência para o Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU) ou Hospital Municipal. 
 
Disse também que a Secretaria Municipal de Saúde reforça que a junta médica da Central de Regulação segue critérios e classificação mundial de acordo com gravidade e prognóstico de cada paciente. Em relação à consulta médica com especialista, a secretaria informou que já iniciou a retomada dos agendamentos, que estavam suspensos devido à situação de pandemia do novo coronavírus, e que neste período as equipes das unidades básicas de saúde mantiveram os atendimentos seguindo todas as recomendações do Ministério da Saúde.

Em relação à morte de Vander Batista, a Prefeitura também disse que desde a entrada do paciente na UAI do bairro Planalto realizou uma busca permanente para viabilizar a transferência para o HC-UFU, “uma vez que o paciente necessita de atendimento de alta complexidade.
 
Por fim, a Secretaria de Saúde informou que os pacientes internados e com suspeita de diagnóstico para Covid-19 estão em um setor isolado em unidades de saúde.


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