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15/01/2019 às 08h37min - Atualizada em 15/01/2019 às 08h37min

A briga

ANA MARIA COELHO CARVALHO
Brigas fazem parte do cotidiano, acontecem com todos. Conflitos sempre existiram, são parte da natureza humana. Há mulheres que brigam com os maridos só pela emoção e prazer de fazer as pazes. Irmãos que vivem como cão e gato, mas não ficam sem o outro. Vizinhos que trocam palavrões por causa da árvore na calçada ou porque simplesmente não gostam da cara um do outro. Brigas na escola, no trânsito, no trabalho, no “lar doce lar”, por todo lado.

Até eu, que sou adepta da paz e da calma, anos atrás participei de uma briga homérica. Estávamos o marido, eu e sete crianças (cinco filhos e dois vizinhos) viajando de camionete para as férias na praia de Guarapari. Paramos em Belo Horizonte para dormir no apartamento do meu irmão. Ele é um homem grandalhão, de mais de cem quilos, de coração bondoso e alma de criança. À noite, três dos meus filhos, os dois vizinhos e dois primos, todos entre oito e doze anos, desceram para o térreo do prédio. No salão de festas estava sendo comemorado o aniversário de um dos moradores. Os sete “penetras” queriam comer salgadinhos e a meninada da festa não quis deixar. Assim, o meu caçula jogou uma sandália havaiana na cabeça de um dos filhos do aniversariante. Estava armada a confusão. Quando desci para chamar a turma para dormir, encontrei uma pilha humana de meninos se debatendo, uns por cima dos outros. Cabelos arrancados, camisas rasgadas, sapatos perdidos, gritos de “arregaça a cara dele”. E nenhum adulto estava vendo, pois estavam do lado de fora do salão.

Horrorizada, comecei a puxar algumas pernas para dissolver a montanha humana. Os dois primos, espertos, só atiçando a briga. Nisso, os convidados da festa viram a briga e acudiram em massa. Os penetras saíram em disparada e eu fiquei sozinha no meio da turba assassina. Quase apanhei, mas mantive a dignidade, a postura e a coragem (mas de pernas bambas e trêmulas) e defendi a retaguarda para a fuga dos sete. Apavorados, eles subiram as escadas, se esconderam no quarto e ficaram quietinhos, como santos. No apartamento, todas as outras pessoas dormiam, não souberam de nada.

Repentinamente, na calada da noite, eu deitada, tentando me acalmar, soou a campainha. Tremi. Era o aniversariante em pessoa, exaltado, exigindo a presença do síndico no salão de festas (o síndico era o meu irmão), para as devidas explicações. Fui com ele, para prestar depoimento do que se passou. Rodeada pelos convidados furiosos, comecei a contar o que vi. Um homem enorme, de mais de 120 kg, bêbado, pulou na minha frente e vociferou: “-É mentira, não foi assim!”. O meu irmão, do tamanho dele, também pulou na minha frente e bradou, em voz grossa e decidida: “-Ninguém chama minha irmã de mentirosa!”. Emocionei-me com tal defesa. Seria um duelo de gigantes, de titãs. Mas aí entrou a turma do “deixa disso” e levou cada um para um lado. No final, pedi desculpas pelas crianças terem atrapalhado a festa e ainda tive a audácia de dar os parabéns ao aniversariante. Porém, temendo represálias, acordei meu marido às cinco da manhã (ele não sabia de nada, dormia o sono dos justos) e deixamos o prédio de fininho.

Bem, toda briga deixa uma lição. Nessa, descobri que meu irmão é um herói. A partir daí, se tornou o meu ídolo.
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