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04/11/2018 às 07h02min - Atualizada em 04/11/2018 às 07h02min

Diversão acessível para todos

Morgans' Wonderland, no Texas, é o 1º parque de diversões do mundo a ser 100% adaptado a pessoas com deficiência

Repórter Jairo Marques com sua filha, Elis, em sua primeira experiência conjunta em um parque de diversão | Foto: Folhapress/Divulgação
"Papai, vem comigo!" O berro para lá de entusiasmado de minha filha, Elis, 3, enquanto corria para debaixo da tromba de um cavalo marinho que jorrava água quentinha vai ecoar em minhas melhores lembranças para sempre. Não é para menos. Era a primeira vez que curtíamos uma grande atração lado a lado, sem restrições ou nhenhenhém: eu a bordo de uma cadeira de rodas, e ela, serelepe, feliz, como qualquer criança ao lado de sua família.

A experiência aconteceu no complexo Morgan's Wonderland, em sua porção aquática, chamada Inspiration Island. É o primeiro parque considerado ultra-acessível do mundo. Sua estrutura possibilita que pessoas com deficiência aproveitem todas as brincadeiras com autonomia e sem restrições, experimentando sensações muitas vezes inéditas para esse público.

A instalação, inaugurada em 2010 – a parte aquática apenas em julho do ano passado –, fica em San Antonio, cidade calorenta com cerca de 1,5 milhão de habitantes ao sul do Texas, nos EUA. A revista americana Time chegou a classificar recentemente o local como um dos mais "grandiosos do mundo", no sentido da experiência humana que proporciona.

Não parece exagero. A reportagem passou um dia todo no local, que tem área equivalente a 12 campos de futebol, e por todos os cantos encontrou situações que despertaram emoções e que fomentaram possibilidades de convívio harmônico entre as diversidades físicas, sensoriais e entre pessoas sem deficiência nenhuma.

Embaixo de um balde gigante, atração batizada de Harvey's Hideaway Bay, que despejava dezenas de litros de água, um menino cadeirante atado a um cilindro de oxigênio gargalhava; em um bote – que pode ser acessado com auxílio de um elevador hidráulico –, uma turma de crianças com e sem deficiência vibrava com réplicas de animais selvagens que ficam nas margens do brinquedo River Boat Adventure Ride.

Mas, antes de entrar na parte aquática do parque, os usuários de cadeira de rodas precisam mudar de veículo. Em um vestiário, um voluntário faz rápidas perguntas e, em seguida, traz um dos cinco modelos de cadeiras desenvolvidas exclusivamente para o Morgan's e que podem transitar pela água sem problemas. Não se paga nada por isso.

Pessoas com severas restrições de movimento também não ficam de fora. Um dos modelos de cadeira é movido a ar comprimido e se movimenta por meio de leves toques em um comando manual. Uma espécie de guindaste transfere o usuário de sua cadeira para a do parque, quando necessário. Uma oficina instalada dentro da Inspiration Island garante que as cadeiras estejam sempre aptas para uso.

Os equipamentos de saúde que ficam espalhados pelo complexo são protegidos por capas especiais. Por todos os cantos do parque o que se vê são pessoas gargalhando. Não à toa.

É o caso dos sete integrantes da família Flores, que saíram do Oregon, no oeste dos Estados Unidos, para oferecer uma experiência de emoções inéditas a Fred, 8 anos. O garoto tem uma doença degenerativa e precisa do auxílio de um respirador artificial em seu dia a dia. Ele quase não tem movimentos, mas sorria sem parar ao ser colocado de frente para jatos de água e chuvinhas que saíam de plantas artificiais.

"O projeto de nossas atrações tinha em mente, em primeiro lugar, atender a pessoas com deficiência e proporcionar a elas e a seus familiares momentos de muito prazer", afirma Bob McCullough, porta-voz do Morgan's.

O local foi erguido com auxílio de doações e apoio de fundações americanas voltadas para fins sociais e de inclusão. Pessoas com deficiência e crianças de até dois anos não pagam ingressos, cujos valores variam de US$ 12 a US$ 27 (de R$ 15,70 a R$ 99). Na porção seca do parque, outras iniciativas inclusivas impressionam: um teatro sensorial, onde a criança pode sentir cheiros de flores e frutas e a textura dos pelos de um cavalo, além de poder se ver dentro de um estúdio de televisão e brincar com borboletas em um telão sensível ao toque.

A Terra Maravilhosa (Wonderland) conta com um trenzinho que corta toda a instalação. Mais uma vez, as pessoas com deficiência embarcam e desembarcam tranquilamente, com o auxílio de rampas.

Um amplo espaço do complexo é dedicado aos sons. O Music Garden abriga diversos instrumentos musicais, feitos de madeira, de metal e de plástico, que são fáceis de tocar. Eles emitem vários tipos de barulho e encantam a molecada.

