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12/03/2020 às 17h46min - Atualizada em 12/03/2020 às 22h41min

Em visita a Uberlândia, Boulos cobra respostas sobre morte de morador de ocupação

Coordenador do MTST se reuniu com promotores de Justiça que investigam assassinato na tarde desta quinta-feira (12)

CAROLINE ALEIXO
Guilherme Boulos chegou à sede do MPE acompanhado de coordenadores locais do MTST | Foto: Caroline Aleixo
O político e coordenador do Movimento Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, esteve em Uberlândia na tarde desta quinta-feira (12) e se reuniu, na sede do Ministério Público Estadual (MPE), com os promotores de Justiça que estão à frente da investigação que apura a morte de Daniquel Oliveira da Silva, de 40 anos. O homem foi assassinado no último dia 5 de março e, segundo o boletim policial, em confronto com os militares que faziam patrulhamento na região do bairro Jardim Ipanema. 

O Diário acompanhou a reunião com os representantes nacionais e locais do movimento. Na ocasião, os promotores Breno Lintz e Thiago Ferraz esclareceram sobre o andamento das investigações e da necessidade de levantar novas provas e colher depoimentos de outras testemunhas.

Até o momento, já foram ouvidos o coordenador do movimento Jairo dos Santos e os outros dois moradores que estavam no local na data do crime. Na próxima semana, serão convocados os policiais militares que atuaram na ocorrência e que são acusados, pelo movimento, de terem executado o coordenador de infraestrutura da Ocupação Fidel Castro, localizada às margens da BR-050. 

“Vim a Uberlândia para as homenagens de sétimo dia do assassinato do Daniquel, na verdade uma execução. Temos que chamar as coisas pelo nome, tiro na nuca, essa atuação da polícia como milícia. Vim aqui para dialogar com os promotores responsáveis pelo caso nossa extrema preocupação”, disse. 

Na reunião, os representantes manifestaram preocupação com os moradores locais diante à sensação de impunidade já que apenas dois dos quatro policiais que se envolveram no ocorrido permanecem detidos pela Polícia Militar (PM) e, ainda assim, em prisão administrativa para aguardar o fim do inquérito na esfera militar. 

Eles ainda afirmaram que estaria ocorrendo intimidação aos moradores sem-teto da área por parte da corporação. “Aquelas famílias que estão lá continuam sendo oprimidas, porque a polícia segue lá na porta, muitas vezes intimidando pessoas que viram as coisas, agredindo, como tem inúmeros relatos de que elas seguem sob esse pesadelo”, comentou Boulos.

Questionada pela reportagem, a PM informou que permanece realizando as atividades do policiamento ostensivo normalmente, como já eram feitas antes do fato, em todas as áreas da cidade.

Promotor Breno Lintz (ao centro) falou sobre investigação aos coordenadores do movimento social | Foto: Caroline Aleixo

Boulos alega omissão do Governo de Minas

Além de denúncia feita ao Ministério Público, o MTST também recorreu à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e à Câmara dos Deputados em Brasília no intuito de pressionar o governador Romeu Zema a se posicionar sobre o caso. 

 
“Em última instância é ele quem responde pelo caso. Aliás, estamos sentindo falta de um pedido de desculpas do governador à família do Daniquel e aos moradores da comunidade. Houve uma nota da comissão da Assembleia se posicionando de maneira contundente pela investigação e pela responsabilização dos envolvidos e a gente espera que isso seja esclarecido o mais rápido possível e os responsáveis punidos”, finalizou Guilherme.

O governo foi procurado para comentar o caso e a demanda foi repassada à chefia da PM de Minas Gerais (PMMG) que esclareceu, na tarde desta sexta (13), que no dia do fato todas as providências de Polícia Judiciária foram adotadas e instaurado inquérito policial militar para apuração detalhada dos fatos, garantido a ampla defesa e contraditório dos militares que participaram da ocorrência.

INVESTIGAÇÃO
O promotor de Defesa do Meio Ambiente, com atuação em conflitos agrários, disse que o MP já está com alguns laudos, incluindo o do Instituto Médico Legal (IML) que mostra a perfuração da bala na região da nuca de Daniquel, bem como outros sinais de ferimento pelo corpo, porém que seria muito preliminar para tratar como tortura. 

De toda forma, chamou a atenção dos promotores o fato de a cena do crime ter sido alterada. “Que houve a alteração do local dos fatos, isso existiu. Tirar o corpo do local não foi propriamente o problema, mas tiraram a arma que dizem que era dele [Daniquel]. Ela tinha que estar no local até a chegada da perícia”, disse Breno.   

Até a próxima semana serão feitas as oitivas com os policiais e outras testemunhas também deverão ser chamadas em seguida para depor.

 
Embora o movimento social e a defesa da vítima falem em execução, a PM defende que a ação ocorreu em legítima defesa. Em nota enviada na semana passada à imprensa, a corporação afirmou que os militares lotados na 9ª Companhia Independente de Policiamento Especializado realizavam uma incursão policial na região, quando depararam com três pessoas, incluindo Daniquel, próximo a um matagal. 

Os policiais então perceberam que um deles estava com uma arma e apontou em direção aos militares. “Para repelir a injusta agressão e salvaguardar a vida dos policiais militares, foram efetuados cinco disparos de arma de fogo. Ao realizarem varredura no matagal, com apoio de outras guarnições, foram localizados dois indivíduos E.C.S, 36 anos, que estava escondido e deitado em meio ao mato e que foi conduzido preso; e D.O.S, 40 anos, com sangramento na região da cabeça e com uma arma de fogo, tipo revólver, que estava ao seu lado”, diz trecho da nota. 
 
* O texto foi atualizado às 14h56 desta sexta-feira (13). 




 
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