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01/11/2019 às 08h45min - Atualizada em 01/11/2019 às 08h45min

Séries médicas podem ser muito ricas em alguns aspectos, mas a vida real ainda é mais interessante

ADREANA OLIVEIRA
A doutora Michelle Santangelo Faria | Foto: Divulgação

Uma das primeiras pautas desta revista surgiu enquanto a repórter revia a série “Grey’s Anatomy”. Em uma das temporadas, o neurologista Derek Shepard (interpretado por Patrick Dempsey) se vê diante de funções administrativas nas quais não consegue ter o mesmo controle que tem em suas mãos numa sala de cirurgia, por exemplo. Outra série acompanhada nas mesmas semanas incluía a mesma temática: “The Good Doctor”. Soma-se aí a inesquecível “House”.

Mas será que as tramas que tornam essas séries sucesso mundial refletem mesmo o dia a dia de um médico? Tem muito exagero? Tem muita licença poética? A partir desse questionamento, conversamos com três doutores para sentir um pouco como administram suas carreiras e a vida pessoal.

A conclusão é que, apesar de toda a romantização da profissão nas séries, elas são uma boa fonte de entretenimento e mostram que, além da técnica e da inovação, o fator relações humanas ainda rende muito mais drama nas telinhas. Na adolescência, antes de sonhar em ser médica, a cirurgiã plástica Michelle Santangelo assistia a “E.R.”, que foi ao ar entre 1994 e 2009. Já cursando medicina, acompanhou “Grey’s Anatomy” e “House”.

“Lembro que no ‘E.R.’ achava legal mostrarem a dinâmica no funcionamento de um hospital, captam como é tudo muito incerto, e as coisas mudavam completamente de um minuto para o outro. É tudo bem romantizado, estão no meio de um impasse e, de repente, salvaram mais uma vida. Creio que isso chama a atenção das pessoas e faz com que gostem da produção.”

Quando estava na faculdade, com “House” principalmente, percebeu como um detalhe faz toda a diferença em um diagnóstico. Isso é algo que ela aplica no dia a dia. “House não tinha o mínimo de empatia com o paciente, o que é péssimo, mas na trama seu raciocínio é fantástico. No meu ponto de vista, também a consulta começa antes mesmo de o paciente abrir a boca. Observo tudo, como ele entra no consultório, como olha, até a forma como se senta.”

Ela assistiu a muitos episódios de “Grey’s Anatomy” em que os personagens deixam tudo de lado por conta da rotina hospitalar. “Acontece mesmo. Às vezes, você precisa atender fora do horário mesmo, alterar a agenda, mas não é o tempo todo, depende da especialidade. É possível ser um bom médico e não faltar ao aniversário do filho, a uma apresentação artística, não esquecer o aniversário de casamento nem perder a festa de Natal.”

Os relatos que temos dos residentes nas séries também estão sempre ligados a toda a pressão para conseguir entrar na faculdade e se destacar. Michelle nunca sentiu essa pressão, porque cursar Medicina não estava nos seus planos.

“Na verdade, eu tinha certeza que não faria Medicina. Gosto muito do trabalho de marketing que minha mãe faz e pensei que seguiria essa área. No colegial, era hora de decidir e não tinha muitas informações sobre muitas profissões. Meu pai é engenheiro civil e até pensei que seguiria exatas, mas não gostava de matemática.”

Michelle foi bem racional. Percebeu as matérias em que se destacava e chegou a considerar Biologia, para trabalhar com genética. Na hora de avaliar as possibilidades, optou pela Medicina. “A genética ficou para trás no primeiro ano de faculdade, me apaixonei pela Medicina. Nunca me arrependi dessa escolha, sou muito realizada”.

É claro que ela precisou fazer escolhas, entre elas, deixar o lar, doce lar, em Uberlândia. Graduada pela Uniube, com residência em cirurgia geral e cirurgia plástica pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), especialização em reconstrução de mama pelo hospital Pérola Byington, ela se mudou para São Paulo, onde atende e faz mestrado em Cirurgia Translacional na Unifesp.

