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30/01/2022 às 12h00min - Atualizada em 30/01/2022 às 12h00min

Pesquisadores da UFU descobrem molécula inédita que pode ajudar no tratamento do câncer

Estudo durou cerca de quatro anos e realizou testes em cânceres de pele, osso e colo de útero

MARIELLE MOURA
Pesquisa apresentou eficácia no tratamento contra o câncer | Foto: PEDRO MACHADO/ARQUIVO PESSOAL
Pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) descobriram uma molécula inédita de um complexo de cobre que apresentou eficácia no tratamento contra o câncer. Segundo o último levantamento do Hospital do Câncer em Uberlândia, mais de oito mil pacientes foram atendidos em 2020 na unidade. O câncer é a segunda doença que mais mata no mundo. 

De acordo com Pedro Machado, doutorando responsável pela pesquisa, o estudo durou cerca de quatro anos  sob a orientação do professor Robson José de Oliveira Júnior e de colaboradores do Instituto de Química (IQ/UFU), Wendell Guerra, e Instituto de Biotecnologia (IBTEC/UFU).

Segundo Pedro, foram descobertas moléculas que têm na composição o cobre e que são mais seletivas nas células cancerígenas, ou seja, nas que estão com câncer. Os testes foram feitos em células de camundongos para câncer de osso e pele.

“Descobrimos que esse complexo teve uma seletividade de sete, ou seja, ele mata sete células de câncer para uma saudável para o câncer de osso e músculo em que utilizamos células de camundongo. No câncer de pele tivemos uma seletividade de cinco no tipo melanoma que é o mais agressivo, ele matava cinco células de câncer para uma saudável, nesse caso as pesquisas foram feitas também em células de camundongos em cultura”,explicou Pedro.

O doutorando explicou também que foram realizados testes em células humanas com câncer de útero e que, neste caso, foi descoberto o mecanismo que leva essas células à morte, sendo a forma mais segura para o organismo. “Nós testamos em células humanas de câncer de colo de útero e identificamos por qual mecanismo ele leva as células a morte, que é uma morte programada, que é o que desejamos, que é mais seguro pro organismo. Nesse caso, ele não foi tão seletivo, porque ele foi tóxico para as células controle, mas ele exibiu toxicidade para as células humanas, então podemos identificar ainda outros tipos de câncer em linhagens humanas para saber se ele é seletivo ou não”, informou. 

De acordo com os pesquisadores, o estudo caminha para a segunda fase, na qual irão desenvolver mecanismos de “drug delivery”, em que a molécula descoberta será colocada dentro de “nanocápsulas”. Nessa segunda fase, vão estudar ainda mais a ação  do complexo e a toxicidade para órgãos e efeitos colaterais. Essa parte dura em média mais de um ano. 

“Nessa segunda fase queremos melhorar a ação do complexo. Estamos com uma parceria com uma professora que ela faz nanocápsulas, que são cápsulas microscópicas que são feitas de gordura. A camada externa das células também é feita de gordura, então quando você lembra de química da escola que diz que o semelhante dissolve semelhante. Esse medicamento estando dentro de uma cápsula de gordura e encostado na célula em que a parte externa também é feita de gordura, acontece uma fusão. Sendo assim, esperamos que isso melhore ainda mais a ação do complexo e diminua a dose necessária para matar 50% das células cancerosas”, disse Pedro.

Por fim, Pedro cobrou mais incentivo para a Ciência no Brasil. “Fico muito contente de imaginar que um dia isso pode ajudar pessoas no Brasil e no mundo e é importante todo mundo saber que conseguimos fazer muito com tão pouco. Se tivéssemos apoio mesmo, seria excelente, mas não temos”

Em dezembro a pesquisa foi publicada na Scientific Reports, do grupo Nature, uma das mais renomadas do mundo.  “Essa revista é do grupo Nature, uma das mais importantes do mundo, sendo do grupo Nature. A exigência da qualidade dos trabalhos é muito alta. Ficamos extremamente felizes de ter publicado o estudo em uma revista de grande renome”, informou.

COBRE
Um dos tratamentos da doença é a quimioterapia, em que são utilizados medicamentos que conseguem matar as células tumorais. Porém, esse tratamento acarreta efeitos colaterais, pois também é tóxico para as células saudáveis do organismo por ter platina na composição. 

Pedro Machado, doutorando responsável pela pesquisa, explicou que o processo de quimioterapia, por ser injetável, interage com todas as células, causando assim mais efeitos colaterais. “Quando falamos de um tratamento sistêmico que é a quimioterapia em que injeta o medicamento na corrente sanguínea do paciente, não temos controle de qual célula esse medicamento vai interagir”, disse.

O doutorando falou ainda sobre a gratificação do estudo de promover um medicamento mais acessível e menos agressivo para os pacientes com câncer. “Ficamos muito felizes com o estudo de um medicamento que é mais barato e mais eficaz. Uma vez que ele é mais seletivo, aumenta a taxa de cura, diminui a toxicidade, porque as pessoas não param a vida quando estão em tratamento, então esse medicamento poderia trazer mais conforto para esses pacientes, além de ser mais barato, porque o cobre é mais barato”

Ainda de acordo com Pedro, o uso do cobre, metal que já existe no organismo humano, reduz a toxicidade do medicamento. “A questão do cobre é justamente isso, porque possuímos cobre no nosso organismo, ele é um metal natural nosso e platina já não é assim, não temos platina naturalmente em nosso organismo então ele já é um metal um pouco mais tóxico”, informou.

Por fim, Pedro explicou que os remédios que têm cobre em sua composição seriam atraídos para o local do tumor pelas próprias células tumorais, agindo como um cavalo de troia. “Essas células conseguem fazer com que organismo crie novos vasos sanguíneos para receber esse sangue e o cobre é extremamente essencial para esse processo de criação de novos vasos sanguíneos, então uma vez que temos um medicamento que possui o cobre na sua composição, por puxar o cobre para essa criação dos vasos sanguíneos, ele pode estar puxando esse medicamento e se auto intoxicando,” completou. 

CÂNCER
Segundo o último levantamento do Hospital do Câncer, 8.247 pacientes foram atendidos em 2020. Foram realizados 28.297 procedimentos de quimioterapia e 991 procedimentos de radioterapia. A unidade realizou 68.641 consultas, sendo 54.006 consultas médicas e 14.635 consultas não médicas. 

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