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10/08/2024 às 08h00min - Atualizada em 10/08/2024 às 08h00min

Vacinas contra Vírus Sincicial Respiratório: uma ameaça que podemos tentar evitar

JOÃO LUCAS O'CONNELL
À medida que os dias se tornam mais curtos e o ar mais frio, um inimigo invisível ganha força: os vírus respiratórios. Durante o inverno, não é incomum ver um aumento na incidência de gripes e resfriados, que deixam muitos de nós de cama. Entre esses vilões microscópicos, o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) desponta como uma preocupação significativa, especialmente para os mais vulneráveis – crianças pequenas e idosos.

Por que o inverno é o palco perfeito para essas infecções? A resposta está no ar. Literalmente. O clima mais frio e seco pode ressecar nossas vias aéreas e enfraquecer suas defesas naturais. Agrupamentos em ambientes fechados e menos ventilados também facilitam a disseminação desses vírus. Embora muitos vírus possam estar em jogo, o VSR tem se destacado por causar doenças graves. Infelizmente, aqueles que mais sofrem são justamente os que já têm defensas mais frágeis.

Nos últimos meses, porém, um raio de esperança emergiu no cenário da saúde pública: duas novas vacinas promissoras, Arexvy da GlaxoSmithKline e Abrysvo da Pfizer, foram desenvolvidas para combater o VSR.

Arexvy: uma revolução na proteção dos mais velhos
A vacina Arexvy passou por um rigoroso ensaio internacional de fase 3, envolvendo cerca de 25 mil idosos com 60 anos ou mais. Os resultados são encorajadores: mostrou uma taxa de proteção de cerca de 70% contra todas as infecções por VSR, 80% contra infecções do trato respiratório inferior e impressionantes 95% contra infecções graves. Esses números são especialmente importantes para uma faixa etária em que as complicações respiratórias podem ter consequências devastadoras.

Apesar do sucesso, há algumas limitações. Poucos indivíduos muito frágeis ou com mais de 80 anos participaram dos testes. Além disso, embora nenhum evento grave relacionado à vacina tenha sido relatado, houve registros de síndrome de Guillain-Barré e encefalomielite em outros estudos.

Abrysvo: outra arma poderosa na luta contra o VSR
Assim como a Arexvy, a vacina Abrysvo da Pfizer também demonstrou eficácia significativa em seu ensaio clínico internacional. Com uma taxa de eficácia de aproximadamente 60% contra qualquer doença respiratória causada pelo VSR e cerca de 90% contra infecções graves, a Abrysvo se posiciona como uma alternativa potente na prevenção dessas infecções.

Assim como a Arexvy, esta vacina também teve participação limitada de adultos de risco muito alto nos estudos, o que impede uma avaliação completa de sua eficácia nessa população específica. Houve também relatos de síndrome de Guillain-Barré e Miller-Fisher após a vacinação.

Implicações para o futuro
Apesar dos dados promissores, ainda existem algumas questões a serem resolvidas. A proteção proporcionada por ambas as vacinas começa a diminuir após cerca de seis meses, o que sugere que a vacinação no início do outono pode ser ideal para garantir proteção máxima durante o pico de infecções respiratórias. Além disso, ainda faltam informações sobre a eficácia dessas vacinas em grupos de alto risco e quando administradas juntamente com outras vacinas comuns.

Um ponto crucial é a possibilidade de efeitos adversos raros, como as já mencionadas síndromes de Guillain-Barré e Miller-Fisher, que levantam dúvidas sobre os riscos de sequelas neurológicas. Isso torna fundamental a necessidade de um diálogo aprofundado entre pacientes e médicos.

O caminho a seguir: decisão compartilhada e personalizada
Diante dessas incertezas, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) recomendam uma "decisão compartilhada" para todos os maiores de 60 anos. Isso significa que a escolha de se vacinar deve ser feita considerando as preferências pessoais e os riscos específicos de cada indivíduo.

As novas vacinas contra o VSR representam um avanço significativo na luta contra as infecções respiratórias, especialmente para idosos que correm riscos maiores. Como com qualquer inovação médica, é essencial equilibrar os benefícios promissores com uma avaliação cuidadosa dos riscos potenciais. Este inverno pode ser diferente com essas novas ferramentas à disposição, mas a decisão final deve ser informada e personalizada.

Que este seja um restante de inverno de novas esperanças e melhores cuidados, tanto para os mais velhos quanto para os mais novos, à medida que continuamos a enfrentar os desafios das doenças respiratórias sazonais.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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