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26/03/2019 às 08h00min - Atualizada em 26/03/2019 às 08h00min

Uberlândia tem a maior incidência de dengue entre municípios acima de 500 mil habitantes

Informação foi confirmada pelo Ministério da Saúde; secretário municipal alega que "o pior está por vir"

VINÍCIUS LEMOS E DANIEL POMPEU
Unidade de Atendimento Integrado (UAI) do bairro Pampulha em Uberlândia | Foto: Diário de Uberlândia
Uberlândia lidera o ranking com maior incidência de dengue em todo o País no grupo de municípios com população entre 500 mil e 1 milhão de habitantes. De acordo com o Ministério da Saúde, há 962,8 casos suspeitos de dengue para cada grupo de 100 mil habitantes no município. Por conta disso, as Unidades de Atendimento Integrado (UAIs) mais procuradas estão com volume de atendimento 40% maior.

No último sábado e domingo, duas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) passaram a fazer atendimentos extras para reduzir a pressão sobre as UAIs, onde pacientes já percebem a lotação em decorrência do aumento de casos suspeitos de dengue.

Em entrevista coletiva online nesta segunda-feira (25), o coordenador do Departamento de Dengue do Ministério da Saúde, Rodrigo Said, afirmou que até o dia 16 de março os números enviados a Brasília mostram que Uberlândia teve 6.578 casos prováveis de dengue em Uberlândia. Os dados colocam o Município em destaque no cenário nacional e no Estado, com incidência maior que em ambas as comparações. Em Minas Gerais a incidência é de 261,2 casos por cada 100 mil habitantes e em todo o País o índice é de 109,9 casos por 100 mil habitantes.

O assessor técnico da Rede de Urgência e Emergência da Secretaria de Saúde de Uberlândia, Clauber Lourenço, informou que as UAIs dos bairros Luizote de Freitas e Roosevelt foram as mais demandadas para atendimentos de casos suspeitos de dengue. “Nas regiões de maior busca há 50 ou 60 pacientes a mais demandando UAIs, isso é um aumento de pelo menos 40%”, afirmou Lourenço.
 
UNIDADES BÁSICAS 
Devido ao aumento da demanda, como medida de contingência, a pasta da Saúde abriu duas Unidades Básicas de Saúde no último fim de semana para ajudar no atendimento às UAIs. Dessa forma, as UBSs do próprio Luizote de Freitas e também do bairro Jardim Brasília funcionaram entre 7h e 19h no sábado (23) e no domingo (24) para atendimento da população com sintomas da dengue.

Segundo Lourenço, nos próximos finais de semana essas unidades seguirão atendendo e outras poderão funcionar no mesmo esquema de acordo com a demanda de cada uma das UAIs da cidade.

As equipes, de acordo com a Prefeitura, têm médicos, enfermeiros e técnicos, e o laboratório faz a coleta de material para análise na própria unidade com o resultado sendo entregue no mesmo prazo que no atendimento de pronto socorro. A maior parte dos casos é de dengue simples e exige o acompanhamento e hidratação. Já pacientes que necessitarem de internação, ainda segundo o Município, terão um veículo extra para transporte da unidade básica para o local onde será internado.

Lourenço lembrou que qualquer UBS, no horário normal de atendimento - das 7h às 17h, de segunda a sexta-feira -, também está apta a receber pacientes com suspeita de dengue. Além disso, cinco salas de hidratação seguem montadas nas UAIs Luizote, Martins, Planalto, Roosevelt e Tibery. O assessor técnico informou que de 20 a 30 pessoas são atendidas nessas salas por dia.
 
COMPARAÇÃO
O número de casos de dengue no estado de Minas Gerais teve aumento de 734% até o fim da segunda quinzena de março de 2019, em comparação a igual período do ano passado, segundo dados do Ministério da Saúde. Até a última semana, o Estado notificou 54.961 casos da doença. No mesmo período de 2018, foram 6.586 casos. Minas Gerais registrou sete óbitos em decorrência da doença neste ano, sendo um em Uberlândia.

Minas Gerais é o quinto Estado com maior incidência da dengue no País. O Ministério da Saúde aponta que no Brasil há pelo menos 229 mil casos da doença, o que significa um aumento de 224% em relação ao mesmo período do ano passado. Nas 11 primeiras semanas de 2018 esse número era de 62,9 mil casos. O número de óbitos pela doença chegou a 62 e indicou aumento de 67% em relação ao ano passado (37 mortes). Metade das mortes este ano foi registrada no Estado de São Paulo (31).

O vírus do tipo 2 da dengue prevalece no País. “É um dos fatores importantes (para explicar os aumentos de casos de dengue). Como não há epidemia há tanto tempo do tipo 2, com altas temperaturas e chuvas intensas, isso contribui para a infecção”, disse o coordenador do Departamento de Dengue do Ministério da Saúde, Rodrigo Said. Ele citou ainda que o vírus tipo 2 teve predominância no final da década de 90 e início dos anos 2000, sendo que a última vez em que ele circulou com maior identificação foi em 2008.
 
LOTAÇÃO
A reportagem do Diário visitou três Unidades de Atendimento Integrado (UAI) na manhã de ontem e em conversa com pacientes, muitos apresentavam sintomas da dengue e disseram ter percebido aumento na lotação das unidades de saúde.

A UAI com maior lotação encontrada foi a do bairro Martins, que tinha todas as cadeiras da recepção ocupadas e fila para atendimento anterior à triagem. Segundo Tina Nascimento, no dia 22 sua mãe de 83 anos, que apresentava dores, febre, vômitos e manchas pelo corpo, procurou a UAI Martins e lá ficou entre 10h e 16h para o atendimento e medicação.

“Voltamos hoje (segunda) e são três horas para sair resultado do exame. As salas estavam cheias para tomar soro na sexta-feira. Um paciente tinha que levantar para outro se sentar e tomar o soro”, afirmou.

Também na UAI Martins, a paciente Edilza Maria da Silva, que não tinha sintomas de dengue, afirmou que o atendimento está mais demorado por conta da lotação. “Esperando há duas horas e já fiz a triagem. Ninguém fala nada e estou aguardando. Hoje está bem cheio mesmo”, disse.

Nas UAIs Pampulha e Tibery os atendimentos, segundo os próprios pacientes, era mais rápido ainda que as unidades estivessem com um número considerável de pessoas aguardando. A reportagem conversou com pelo menos cinco pessoas nas três UAIs que apresentavam sintomas da dengue.


O pior ainda está por vir, diz secretário

 

Em coletiva de imprensa na tarde de ontem para anunciar três novas Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF), o secretário de Saúde do município, Gladstone Rodrigues da Cunha, alertou que “o pior está por vir”. De acordo com ele, ainda não se alcançou o pico de incidência da dengue ao considerar outros anos. “Historicamente, a curva de crescimento vai até abril”, disse.

Ele citou que já foram atendidas 17,8 mil pessoas com sintomas de dengue em Uberlândia este ano. Os dados diferem do levantamento estadual porque são baseados em atendimentos submetidos ao Prontuário Eletrônico Único e se referem a um diagnóstico inicial do médico sem confirmação laboratorial, de acordo com Cunha.

O secretário atribui o aumento da incidência da doença às altas temperaturas do último verão e alta pluviosidade, fatores climáticos que levam ao aumento da reprodução do mosquito transmissor do vírus. Ele ainda apontou a incidência do vírus tipo 2, que ainda não havia acometido a população, como um dos fatores para a falta de resistência e de epidemia “A população deixou de se preocupar com dengue e baixou a guarda. Então não cuidaram da casa, do quintal e com isso veio a epidemia.”


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