Os tradicionais brinquedos de escorrega são acessados por rampas, em vez de escadas. Os balanços são grandes e suportam um cadeirante na sua própria cadeira. Em cada detalhe, o parque americano foi desenhado para divertir e levar conforto para qualquer usuário. O desenho de todas as atrações leva em conta tanto o uso por uma criança com deficiência quanto o acompanhamento dos pequenos por parentes com deficiência, como é o meu caso.

Isso possibilitou uma perspectiva inédita: pela primeira vez, pude subir com minha filha até o alto do escorrega e soltar a mãozinha dela lá de cima e não apenas esperá-la embaixo para um abraço. Também pudemos, juntos, girar na roda gigante, uma vez que eu cabia nas cabines de cadeira e tudo. Nem um ponto da acessibilidade passou batido no projeto. As portas dos banheiros se abrem automaticamente, assim como as torneiras.

Por todos os cantos há informações em braile, para cegos, e entre os monitores há pessoas com deficiência, inclusive treinadas em língua de sinais, para surdos.
Um registro negativo do Morgan's Wonderland fica para os pontos de alimentação, que só oferecem as tradicionais comidas rápidas americanas, incluindo pizza, cachorro-quente e batata frita. Tudo regado a litros de refrigerante e finalizado com sorvete de sobremesa.
 
SAN ANTONIO
Cidade é cheia de opções para divertir crianças


 
Com calçadas largas e lisas, ruas planas, vários parques de diversão e concentração de atividades em pontos centrais, San Antonio, no sul do Texas (EUA), é propícia para quem quer se divertir com crianças. As atrações ao ar livre e as que envolvem brincadeiras na água – são ao menos 15 parques aquáticos nas redondezas – são as prediletas da molecada, além de ideais para enfrentar as altas temperaturas locais.

A cidade ainda se destaca por um museu com relevância mundial no fomento à criatividade e à curiosidade dos pequenos, o The DoSeum. Desenhado totalmente para o proveito infantil, a instalação permite experimentações distintas: simular a análise de uma radiografia médica ou conduzir um trator. Trabalham, portanto, atividades de coordenação motora e de imaginação.

Outro passeio que costuma fazer sucesso entre as crianças é o zoológico, a cerca de dez minutos da região central. Ele oferece atividades extras, como passeio de trenzinho, jardim de borboletas e encontros exclusivos com alguns tipos de bicho.

Num dos pontos de maior atração da cidade, o Alamo –antiga estrutura de uma missão expedicionária da Espanha–, são encenadas batalhas com participantes usando trajes típicos e antigos armamentos. Ainda dá para simplesmente curtir a área verde, o que costuma encantar as crianças, já que há dezenas de esquilos por ali.

Mas, de todos os pontos de interesse infantil de San Antonio, o mais disputado é o parque SeaWorld, que tem na cidade sua maior unidade, com uma área de um quilômetro quadrado. Os ingressos para um dia custam a partir de US$ 59 (R$ 217). São quatro grandes arenas e mais de uma dezena de shows diferentes todos os dias, com destaque para o One Ocean, com baleias orcas que saltam, fazem gracejos e interagem com o público.

Por todo o parque estão espalhados informativos em que constam os investimentos do SeaWorld para a conservação dos mares e da vida aquática e detalhes sobre como os animais são tratados, numa tentativa de transparência diante de críticas relativas a supostos maus-tratos.
 
ENTARDECER
Calçadão às margens de rio concentra bares, jardins e lojas


 
Em San Antonio, há vários jeitos de acessar o chamado River Walk ou "paseo del rio", um calçadão às margens do rio que leva o nome da cidade do sul do Texas. A forma mais prática de conhecer a região é por meio de uma espécie de balsa, que desliza de maneira bem suave pelo rio num passeio de cerca de 40 minutos, ao custo de US$ 13 (R$ 48).

Ao longo do percurso, um balseiro apresenta pontos históricos, prédios públicos e monumentos nas beiras do rio, que é bastante calmo e tomado pela urbanização. A melhor hora para fazer o programa é durante o entardecer, quando restaurantes, hotéis, pontes e lojas acendem suas luzes, que são refletidas nas águas.

Para quem tem mais tempo e disposição, o passeio também pode ser feito a pé. Dessa maneira, dá para apreciar tudo com mais calma e parar nos diversos bares que têm apelos distintos, do rock ao country, passando por pequenos shows de dança. Quem vai a pé também desfruta do visual das pontes, das barracas que vendem objetos de colecionador e de áreas com jardins e sombras.

O River Walk tem acessibilidade para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida, por meio do apoio de elevadores e rampas. As balsas também são preparadas para receber pessoas com deficiência.
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