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18/06/2020 às 15h45min - Atualizada em 18/06/2020 às 16h19min

Trabalhadores denunciam locais que não seguem medidas preventivas em Uberlândia

Diário recebeu reclamações sobre organizações que não cumprem ações e colocam em risco saúde dos funcionários durante a pandemia do novo coronavírus

BRUNA MERLIN
Agente da Settran alega que viaturas compartilhadas não são limpas há meses e que há casos positivos no departamento | Foto: Arquivo Pessoal
O Diário de Uberlândia recebeu nos últimos dias, pelas redes sociais, diversas denúncias de trabalhadores que estão atuando sem as medidas de proteção adequadas para impedir a contaminação do novo coronavírus. Alguns relatos indicam que o ambiente corporativo não conta com as medidas de segurança e higienização, mesmo com casos confirmados, colocando em risco a saúde dos demais funcionários.

O agente de trânsito Márcio Garcia Oliveira, de 46 anos, procurou a reportagem para relatar situações irregulares que presenciou na Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (Settran). Segundo ele, quatro funcionários do local já testaram positivo para a Covid-19.

Ainda de acordo com Oliveira, o seu colega de viatura foi contaminado pela doença e não apresentava nenhum sintoma da enfermidade. “Nós fomos escalonados para trabalhar naquele mutirão de testes por drive-thru que a Prefeitura ofereceu em frente ao Centro Administrativo. Após o trabalho, tivemos a oportunidade de fazer o teste também e o dele deu positivo. O meu deu negativo, mas tive contato com ele já que atuamos juntos”, detalhou.

A falta de higienização das viaturas também foi notada pelo agente. Ele explica que um veículo pode ser compartilhado por até oito servidores no decorrer das trocas de turnos e que, após a alteração de equipe, os carros não são devidamente limpos. 

 “Já tem meses que as viaturas não são limpas. Também compartilhamos o vestiário que é pequeno e não existe nenhuma orientação para evitar aglomeração no local. Não existe fiscalização”, ressaltou.

Márcio contou ainda que dois funcionários apresentaram sintomas semelhantes à Covid-19, realizaram o teste que deu positivo para a contaminação e foram afastados somente por três dias. Além disso, os servidores que tiveram contato com os infectados não passaram por exames.

“Agentes que têm diabetes e pressão alta continuam atuando nas ruas correndo risco de pegar o coronavírus e ter uma complicação de saúde maior. Os guichês de atendimento ao público não possuem barreiras de proteção ou distanciamento e isso é um problema muito grave”, complementou Oliveira.

Por fim, o funcionário público ressaltou que algumas medidas de segurança, como a disponibilização de álcool em gel e máscaras aos servidores, foram implantadas somente no fim de maio. Os funcionários chegaram a protocolar várias solicitações à Secretaria para reforçar as orientações e higienização e já até encaminharam uma reclamação ao Ministério Público do Trabalho (MPT).


Funcionários chegaram a protocolar várias solicitações à Secretaria para reforçar as orientações e higienização, mas sem retorno | Foto: Arquivo Pessoal

MEDO
Uma esteticista, que preferiu não se identificar, informou ao Diário que o namorado trabalha em um açougue, localizado no bairro Martins, onde a proprietária testou positivo para a Covid-19. A denunciante que está no grupo de risco relatou sobre o medo de contrair a doença já que mora com o companheiro que teve contato com a paciente. 

“Sou hipertensa, diabética e passei recentemente por uma cirurgia cardíaca. Impossível não ficar preocupada com essa situação”, frisou ela.

A moradora de Uberlândia contou ainda que a dona do estabelecimento anunciou o resultado do teste no dia 4 de junho. Ela disse que os funcionários não poderiam realizar o exame porque os laboratórios particulares e o Município não permitiam a realização do mesmo se a pessoa não apresentasse sintomas.

