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11/04/2019 às 13h57min - Atualizada em 11/04/2019 às 16h09min

Mitos sobre dengue geram alerta entre especialistas de Uberlândia

Eficácia de própolis e até da vacina contra doença ainda é debatida

NÚBIA MOTA
Ingestão diária de própolis não evitou que Simone de Freitas contraísse dengue novamente | Foto: Núbia Mota
Diante dos 9.978 casos de dengue registrados em Uberlândia, além das duas mortes confirmadas, a população recorre a todo tipo de artifício para ficar de fora da lista de pacientes infectados pela doença. A procura por repelentes disparou nas farmácias e tem gente apelando até mesmo para receitas caseiras na esperança de espantar o Aedes aegypti. Mas os médicos alertam: os produtos industrializados não são 100% eficazes contra o mosquito, muito menos as fórmulas que circulam pela internet. A única maneira de evitar a doença é impedir a criação dos focos dos mosquitos em casa, deixando o ambiente limpo e seco.

Após se infectar com dengue por duas vezes, em 2005 e 2008, a aposentada Simone Maria Cabral de Freitas tratou de encher a casa com recipientes cheios de vinagre e tomar própolis todos os dias, depois de ler na internet que seria bom para espantar o Aedes aegypti. Mas não deu certo.

No dia 26 do mês passado, ela foi infectada novamente e, dessa vez, ficou ainda pior do que nas duas primeiras, porque estava se tratando de uma sinusite, e o médico acredita que por ter tomado outros medicamentos, ela teve intoxicação e problemas em vários órgãos, como pulmão, coração e fígado. Com isso, ela ficou cinco dias internada.

 
“Faz oito meses que eu estou tomando própolis. Pego meio limão e misturo com dez gotas de própolis. Dizem que é ótimo para evitar a contaminação, mas não adiantou”, disse Simone.

Textos disponibilizados na rede, até mesmo por jornais conceituados, dão conta de que o própolis - uma mistura de pólen, cera e resinas coletadas pelas abelhas para fechar e proteger as colmeias de ataques - quando ingerido, exala pelo suor substâncias que repelem os insetos.

As publicações ainda orientam o tratamento quando a dengue já está instalada. Mas segundo o médico infectologista José Humberto Caetano, não há nenhuma comprovação científica de que isso realmente ocorra.

 
“Não tem nenhuma substância que a gente ingere que exala algum odor na pele suficiente para espantar o mosquito. E se a infecção ocorrer, essas sustâncias também não têm o poder de evitar que a doença progrida. Além de própolis, já ouvi falar de inhame, alho, vitamina D. Elas podem até fazer bem para outras coisas, mas não para evitar a picada ou a própria doença. Isso é um mito”, afirmou o médico.
 

Vacina ainda não é indicada para todos os casos
 O registro da primeira vacina contra a dengue no Brasil foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2015, mas até agora o produto só está disponível em clínicas particulares. Além disso, a eficácia é questionada e o preço é alto.  Uma dose da Dengvaxia
 varia de R$ 200 a R$ 350 em média.

A vacina protege contra os vírus da dengue dos tipos 1, 2, 3 e 4 e sua eficiência é maior quando aplicada em pessoas que já apresentaram algum subtipo da doença. O médico infectologista José Humberto Caetano não considera a vacina ainda segura porque há um risco de hospitalização ou de dengue grave nas pessoas infectadas pela primeira vez.
“Tem que fazer um teste antes e isso no serviço público não é muito viável. No serviço particular, caso a caso, pode até ser visto. Mas eu tenho uma expectativa que, daqui a poucos anos, vai ter uma vacina pelo SUS, que está sendo produzida aqui no Brasil, está tendo bons resultados e não tem esse problema dessa de agora. Acho que daqui 2, 3 anos, vamos ter uma vacina eficaz”, afirmou.

A vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan está na última fase de testes em seres humanos. Já a da farmacêutica MSD está na primeira etapa de ensaios clínicos, em que é avaliada em um pequeno grupo de pessoas. Recentemente, ambas assinaram um acordo de colaboração tecnológica e em pesquisa clínica.
 
Vendas de repelentes disparam nas farmácias
 
Com preço entre R$ 10,90 e R$ 39,90, é possível encontrar repelente de uso tópico de várias marcas. Tem uns que duram duas horas, outros duram quatro horas, e alguns, dez horas. Na farmácia onde Mário Tavares Júnior é gerente são vendidos entre 20 e 30 repelentes por dia, enquanto em períodos sem surto de dengue não tem venda. A pulseiras de citronela, vendidas a R$ 2 com duração de duas horas, nem chegam mais, porque o fabricante não conseguiu atender a demanda. Repelentes aerossóis e de tomada também são muito procurados e é comum as pessoas procurarem ainda por própolis, depois de lerem que o extrato evita dengue.

Mitos dengue uberlândia

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Gerente Mário Tavares aconselha orientação de farmacêutico e médico | Foto: Núbia Mota

Mário Tavares aconselha a buscar a orientação do médico ou até do farmacêutico para encontrar um produto adequado para idade e para avaliar algum possível quadro de alergia. “Para pessoa comum, que não tem problema de saúde, a gente recomenda o [repelente] de dez horas de duração, porque é mais fácil. O de loção pode causar até mais alergia. Por isso, as pessoas também têm optado pelo spray, por ser mais prático, e tem a vantagem de aplicar na roupa e não diretamente na pele”, disse.


 

De acordo com o infectologista José Humberto Caetano, não é aconselhável bebês menores de 6 meses usarem repelentes devido aos maiores riscos de alergia. A dica mesmo é seguir a orientação do fabricante e reaplicar o produto sempre que for recomendável.

“Os repelentes a base de icaridina têm efeito mais prolongado. Não há restrição. A questão é que se use de forma adequada, mas essa não é a medida mais eficaz para diminuir o seu risco de ser picado pelo mosquito. O que influencia mesmo é ter os focos perto de você e da sua casa. Se tiver muito foco e você usar repelente, seu risco ainda existe”, afirmou o especialista.

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