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23/06/2019 às 08h00min - Atualizada em 23/06/2019 às 08h00min

Ator Ricardo Pavão quer devolver a Uberlândia um pouco do quem tem conquistado

Diário de Uberlândia conversou com o uberlandense sobre a carreira e a família

ADREANA OLIVEIRA
Ricardo Pavão em frente a uma das obras da mãe, dona Vânia Reis e Silva | Foto: Adreana Oliveira
Ao entrar no apartamento no 10º andar do condomínio no centro de Uberlândia a sensação é de aconchego e acolhimento. As paredes das duas salas são embelezadas por quadros da matriarca da família, a artista plástica Vânia Reis e Silva, e os móveis tradicionais e de bom gosto dão aquele jeitinho de “casa de vó”. A repórter não precisou nem bater a campainha. Ao sair do elevador a porta já estava aberta e um sorridente Ricardo Pavão a aguardava com um caloroso abraço, típico do uberlandense que não perdeu a mineiridade mesmo tendo viajado muito e morado por décadas longe da cidade natal.

“Meu pai (Otto Reis e Silva) era piloto da FAB (Força Aérea Brasileira), foi herói da Segunda Guerra inclusive e por conta disso nos mudávamos frequentemente a cada dois ou quatro anos. Então, nasci aqui e quando eu tinha quatro anos fomos para outra cidade”, recorda o ator, que na entrevista é acompanhado pela mãe e pela irmã, a bióloga, cientista e dramaturga infantil Vivian Fonseca.

Vivian morou no Rio de Janeiro e decidiu voltar para Uberlândia há 30 anos. Na época, o pai e minha mãe, vieram atrás dela e dos netos e a partir daí todo Natal a gente passa aqui. A família é grande e tradicional, faz parte da história da cidade.

“A família Porto chegou aqui quando a cidade estava deixando de ser a São Pedro de Uberabinha. Meus tios fundaram o tradicional colégio Liceu de Uberlândia. Eles foram meio que nossos avós. Meu pai, que era de Pernambuco, ficou órfão cedo de pai e mãe e esses tios o trouxeram pra cá para terminar sua educação”, contou Vivian.

Naquela época de crescimento da cidade, dona Vânia veio com a mãe, que abriu o primeiro posto de saúde de Uberlândia após passar em um concurso de enfermagem. “Naquela época tínhamos uma médica, e mulher na família. Até então vinham os doutores a cada 15 dias para atender a região”, recordam os orgulhosos netos de dona Maria Pirotelli. “Ela colocou muita criança no mundo, muitas delas ainda vivas, esses dias mesmo encontrei um senhorzinho que se recordava dela”, disse Vivian.

Listadas no badalado Wikipedia, tem 52 novelas, mas Ricardo Pavão atuou em mais de 70 novelas, o site não cita as novelas da TV Manchete e da Bandeirantes. “Em TV no Brasil só não trabalhei no SBT, gostaria muito de trabalhar”, afirmou.

Na TV ele começou fazendo figuração fixa em “Irmãos Coragem”. Na segunda temporada foi “promovido” a dono do bar. “Foi maravilhosa essa gravação numa época em que a televisão era quase ao vivo. Tinha muita briga nesse bar e muita gente se machucava de verdade nas gravações, foram muitas confusões assim”.

Ele comenta sobre as mudanças no audiovisual e na TV principalmente, o fim dos contratos longos com a Globo, por exemplo, e plataformas como a Netflix. “Hoje em dia tem muita gente que diz que sai, mas sempre volta, é como uma manobra para valorizar ao passe. Acho que o único que não fez isso foi o Wagner Moura”, disse ele, sobre o ator com quem contracenou em “Tropa de Elite 2”. Até o Selton Mello vai voltar depois de quase 20 anos. “Ele estreou comigo em ‘Pedra Sobre Pedra’, em 1996, é um grande talento que temos, assim como o Moura”.