Após a notícia da contaminação da proprietária, o local foi fechado por sete dias e, na última segunda-feira (15), os funcionários voltaram a trabalhar normalmente. Segundo a esteticista, os empregados retornaram sem realizar o teste e eles mesmos que fizeram a higienização do açougue. 

“Ela ficava dizendo que se alguém apresentasse algum sintoma era pra procurar a unidade de saúde, mas e se a pessoa for assintomática? Eu a pressionei e eles realizaram o teste hoje [quarta-feira], ou seja, 14 dias depois. Em todo esse período, quantas pessoas esses funcionários tiveram contato e provavelmente contaminaram elas? É desesperador”, concluiu. 

BRF
A empresa do setor alimentício, BRF, que conta com duas unidades em Uberlândia também é alvo de reclamações e denúncias dos leitores do Diário. O jornal já recebeu diversas informações de que a empresa teria um número alto de funcionários infectados pelo coronavírus e que as medidas de prevenção não foram intensificadas.

A reportagem procurou a BRF e solicitou um esclarecimento sobre os relatos. Por meio de nota, a multinacional informou que aumentou no início do mês a testagem proativa de seus colaboradores, expandindo a utilização de testes em casos assintomáticos, protocolo adotado nas operações da companhia no Brasil, e sendo Uberlândia uma das primeiras unidades a receber este modelo. 

A companhia garantiu também que os colaboradores que testam positivo para Covid-19 são afastados imediatamente de suas funções, recebem o tratamento adequado e são acompanhados pela área de Saúde Ocupacional da empresa até sua total recuperação. As famílias dos infectados também são assistidas e orientadas sobre os devidos cuidados durante o tratamento. 

“Essa ação soma-se às medidas que já estavam sendo adotadas pela Companhia, que reforçam o nosso compromisso com todas as pessoas envolvidas em nossa cadeia produtiva. A BRF reafirma que vem cumprindo os protocolos indicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e Ministério da Saúde e mantendo amplo diálogo com os mais diversos níveis de autoridades e entidades dos municípios onde estamos presentes”, diz a nota.

O número de trabalhadores afastados em razão da enfermidade não foi informado pela empresa. 

Dificuldade para denunciar
A Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) de Uberlândia é responsável por fiscalizar os estabelecimentos da cidade durante a pandemia do coronavírus. O órgão recebe denúncias da população, através do Zap da Prefeitura, e monitora empresas que possam estar descumprindo as normas de funcionamento e segurança.

O Diário de Uberlândia também recebeu diversas reclamações sobre o atendimento e a efetividade da Superintendência em receber as denúncias. Em alguns casos, as pessoas alegam que, mesmo denunciando as irregularidades de estabelecimentos por diversas vezes, nada foi feito até o momento. 

O mesmo problema foi enfrentado pelo agente de trânsito e a esteticista citada na reportagem. Eles disseram que já tentaram solicitar a fiscalização e orientação do Procon ao açougue e ao prédio da Settran, mas não obtiveram sucesso. 

 
“Tentei contato com todos os canais de denúncia que a Prefeitura disponibilizou, mas não consegui atendimento em nenhum e a situação continua a mesma no local onde meu namorado trabalha”, detalhou a profissional de estética.

SEM RESPOSTAS
O Diário entrou em contato com a assessoria de comunicação do Município e fez alguns questionamentos sobre os relatos que a redação do jornal recebeu nos últimos dias. 

A reportagem perguntou sobre quais são os procedimentos feitos pela Vigilância Epidemiológica (Vigep) nos casos de empresas com colaboradores contaminados, além das orientações dadas a elas e como funciona a liberação de testagem para todos os funcionários. 

Em relação ao serviço do Procon, foi questionado como funciona a apuração e triagem das denúncias. Além disso, foram demandadas informações como quantas denúncias já chegaram à Superintendência, quantas foram apuradas, quantas já foram resolvidas, quantos fiscais atuam nesse trabalho e se existe apoio de outros órgãos para a realização da força-tarefa.

Até a publicação, não houve nenhuma resposta.  


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