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09/06/2020 às 08h37min - Atualizada em 09/06/2020 às 08h37min

Obama e Yuri

Ana Maria Coelho Carvalho, [email protected]
O nascimento de um neto é emocionante e nós, as avós, sempre sonhamos grandes sonhos para eles.  Quando um dos meus netos nasceu, o Yuri, que hoje está com 12 anos, escrevi o texto abaixo, comparando-o com o então presidente dos Estados Unidos:
"Obama, o presidente eleito da maior potência mundial, tem muito a ver com o meu netinho Yuri, de dois meses. Por exemplo, a cor da pele e os cabelos enrolados (os cabelos do bebê, antes lisos e abundantes, caíram e nasceram rebeldes). Obama disse que é “marrom” e Yuri foi classificado como “pardo”, no hospital uberlandense onde nasceu.

No dia em que Obama foi eleito, houve uma comoção nacional nos Estados Unidos e uma vibração no mundo todo. No dia em que o Yuri nasceu, houve uma “comoção hospitalar” e o Brasil todo comemorava a independência, pois ele nasceu no dia sete de setembro. A “comoção hospitalar” ocorreu porque minha filha, Karine, ficou 34h em trabalho de parto (30h em casa, com a “doula” e eu assistindo e sofrendo). A mãe deu à luz de cócoras, numa cama de um quarto comum no hospital, sem nenhuma anestesia (gritou um pouco). A médica, muito profissional e elegante, com saltos altíssimos, andava de um lado para o outro, esperando as coisas acontecerem. Eu não sabia se ficava ou se saía. Fiquei e me emocionei junto com a equipe (a médica, a pediatra, a “doula”, as enfermeiras) quando o Yuri nasceu, com três quilos e meio, um pouco roxo (não sei se da cor da pele ou sufocado) e berrando alto. Acredito que nunca houve um parto assim nesse hospital (dizem que é um “parto humanizado”, mas eu não achei).

O Obama e o Yuri são multiculturais. A mãe do Obama era branca, antropóloga e fascinada pelos camponeses da ilha de Java. A mãe do Yuri também é branca, culta, fascinada pela vida simples, por meditação, pela yoga e pelos quilombolas. O pai de Obama era um negro da tribo dos luos, do Quênia. O pai do Yuri é um moreno escuro, de um quilombola da Bahia. O Obama é um PhD em diversidade, nasceu no Havaí, viveu na Indonésia, estudou nos Estados Unidos. O Yuri terá que viver em mundos diferentes, entre Uberlândia, praia dos Algodões e comunidade quilombola. Vai aprender o linguajar dos quilombolas e o inglês, que a mãe vai ensinar. Aqui, dormiu num bercinho normal. Lá, está dormindo num casco de tartaruga gigante. Já colocou os pés no mar e tomou banho no rio. O primeiro presente que vai receber do pai, agricultor, será uma enxadinha, para ir se familiarizando com a terra.

Os dois são carismáticos. Obama é jovem, com sorriso largo e franco, talentoso e com ideais nobres. O Yuri é lindo, com olhos vivos, brilhantes e expressivos, gordinho e bochechudo, dobrinhas por todo lado e sorrindo sem saber de quê. Os dois têm um grande desafio pela frente: Obama é o mais inexperiente presidente dos Estados Unidos e terá que governar um país com duas guerras, uma grave crise financeira e uma reputação internacional se dilacerando. O Yuri terá que viver e se adaptar a dois mundos tão diferentes em um mesmo país. Até o nome deles é interessante. Barak Hussein Obama é uma mistura de nome africano, árabe e tribal, um homem de três continentes. Yuri é um nome russo, do primeiro astronauta a viajar para o espaço, representando a capacidade do homem  ir cada vez mais longe. Pressinto que o Yuri poderá alcançar altos horizontes. O Chicago Tribune descreveu a vitória de Obama como “a de um candidato improvável, realizando um sonho que já foi impossível”. Quem sabe, um dia, o Yuri também será o presidente do Brasil."
 
Hoje, relendo esse texto, acho que não seria bom para o Yuri ser presidente do Brasil não. Complicado e difícil demais.
 


Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.



 
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