Mas foi é de um talento uberlandense que Ricardo Pavão mais se orgulha de ter contracenado: Grande Otelo. “Eu fico todo arrepiado só em falar nele. Gravei com Grande Otelo na TV Educativa. Eu fazia o motorista de bonde ele cantava ‘seu conduto, tim tim’, e eu dizia ‘o que’, ‘vai buscar o meu amor’”.

Para o ator, que no cinema também atuou em “De pernas pro ar”, o cenário audiovisual está bem confuso no momento por questões ideológicas. “Toda obra de arte pode ser contextualizada, mas muitas vezes está mal contextualizada. Se é pra divertir, vamos pensar em termos de diversão. Há também obras que servem para divertir e elucidar, o que pra mim é a principal função da arte”.

DELEGADOS
Os delegados são os personagens que mais interpretou: 27. “Nunca fiz delegado não bonzinho, mas do bem, durões e até matadores. Nunca fui corrupto. Mas, sabe de uma coisa, falta fazer um delegado mineirinho, de fala macia, bem caipira. Adoraria! Já propus mas ainda não consegui, mas ainda há tempo”.

ARTISTA ARTEIRO
Artistas são comuns na família de Ricardo Pavão e estão por aís, espalhados pelo Brasil. Por isso o contato com a arte veio desde cedo. “Eu já era arteiro, quebrei o braço por nove vezes em nove anos”, entregou. “Eu trabalhava no Liceu e ele sempre era candidato para participar do teatrinho. Cantava, tocava violão”, recorda dona Vânia. “É mesmo, cantei ‘Oh, Suzana’, não me lembrava disso...foi a primeira vez que subi no palco. Depois ainda dancei uma valsa vestido de summer jacket”. O Liceu funcionava na rua Coronel Antônio Alves Pereira, no Centro, em frente ao antigo Fórum, onde hoje há um estacionamento. “Havia domingueiras ótimas lá, a cidade inteira vinha. A nossa orquestra foi convidada a tocar até no Rio de janeiro”, disse dona Vânia que está trabalhando em um livro e em uma nova exposição.

Portanto, educação e arte sempre andaram juntas dentro dessa família e ao conversar com eles parece que nas últimas décadas muito dessa arte na educação se perdeu. “É uma pena, eu estudei canto orfeônico por causa do maestro Heitor Villa Lobos (1887-1959). Getúlio Vargas só conseguiu o apoio dele porque colocou o ensino da música dentro das escolas”, disse Pavão, que na época morava em Guartinguetá (SP), onde fez sua primeira apresentação não familiar. “Solava ‘Granada’, ganhamos um prêmio e não sei como fui parar, sozinho, naquele cinema no dia da apresentação. Tinha uns 8 ou 9 anos, era moleque”.

Naquela época era tranquilo para uma criança na idade dele sair pelas ruas, viver a arte, as brincadeiras da rua. Pavão morou em muitos lugares e não se lembra de cortar as unhas dos pés. “Ficava descalço o dia inteiro na rua, dava topadas na rua o tempo inteiro. Hoje é tudo mais enjaulado e mais ladrilhado. Criança não chuta mais bola”.

Alguns professores marcaram a vida do artista, como dona Áurea, da 5ª série em Recife (PE). “Ela parecia a personagem Dona Benta, só que negra, a melhor professora que tive na minha adolescência”.

A riqueza e necessidade dos diálogos dentro de casa


Vivian Fonseca, Ricardo Pavão e Vânia Reis e Silva | Foto: Adreana Oliveira

"Está nos meus planos um curso de atuação para crianças e jovens de Uberlândia que será gratuito. Já estou conversando sobre isso com a secretária de Cultura, a Mônica Debs, uma pessoa que admiro muito. Recebi tanto da cidade, e chegou a hora de retribuir um pouco”, disse Ricardo Pavão. Outra figura da área do teatro que ele admira na cidade é Yaska Antunes, professora do Instituto de Artes da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

