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27/11/2018 às 09h02min - Atualizada em 27/11/2018 às 09h02min

Tonico Ferreira diz que agressividade contra repórteres tira prazer do ofício

FOLHAPRESS
Tonico Ferreira adiantou a aposentadoria por conta de ambiente hostil | Foto: Globo/Divulgação
Tonico Ferreira, 71, tinha mais dois anos de contrato na Globo e chegaria perto de completar 40 na emissora, mas decidiu sair em abril. É verdade que queria mais tempo para a família, para estudar e viajar, como disse em carta à direção de jornalismo. Mas agora, passada a eleição, admite que outra razão pesou: o clima político e a agressividade contra jornalistas.

Qualquer cobertura com multidão, diz, tornou-se um risco para os repórteres, principalmente os de TV. É algo que "vai tirando o prazer da profissão" ouvir as pessoas xingando a imprensa, a Globo, colocando cartazes na frente de jornalistas ao vivo, como aconteceu com ele quando cobria a prisão do ex-ministro José Dirceu, em 2015. Ele relembra os 51 anos de um trabalho em que acompanhou de perto a história do Brasil e participou de coberturas internacionais. Também revela a ideia de criar uma associação de defesa à liberdade de imprensa.

"Entrei na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da USP, em 1966. Todo mundo era comunista. Quem não era fingia ser [risos]. Fui fazer jornais de esquerda como diagramador. O primeiro foi o Amanhã, do grêmio da Faculdade de Filosofia. Quando o jornal acabou, eu tinha direito a três salários, mas ganhei um. O grêmio não tinha dinheiro. O Zé Dirceu fez pedágio na rua, voltou com um saco de dinheiro e nos pagou."

Tonico conta que a primeira vez que viu censor foi em 13 de dezembro de 1968, dia do AI-5. “Chegaram dois na ‘Folha da Tarde’ [onde Ferreira trabalhava]. Depois passaram a mandar instruções por telex. Quem desobedeceu foi submetido a censura prévia. Saí da ‘Folha da Tarde’, passei pela revista ‘Realidade’, até criar um jornal para tentar ter liberdade, o ‘Opinião’, em 1972, no Rio. Logo tivemos censura prévia. Eu entregava o material e voltava com rabiscos em palavras, trechos, artigos. Uma vez um major disse: "Ih, cortaram muito, não vai sair jornal. Peguem em armas e vamos atrás de vocês". Respondi: "Não, vou para a Redação e trago mais material hoje ainda"."

Tonico afirma que nos últimos tempos, toda manifestação é um problema de segurança para os jornalistas, principalmente de TV, conhecidos. Pode ser do Bolsonaro, do PT, é pressão enorme para as equipes na rua. “Quando junta gente, se você cai, fica difícil, todo mundo dá um pontapé anônimo. Fui muito importunado quando cobri a prisão do Zé Dirceu. Havia um pessoal do PT, que até me conhecia. Eu disse: ‘Gente, por favor, deixa só a gente entrar ao vivo’. Quando entrei no Jornal Nacional, colocaram cartazes, eu tentava falar e não paravam de gritar. Sempre nos abordam dizendo ‘a Globo mente, fora Rede Globo’ etc.”

Para ele, existe um sindicato capaz de dizer que [determinados ataques] estão certos. “Quem nos defende são as empresas. Estou pensando em fazer alguma coisa, uma associação. Estamos vulneráveis e precisamos de algo forte, suprapartidário, defendendo a liberdade de imprensa", finalizou.
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