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31/12/2017 às 05h17min - Atualizada em 31/12/2017 às 05h17min

As estações e as promessas de ano novo

ALEXANDRE HENRY ALVES | COLUNISTA

Creio que são raras as pessoas que não fazem promessas ou estabelecem metas para si mesmas na virada do ano. Eu já tomei as minhas decisões para 2018. É tempo de cuidar mais do corpo, fazendo mais exercícios; de reduzir o uso das redes sociais, especialmente os grupos em aplicativos de mensagens; de concentrar mais durante o horário de trabalho para não precisar trabalhar à noite ou nos finais de semana. Também quero mais lazer, mais dedicação à esposa e à filha, além de algumas viagens. Basicamente, é isso, sem contar uma ou outra decisão que não cabe expor em um espaço público.

Bom, mas por que a gente faz promessas de ano novo? Por que a gente busca mudanças nesse período? Eu tenho uma teoria que é bem simples e óbvia: a sensação de começo de um novo ciclo. Este último dia do ano, em tese, não tem nada de diferente dos demais, assim como amanhã é um feriado que poderia ser comparado a qualquer outro do calendário. Mas, a gente faz promessas porque sabe que um novo ano é um novo ciclo, por mais que tudo possa continuar como sempre foi. Quando percebemos a chegada de um novo tempo, temos a tendência de querer nos reciclar e nos aprimorar. Natural.

É aqui que entram as estações. Estações? Sim: verão, outono, primavera e inverno. No Brasil, nós praticamente não temos isso. Em alguns lugares, como no cerrado do Planalto Central, o que temos é uma estação chuvosa e uma estação seca. Dá para perceber um novo ciclo, claro, mas de maneira muito mais singela e sutil do que você vê em países que possuem invernos mais rigorosos. Fora o pessoal que trabalha com agronegócio, o resto da população não tem quase nenhuma preocupação com a estação do ano. No máximo, lava um cobertor leve quando chega maio ou compra um biquíni novo quando os ventos de agosto começam a ir embora.

E o que tem isso a ver com a virada do ano? Explico aonde quero chegar. Você já percebeu que são pouquíssimos os países de clima quente que são economicamente ricos? Olhe o mapa mundial e você verá que quase todos os países desenvolvidos se encontram em uma faixa de latitude que possui um inverno relativamente rigoroso, embora não tão rigoroso e longo a ponto de se tornar um ambiente quase inóspito. A existência de estações bem definidas traz consequências muito claras, a meu ver. As pessoas precisam se preparar para o inverno, precisam trabalhar muito no verão para enfrentar os meses de frio intenso. Não dá para deixar o telhado do jeito que está, nem o aquecedor estragado. Não dá para não fazer uma reserva de tudo o que não pode ser produzido quando as temperaturas geladas chegarem. Assim, quem vive em locais com estações bem definidas treina a vida toda duas coisas: planejamento e poupança. Essas duas qualidades são essenciais tanto para o desenvolvimento pessoal quanto para o desenvolvimento da economia de um país. Sem planejar e sem poupar, não se vai longe.

E a virada do ano? Bom, eu não disse que a gente faz um monte de projetos novos e compromissos próprios por conta da sensação de que um novo ciclo se inicia? Pois esse é outro ponto a favor de quem vive em locais com estações bem definidas. Mais de uma vez por ano, você percebe claramente a chegada de um novo ciclo e, com isso, sua inspiração para mudar e evoluir não se limita ao dia 31 de dezembro de cada ano. Quem aqui no Brasil, exceto nas serras mais frias dos estados do Sul, faz planos para começar a emagrecer ou para iniciar uma rotina de exercícios assim que o frio passar? Pouca gente, mas pouca mesmo. Temos apenas um marco temporal anual e ele se limita à virada do ano.

Posso até estar enganado quanto a todas essas minhas conclusões, mas, até que alguém me prove o contrário, vou continuar acreditando nos benefícios da percepção de que um novo ciclo está chegando. A vida, em si, é um grande ciclo, com outros menores ao longo dela. Perceber que o tempo passa, perceber que um ano ou um verão já se foi, isso é algo que motiva a procurar se renovar também. Nesse ponto, a meu ver, estamos em desvantagem em relação aos países de clima temperado. Claro, isso não é uma sentença rígida de subdesenvolvimento eterno, até porque sempre existem exceções às regras.

Bom, mas vou ficando por aqui. Se temos um só ciclo em nosso ano, que o aproveitemos para fazer bons planos e, principalmente, para cumprir esses planos quando o ano novo chegar. Desejo a você um feliz 2018 e que tudo seja ainda melhor do que, espero eu, tenha sido para você em 2017.

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