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19/06/2019 às 08h00min - Atualizada em 19/06/2019 às 08h00min

Uma conversa franca com Márcio Di Freitas

Tenor uberlandense se apresenta na Casa da Cultura e não esconde seu desejo de deixar o país

ADREANA OLIVEIRA
Para Di Freitas, passamos por um período de completo analfabetismo cultural | Foto: Divulgação
Foram pouco mais de 17 anos dedicados aos estudos para se tornar o cantor que é hoje. São muitas técnicas a serem aprimoradas, muitas horas de dedicação e um desejo incontestável de não só sobreviver, mas viver por sua arte. A trajetória do tenor uberlandense Márcio Di Freitas, que apresenta o recital “Ópera para todos” na noite desta quarta-feira (19), na Casa da Cultura, é tão bonita quanto também um pouco amarga.

“Estou fazendo um recital para apresentar boa música para as pessoas, belas canções que têm e são parte de nossa história. E faço isso sem cobrar ingresso porque por aqui, ninguém paga para ver um tenor cantar. Pagariam se fosse um tecnobrega, funk, ou qualquer outro estilo com valor cultural questionável, mas entretêm”, disse o músico, em entrevista ao Diário de Uberlândia.

O recital é um pedido dos amigos, que sentem falta de vê-lo mais em ação na cidade natal. Talento descoberto pela maestrina e fundadora do Coral da UFU, Edmar Ferretti, que era professora da mãe do tenor, ganhou dela o primeiro apoio na hora de buscar um lugar no canto lírico. Por intermédio dela, chegou a São Paulo, onde foi recebido pelo maestro Augustino Zaccaro (1948-2003), conhecido como O Italianíssimo. Foi estudar na Escola de Belas Artes de Curitiba, onde obteve o diploma de bacharelado em música e foi pupilo de dois grandes nomes da música erudita brasileira, Neyde Thomas (1929-2011) in memorian) e do barítono Rio Novello, dos quais se tornou pupilo em Curitiba-PR.

No Brasil com o apoio dos maestros Flávio Santos, Joaquim do Espírito Santo e Joaquim Jayme, da Orquestra Sinfônica de Goiânia, resolveu ir para a Itália aceitando um convite para o 14º Festival de Canto Lírico de Orvieto, no qual se destacou e na cidade de Genova foi comparado pela mídia local ao grande tenor Mario Lanza. Di Freitas se ressente por poucos em seu país saberem quem foi o tenor norte-americano, morto em 1959, que estrelou óperas como “Madame Butterlfy”. “Vivemos um momento de inquestionável analfabetismo cultural. Um arquiteto, um advogado, para exercerem a profissão precisa de um diploma. Em artes como a música, por exemplo, quem se dedica e estuda perde espaço para quem não saber o que é um compasso sequer”.

“Foi Zaccari quem me disse uma vez algo que só consigo entender melhor agora. ‘Se for ficar no Brasil, lembre-se que culturalmente, ele é dividido em dois de São Paulo para baixo e da cerveja para cima’. As pessoas se rendem a músicas com conteúdo ofensivo principalmente para com as mulheres que nas minhas músicas são colocadas em um pedestal. Falta zelo com a língua portuguesa, o que me entristece. No sertanejo, por exemplo, não vejo uma dupla boa desde Chitãozinho & Xororó”, comentou.

Em seu repertório, Di Freitas reúne títulos de diferentes compositores e peças concebidas para personagens de óperas como Tonio (“La File du Regiment” - Donizetti), Rodolfo (“La Boheme”- Puccini), Alfredo (“La Traviata” - Verdi), entre outros.

ANSEIO
 
Entre 2008 e o final de 2010 Márcio Di Freitas viveu na Itália, onde tinha uma agenda constante de apresentações. Retornou ao país devido ao estado grave de saúde do sogro, que veio a falecer, e por causa da família permanece em Uberlândia. “Eu amo minha mulher e meus filhos. Queria muito que eles fossem comigo para lá, mas eles não querem. Minha esposa não quer deixar a mãe sozinha. Penso muito nisso, em se volto ou não para dar uma condição melhor de vida para eles. E se mudarem de ideia, embarcaremos sem pensar duas vezes”, disse o tenor.

Recentemente o tenor encantou o público que acompanhou o “Páscoa Iluminada”, no Grande Hotel Tauá de Araxá (MG), quando ele foi atração do “Cantare Lago Show”. “Me entristece ter poucas oportunidades como esta no meu país e ver que não há possibilidade de mudança tão cedo”.

Di Freitas tentou, sem sucesso, apoio do município para montar uma orquestra em Uberlândia. Com dois DVDs e um CD gravados o músico tem promovido eventos beneficentes e vê isso como prestar um serviço ao povo brasileiro: mostrar que existe música de qualidade.

Se apresentou com orquestras renomadas e sob a regência de dois grandes maestros: João Carlos Martins (Orquestra Sinfônica Bachiana Sesi/São Paulo) e Joaquim Jayme(Orquestra Sinfônica de Goiânia). Em Uberlândia, em 2015, foi convidado por Agnaldo Rayol para participar de seu show no Center Convention, cantando “Terra Nostra”.

SERVIÇO

O QUE: Recital canto e piano “Ópera para todos”
QUEM: Márcio Di Freitas
QUANDO: quarta-feira (19), às 20h
LOCAL: Casa da Cultura (Praça Coronel Carneiro, 89, Fundinho)
ENTRADA FRANCA
CLASSIFICAÇÃO
: livre
INFORMAÇÕES: 3255-8252
MAIS SOBRE O ARTISTA: marciodifreitas.com.br

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