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26/01/2022 às 18h20min - Atualizada em 26/01/2022 às 19h00min

Especialistas propõem soluções para reduzir enchentes na Rondon Pacheco

Aumento das galerias e criação de bolsões de retenção estão entre alternativas apresentadas por engenheiro e geógrafa de Uberlândia

SÍLVIO AZEVEDO/DHIEGO BORGES
Considerada uma das principais avenidas comerciais de Uberlândia, a Av. Rondon Pacheco é um retrato histórico do desenvolvimento da cidade. Mas, em tempos de chuva, a via, que liga os extremos do município, quase sempre é palco de enchentes que causam prejuízos e transtornos a comerciantes, motoristas e moradores da região.
 
No último dia 16, o antigo problema voltou à tona, quando um grande volume de água da chuva arrastou veículos, invadiu casas, um clube e um hospital, além de destruir parte do asfalto, que custou ao município algo em torno de R$ 400 mil para ser refeito. A dúvida de quem sempre sofre com as inundações no local é se haveria uma solução para esse transtorno. O Diário ouviu especialistas no assunto, que propõem alternativas para minimizar o problema.
     
 
AUMENTO DE GALERIAS
Para o engenheiro civil e professor de hidráulica e hidrologia aposentado da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Laerte Bernardes Arruda, existem várias possibilidades técnicas para resolver o problema da Rondon Pacheco, entre elas o aumento da galeria que passa sobre a avenida.
 
“Existem várias possibilidade técnicas. Tem que ver qual é economicamente viável. Uma delas seria aumentar a galeria. Mas, não adianta se não tiver um sistema de drenagem nos bairros mais eficiente. A água desce pelas ruas e inunda a Rondon. Você nem sabe se a galeria está cheia, porque ela está escoando pelo asfalto. A primeira falha é o sistema de captação de toda a bacia que contribui para a Rondon. É um ponto principal e pode ser atacado de imediato”, destacou.
 
Outra solução, segundo o engenheiro, seria a criação de reservatórios de detenção, os chamados piscinões. Essas estruturas acumulariam á água da chuva que poderia ser liberada aos poucos, diminuindo o volume que recai sobre a avenida. O especialista disse que essa é uma das alternativas mais eficientes e utilizadas no mundo.
 
“Existia um projeto anterior que tinha um reservatório do Rio Jataí com a Rondon, no início da Anselmo Alves dos Santos. Seria um reservatório que atenuaria muito a enchente que vai para o Córrego São Pedro. O outro seria do córrego Lagoinha. Nenhum dos reservatórios foi feito. O Lagoinha tem um trecho canalizado e um aberto, um vale profundo, grande que não inunda. Mas, é uma condição natural diferente. Não houve uma urbanização às margens dele, como é o caso da Rondon”, disse.
 
CANAL A CÉU ABERTO
Outro ponto bastante comentado seria a possibilidade de se descanalizar o córrego São Pedro, criando um canal a céu aberto. Essa proposta foi criticada pelo engenheiro Laerte Bernardes Arruda. “Teria que arrebentar 5 km de canalização. Pensa a quantidade de entulho que ia gerar. Acontece que quando se tem um canal aberto, tem riscos. Hoje, os carros são levados e param nos viadutos, por exemplo. Abrindo um canal, o carro pode ser carregado para dentro”, alertou.
 
A possibilidade de uma descanalização também não foi aprovada pela geógrafa de Laboratório de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Ana Clara Mendes Caixeta, que fez o seu doutorado pela UFU explorando as enchentes que acontecem na Rondon Pacheco.
 
“A inundação é natural. Temos que ver medidas paliativas para conviver com essa inundação. Não tem como parar de inundar, é um processo que lá ocorre. Lá é um vale. Para alguns locais, deixar o córrego aberto resolve, mas aí você tem que ter um tratamento. Não pode deixar aquele cheiro. É uma obra que pode resolver para algumas chuvas, mas é uma muito grande para não ser 100% de resolução e pode gerar um problema no Uberabinha que não estava dando”, destacou.
 
Segundo a geógrafa, o problema que poderia ser causado no Uberabinha é o rio comportar a quantidade de água da chuva que chegaria com velocidade. Se não for estruturado, poderia causar inundações em outras áreas onde, atualmente, não há.
 
“Você resolve o problema na Rondon e cria um novo no Uberabinha. Você pega toda água com toda velocidade da Rondon e joga no rio. Ele vai comportar essa água que vai chegar lá a essa velocidade. Se a água desce daquele jeito na Segismundo, a João Naves também joga uma boa quantidade de água. E tem a que vem da Anselmo Alves. Fora que o relevo, quando você olha a topografia sentido Centro, do lote da direita sentido Shopping/Praia, ela é bem inclinada, a água desce com uma velocidade considerável”, explicou.
 