Em sua família nunca existiu assunto proibido, sempre conversavam muito sobre tudo. “Somos uma família de curioso”, diz Pavão que em 1980 fundou o grupo de Teatro Tá na Rua, no Rio de Janeiro, junto com Amir Haddad. O grupo chegou a vir a Uberlândia nos anos 2000, dentro do projeto KAAOS, idealizado pro Yaska. “O grupo está na ativa e firme. Fomos os primeiros artistas de teatro na rua com formação burguesa. Participava de passeatas como a ‘Marcha dos 100 mil’, ao lado da irmã. “Eu cheguei a ter coleção de latas de gás lacrimogênio em casa. Cheguei a ser preso, passei por momentos ruins que minha mãe nem sabe, tive arma apontada para a minha cara”, disse o ator.

Hoje em dia, ele vê que a família está perdida sem saber qual é o seu papel. “A internet, por exemplo, une ela estraçalha a família. É a informação desbaratada e sem responsabilidade. Tudo tem seu lado bom e ruim. Não sou a favor do controle da internet, mas da responsabilização pela informação ali divulgada. Não sei como dizer como fazer isso, mas sei que é necessário”.

Pavão tem licenciatura em Música e percebe, como educador, que as famílias não são mais aquelas do comercial de margarina. “Passava por escolas onde no Morro da Mangueira, por exemplo, em evento do Dia dos Pais em que a maioria não estava presente. A família era a mãe, avó, e criança cada um de um pai. A escola continua tradicional quando a família não é mais tradicional, e isso existe em todas as classes sociais”.

“PÃE”

O principal motivo de Ricardo Pavão ter voltado para Uberlândia é o filho Otto, de 7 anos. Encerramos a entrevista a tempo de Pavão pegá-lo para mais uma de suas atividades. “Ele é um garoto incrível e sou ‘pãe’, faço papel de pai e mãe pra ele. O Otto, que é Down, tem ótimos profissionais que trabalham com ele e aqui e em Uberlândia em 15 minutos você chega a qualquer lugar. Não conseguiria, no Rio de Janeiro, dar a qualidade de vida que ele tem aqui”, explicou ele.

Pavão também é pai de Manuela, advogada de 25 anos. “Tenho muito orgulho dela, nunca me deu problema, nem quando era adolescente, não sei se isso é bom ou ruim”, brincou. A advogada foi durante muitos anos atleta federada de basquete do Botafogo, chegou a ser convidada para estudar e jogar por uma universidade nos Estados Unidos, mas recusou para fazer Direito na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.


 
Pigmaleão (Ricardo Falcão) despediu-se de “Jezabel” em grande estilo | Foto: Edu Moraes/Record/Divulgação

Na última sexta-feira (21) foi ao ar a última cena de Pigmaleão, personagem de Ricardo Falcãom em “Jezabel”, novela bíblica da Record das 20h45. O personagem, fiel à rainha fenícia Jezabel e a Baal, entra na trama num plano político para construir os templos e fazer o trabalho missionário de trazer o povo para os felícios naquela que seria Israel.

A morte de Pigmaleão se dá na luta por Monte Carmelo, um episódio bíblico real. Segundo o ator, a despedida de Pigmaleão foi um dos grandes acontecimentos da novela. “Ele merecia morrer mesmo, é uma pessoa horrorosa, péssima. Ele é uma criação da autora, Cristianne (Fridman). Não há provas de que ele tenha exigido mas há provas de que há vestígios no norte da África dos cultos a Baal, li e assisti filmes sobre isso”.

Ele viajou neste ano duas vezes para o Marrocos, em janeiro e maio, onde ficou com a equipe de gravação por 25 dias em cada uma das viagens. “Foi uma experiência incrível. A Record nos tratou muito bem, ficamos em hotel cinco estrelas mas as gravações no deserto eram desgastantes. A temperatura variava de 0 a 35 graus...chegava a sangrar olho, ouvido nariz...ainda me machuquei feio... quebrei o cóccix, desloquei o maxilar”, contou o ator. As gravações no Brasil acontecem em Paulínia, interior paulista.
 

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