Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
04/12/2017 às 05h45min - Atualizada em 04/12/2017 às 05h45min

Ainda esse discurso?

ALTIELLYS LUIZ DOS SANTOS* | LEITOR DO DIÁRIO

Recentemente o prefeito da cidade de Manaus expôs uma opinião um tanto quanto divergente no que tange o atual debate do crescimento/desenvolvimento econômico. Segundo ele, Manaus é fortemente dependente do seu polo industrial (Zona Franca) e que, devido a isso, é refém das várias crises “intrínsecas” aos produtos que ali são produzidos. O que me traz espanto é que para ele uma alternativa seria especializar-se nos recursos naturais. Não, definitivamente não. Essa não é a saída mais plausível para as crises que ali ocorre. Já é sabido por todos, ou se deveria saber, que para um crescimento/desenvolvimento econômico sustentável ao longo do tempo é necessário apoiar-se nas indústrias que envolvem alto valor agregado em seus produtos. Isto porque essas indústrias geram um efeito dinâmico positivo na economia como um todo. A grosso modo, podemos dizer que essas indústrias são capazes de “puxar” os demais setores da economia, inclusive o de serviços. Isto é, tanto a indústria de base, quanto o setor de serviços são influenciados positivamente quando há um crescimento nas indústrias de alta tecnologia e valor agregado. Por exemplo, a Embraer é uma empresa de alta tecnologia, e quando há uma perspectiva de crescimento nas vendas de aeronaves ela irá adquirir mais insumos de seus fornecedores. Assim, seus fornecedores terão que aumentar a produção para a atender a sua demanda. Isso é o que chamamos de círculo virtuoso, porque os fornecedores da Embraer irão demandar mais insumos das empresas que os atende, e assim por diante. Não somente, é exigido um setor de serviço altamente qualificado para dar suporte a essa cadeia produtiva de aeronaves.

Algumas dessas indústrias de alta tecnologia e produtos de alto valor agregado estão presentes na Zona Franca de Manaus, como por exemplo, as empresas de motocicletas, motonetas, ciclomotores, eletrônica, microchips, microcomputadores, smartphones, tablets, e afins. Pensando em um futuro sólido, a saída seria debater os efeitos e causas das crises, e não desmanchar um desenho industrial com alto potencial de crescimento para se tornar refém dos recursos naturais, os quais detém baixo valor agregado.

O que chamo a atenção, é que devemos debater propostas e soluções que promovam a dinâmica industrial do país para um patamar de alta competitividade no cenário interno e externo. Porque, talvez, as crises que ali ocorrem podem ser por falta de produtos com preços competitivos tanto no mercado interno quanto externo. E será que esses preços estão ligados com a produtividade do setor industrial brasileiro? A produtividade é baixa? O que pode ser feito? Incrementar mais tecnologias? Qualificar a mão de obra? Os incentivos fiscais têm respaldos? E etc.

Devemos dar um passo à frente e superar os discursos de que especialização no comércio de recursos naturais é a saída mais benéfica ao país.

Meu propósito aqui não é explanar sobre modelos e teorias que assolam a questão do crescimento/desenvolvimento econômico. Quero apenas instigar debates que vão além dos discursos usuais.

(*) Economista

Leia Também »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90