“A médio prazo, devo atender em Uberlândia também, já tenho muitos pedidos. Por hora, sempre volto para visitar a família.” Para ser um bom profissional, Michele afirma que é preciso ter uma boa bagagem teórica, ser um bom observador e ter empatia. “É bom ver que você faz a diferença na vida das pessoas. Tive um paciente na hebiatria – área especializada em adolescentes – que na época era muito tímido e ao longo do tratamento se transformou numa pessoa comunicativa e feliz. Ele me encontrou nas redes sociais e sempre manda notícias.”
 
VIDA REAL

Quando tem que acontecer, é melhor que nos filmes



O cardiologista Vinícius Carlesso e a dermatologista Thalita Mendonça Carlesso | Foto: Adreana Oliveira

Eles têm uma história bem improvável, parece roteiro de filme. O cardiologista Vinícius Carlesso e a dermatologista Thalita Machado Carlesso eram um casal improvável. Viviam em cidades diferentes, ele em Uberlândia (MG), e ela, em São Luís (MA). Ela fazia Direito e Dermatologia, até optar pela segunda; ele queria viver de música, é também guitarrista e vocalista e no colegial viu que a música, por hora, seria um hobby, e investiria na saúde.

“As escolhas que tomamos, os caminhos que traçamos fizeram com que a gente se encontrasse”, disse o médico. E a reportagem constatou cumplicidade na visita para as fotos da capa desta edição.

Graduado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), optou pela cardiologia e precisava fazer residência médica em clínica médica. É um posto bastante concorrido, e tanto Vinícius quanto Thalita prestaram vários concursos, no decorrer de 2013. Passaram em alguns e ambos escolheram a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) – ele, pela proximidade com Uberlândia e pela qualidade dos serviços; ela, pela referência da faculdade em dermatologia.

No primeiro ano da residência, os estágios e as aulas eram praticamente os mesmos e Vinícius não se esquece de quando a conheceu. “Em seis meses de convivência eu percebi que foi amor à primeira vista, e faz cinco anos que estamos juntos.”

As agendas, vocês podem imaginar, são apertadas, principalmente porque eles estão em constante atualização. Vinícius especializou-se em ecocardiografia, ergometria, medicina do esporte e, agora, em gestão em saúde. Thalita fez Dermatologia, especializou-se em Estética, Cosmiatria e Laser, Ticologia, Transplante Capilar e cirurgia de Restauração Capilar.

“Com a medicina 4.0, inserida na revolução tecnológica, nós nos atualizamos diariamente, e isso se dá por meio de congressos nacionais e internacionais. Uma forma de manter o relacionamento saudável é um acompanhar o outro nessas viagens, e vira trabalho e lazer”, comentou Vinícius.

No início, não foi fácil ter tempo para investir no relacionamento, porque, se isso não acontece, não há roteirista que dê jeito. Após uma temporada em São Paulo, há seis meses, eles receberam propostas de trabalho em Uberlândia e aceitaram, buscando principalmente qualidade de vida melhor.

“Fazemos de tudo para conciliar nossas rotinas, investimos na saúde do relacionamento, porque se isso não for feito, corre-se o risco de as identidades se perderem, e a gente se distanciar. E isso não queremos”, afirmou Thalita, , que chegou a acompanhar algumas temporadas de “House” e “Grey´s Anatomy”.

Mesmo na folga, não tem como manter a medicina fora de casa. “Damos conselhos um para o outro, nós nos ajudamos bastante, porque não tem como não falar de trabalho e sempre levamos trabalho pra casa. Mas também conversamos sobre outros assuntos. Ele ama música, eu amo viagens e o incentivo a manter atividades físicas”, disse a dermatologista. Com tanto empenho, podemos prever que essa história seguirá em muitas temporadas!







 


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