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11/02/2021 às 12h20min - Atualizada em 11/02/2021 às 12h20min

Infectologista alerta para transmissibilidade do vírus entre crianças

Membro do Comitê, Marcelo Simão foi contra volta das aulas presenciais; mãe relata trauma com filha internada por conta do coronavírus

IGOR MARTINS
Tema tem sido alvo de discussão entre pais e professores I Foto: Danilo Henriques/Secom/PMU
Em Uberlândia, a volta às aulas segue sendo alvo de discussões e opiniões controversas por parte de pais e professores. Em meio à indecisão de levar ou não os filhos para as escolas, um dos temas mais abordados nas últimas semanas diz respeito à contaminação e transmissibilidade da covid-19 pelas crianças.

Para o infectologista Marcelo Simão, membro do Comitê Municipal de Enfrentamento à Covid-19, a maioria das crianças não apresenta sintomas do vírus e, quando apresentam, eles são muito leves. Entretanto, em conversa com o Diário, o médico afirmou que mesmo sendo assintomáticas, elas são capazes de transmitir a doença.

“Existe uma preocupação com os professores, com as merendeiras, auxiliares de limpeza, pais, avós e outros parentes. Essas pessoas podem ser contaminadas por uma criança. Vamos rezar para que isso não aconteça e os casos não aumentem”, disse Simão.

O infectologista se mostrou contrário à decisão de retomada das atividades presenciais nas escolas da cidade neste momento, que ocorreu nesta semana. Segundo Marcelo Simão, o aumento de casos do coronavírus em Uberlândia demonstra um momento muito delicado no município. No início deste mês, o Diário noticiou que o mês de janeiro bateu o recorde de contaminações desde o início da pandemia.

“Mesmo sendo do Comitê, eu tenho uma ideia divergente da decisão que foi tomada. Neste momento, eu fui contra a retomada das aulas presenciais nas escolas porque estamos em um momento difícil, em que o número de casos confirmados está aumentando. O ideal era que a situação melhorasse para que as aulas retornassem, talvez em março”, explicou o médico.
 
RELATO
 “Eu não tenho coragem de mandar nenhum filho meu para a escola. Não dá para jogar tamanha responsabilidade para as crianças com o aumento de casos do coronavírus, os óbitos e a falta de leitos”. Foi o que disse Lívia Arruda Lopes em entrevista ao Diário. Empresária e mãe de três filhos, ela e sua família passaram por momentos complicados nos últimos tempos, isso porque sua filha foi contaminada pela covid-19 e ficou em coma por oito dias.



Tudo começou no dia 8 de janeiro, quando Giovanna Arruda Nascimento, de 12 anos, apresentou dores de cabeça. Três dias depois, ela passou mal e chegou a ir a um hospital para realizar o teste de diagnóstico de covid. A suspeita foi confirmada após poucas horas. Um dia depois, sem apresentar febre ou dores de cabeça, Giovanna sofreu uma convulsão e precisou ser hospitalizada às pressas.

“Nós levamos ela para a Unidade de Atendimento Integrado (UAI) do Luizote e eles conseguiram estabilizar a situação, mas ela não voltava. Ela teve confusão mental e não abria o olho direito. Transferimos ela para a Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU) e os médicos disseram que precisariam entubá-la para induzi-la ao coma e manter a atividade cerebral”, relatou Lívia Lopes.

De acordo com os médicos, Giovanna sofreu uma encefalite (inflamação do cérebro) aguda por conta do vírus. A enfermidade não a atacou do pescoço para baixo, segundo a mãe. Entretanto, o sistema nervoso central foi infectado, inflamando o cérebro. Lívia conta que viu a filha ter uma piora considerável no segundo dia de internação.

“Ela teve descerebração (condição patológica resultante de quadros de trauma que acometem áreas cerebrais). Não respondia a nada. Graças a Deus, tentaram desentubá-la e conseguiram. O vírus afetou a visão, os movimentos, mas ela já está em casa e teve algumas melhoras. É tudo gradativo, o quadro dela foi extremamente grave. É uma menina que não tem comorbidade e é extremamente saudável”, detalhou a empresária.

Já em casa para se recuperar da covid-19, Giovanna tem tomado medicamentos. O tratamento, de acordo com a mãe, irá durar seis meses. Uma das maiores sequelas para a filha e para a família foi o trauma psicológico causado pela internação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no hospital.

“Eu tenho mais dois filhos, a Bianca, de oito (anos), e o Gabriel, de 16. Eles ficaram em estado de choque. Na hora da convulsão da Giovanna, eu achei que tinha perdido a minha filha. Foi um desespero total. Até hoje as coisas não voltaram ao normal. Nós redobramos os cuidados. Até hoje não consigo dormir direito”, disse a uberlandense.

Com relação ao retorno das atividades presenciais nas escolas municipais de Uberlândia, a empresária defendeu a necessidade de imunização dos profissionais de saúde e criticou a decisão do Município. “Nós temos dificuldades para controlarmos as crianças até em casa, imagine nas escolas. A decisão é completamente errada e desproporcional a tudo o que estamos vivendo neste momento”, afirmou.




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