BOLSÕES
Entre as alternativas apresentadas pela professora, assim como pelo engenheiro, está a criação de bolsões de retenção. “Na década de 70, ou 80, a ideia era escoar o mais rápido possível a água dos córregos, das inundações. Só que, se a gente vai escoar a água, ela vai para algum lugar. E ela ia para a região do Uberabinha. Antigamente, tinha muita inundação perto do Praia. Fizeram uma obra de contenção e agora os estudos falam que precisa ter um retardamento. A ideia é fazer área de bolsões, de infiltração local”, disse.
 
Outro problema apontado por Ana Clara está no formato da Rondon Pacheco. Segundo a especialista, a via tem uma forma arredondada, que propicia a inundação. Em seu doutorado, a geógrafa sugere a criação de um parque de bolsão na região sul. “A medida é fazer algum parque de bolsões na região do Mogi e Lagoinha. Quando começa a chover, eles fecham e o parque vai enchendo de água. Quando infiltra a água, libera para o povo usar”.
 
A especialista citou o que foi feito durante a criação do bairro Novo Mundo, com a construção de bolsões que retardam o escoamento de águas para a Rondon Pacheco. “Minha inquietação é porque todo mundo fala que é porque teve a ocupação urbana e essa ocupação não permite área permeável e por isso a inundação. Quando fizeram o bairro Novo Mundo, construíram vários bolsões de água e ali é uma área que dá um retardamento para a Rondon. É distante, mas é área da bacia”, destacou.


 
O QUE DIZ O MUNICÍPIO
Um dia após a forte chuva que atingiu a cidade e inundou a Rondon, o prefeito Odelmo Leão disse, em entrevista coletiva, que o município está adotando estratégias para reduzir o problema. “Estamos fazendo no Santa Luzia a recuperação das duas represas, um levantamento na rua ao lado do Camaru, a recuperação da represa do Camaru, além de outras recuperações ao longo do Córrego da Lagoinha para evitar que essa água chegue à avenida Rondon Pacheco”, informou.
 
Em busca de mais respostas, o Diário procurou a Prefeitura para comentar sobre os pontos levantados pelos especialistas entrevistados pela reportagem a respeito das ações que poderiam ser feitas para minimizar os problemas causados pela chuva.
 
Áres verdes, bolsões, revitalização e readequação do sistema de captação:
Entre os questionamentos, a reportagem perguntou ao município se há algum projeto para revitalizar o Córrego São Pedro ou de readequação do sistema de captação de água, com isso, desafogar o fluxo que recai sobre a avenida. Também perguntou a respeito dos bolsões de água como no Novo Mundo, citados pelos especialistas.
 
A reportagem também questionou sobre a manutenção de áreas verdes que possam absorver a água. Recentemente foi aprovado pelo município a supressão de uma área de cerrado nativo do Córrego Mogi, que será desmatada para a construção de um empreendimento imobiliário. O Diário perguntou se há algum estudo de impacto sobre essa obra e a quantidade de água que será despejada no Córrego São Pedro.
 
Em resposta, a Prefeitura disse que existe um projeto, elaborado por engenheiros especializados, para desafogar o fluxo de água da Rondon Pacheco, por meio de ações estruturais no curso do córrego do Lagoinha, no âmbito do programa Buriti Cidade. O município não deu detalhes sobre o projeto, mas disse que as informações serão divulgadas em breve.
 
Ampliação de galerias
Sobre a possibilidade da ampliação de galerias, o município disse que as galerias da Rondon Pacheco já foram ampliadas e são, tecnicamente, de grande proporção. Esclareceu ainda que com início em 2011 e entrega em 2012, o projeto Nova Rondon garantiu a implantação de 4.500 metros de novas galerias e redes auxiliares de captação de água, em trecho da Rondon que vai do cruzamento com a avenida João Naves de Ávila e até a BR-050.
 
Segundo a Prefeitura, as obras de drenagem foram realizadas nos seguintes pontos:
 
1ª fase - Rede que sai da avenida Afonso Pena, desce pela rua Buriti Alegre, chega na rua Ana Carneiro e vai até o canal da Rondon.
2ª fase - Rede que sai da avenida Cesário Alvim, desce pela rua Professor Mário Porto e continua na rua Dr. Lacerda até o canal da Rondon.
3ª fase – Três redes: um desce da avenida Segismundo Pereira, outro desce da avenida Ortízio Borges e outro da avenida Belarmino Cotta Pacheco. O fluxo dessas três caem na avenida José Rezende Costa e desta vai direto para a galeria da Rondon.

Canal a céu aberto
O Diário também perguntou à Prefeitura se o município cogita a criação de um canal a céu aberto, como acontece em outras cidades como São Paulo e Belo Horizonte. Em resposta, a Prefeitura disse que não, porque, conforme análise técnica de engenheiros do município, o dimensionamento de canais, sejam eles fechados ou abertos, com escoamento por gravidade, é realizado (e funcionam) da mesma forma. Além disso, canais abertos impactam diretamente em vários aspectos do sistema viário.

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