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14/10/2018 às 07h00min - Atualizada em 14/10/2018 às 07h00min

Candidatos de fora se destacaram na cidade

Na eleição do último domingo, 1.599 candidatos a deputados de outras cidades tiveram votos em Uberlândia

NÚBIA MOTA
Zé Vitor, de Araguari, foi eleito deputado federal e obteve 1.780 votos em Uberlândia | Foto: Divulgação
Os chamados candidatos “paraquedistas” ou forasteiros mais uma vez fizeram a festa nestas eleições em Uberlândia. Os 73 candidatos a deputado federal e estadual com domicílio eleitoral em Uberlândia tiveram que dividir os votos dos eleitores locais com outros 1.599 candidatos de outras cidades. Ao todo, foram 230.513 votos para concorrentes de fora, o que representa 56% dos 408.600 votos recebidos pelos candidatos de Uberlândia só na cidade. Hipoteticamente, se os moradores uberlandenses tivessem concentrado o voto na cidade teria dado pelo menos para manter a representatividade do pleito de 2014, quando foram eleitos 3 nomes para Câmara Federal e 5 para a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (Almg). Ao passo que, neste ano, foi possível eleger apenas 1 deputado federal e 3 estaduais. Todos os 77 deputados estaduais eleitos e os 53 ocupantes de vagas de deputado federal por Minas Gerais escolhidos nesta eleição, receberam votos em Uberlândia.

O deputado estadual Felipe Attiê (PTB), por exemplo, que neste ano tentou uma vaga como deputado federal, precisava de pouco mais de 2.700 votos para conseguir a vitória. Se ele tivesse recebido os votos dos 1.780 eleitores de Uberlândia que escolheram o titular da vaga, José Vitor de Resende Aguiar (PMN), o Zé Vítor de Araguari, eleito pela primeira vez para o cargo, e os 1.217 votos de Adelmo Leão (PT), que é de Uberaba e não conseguiu se releger, daria tranquilamente para Attiê ocupar uma das 53 vagas de Minas para a Câmara Federal. “Não houve um esforço do prefeito municipal Odelmo Leão (PP) para garantir uma representação de Uberlândia dentro da Câmara Federal e da Assembleia. Outra coisa que atrapalhou muito foi esse tanto de candidato, e porque o povo quis uma mudança e a gente precisa respeitar o povo”, afirmou Attiê. Nesta semana o Diário falou com o prefeito Odelmo sobre o resultado do pleito.

Para Zé Vítor, do mesmo jeito que candidatos de outras cidades receberam voto em Araguari, ele também teve votos em outros 475 municípios mineiro, além da sua terra natal. Para ele, a vitória se deve ao trabalho que ele desempenha há anos na área ambiental, dentro da Igreja Católica e na educação superior. O deputado federal eleito é professor de Agronomia na Unipac de Uberlândia, já foi superintendente da Superintendência Regional de Meio Ambiente (Supram – Triângulo Mineiro), também com sede em Uberlândia, e é casado com uma uberlandense, a médica Mírian Fagundes dos Santos Aguiar. “Candidatos de Uberlândia foram votados em Araguari e nem por isso estou lamentando. Tenho uma relação pessoal na cidade. Fiz agronomia na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), milito nessa área ambiental e tenho contato com diversos setores dessa área, participo do Encontro de Jovens com Cristo (EJC) e tenho vários amigos na cidade. Sou araguarino, mas vou trabalhar para o desenvolvimento de toda região. Fico muito feliz com os votos que tive em Uberlândia e vou retribuir com muito trabalho”, afirmou Zé Vítor. 

De acordo com o cientista político João Batista Domingues Filho, na democracia o voto do eleitor é soberano e ele tem a autonomia de votar de acordo com a sua consciência. “Se o eleitor não escolheu candidatos da cidade é porque não reconheceu neles a representação do seu interesse. Não podemos culpar o eleitor por nada, ele escolhe de acordo com sua preferência. Os eleitores de Uberlândia estão dizendo: ‘Eu não quero que vocês me representem nem na Assembleia nem na Câmara’”, disse o especialista.

Mesmo com o recorde no número de candidatos de Uberlândia - 28 a deputado federal e 45 para deputado estadual -, ao passo que em 2014 foram 24 concorrentes a Assembleia e 12 a Câmara Federal, o cientista político disse que a queda da representatividade em Uberlândia não pode ser atribuída ao aumento do número de concorrentes. “É interesse do partido lançar mais candidatos e não pode misturar isso com a escolha dos eleitores. Uma coisa não atrapalha a outra. Quanto mais candidatos os partidos lançarem, mas opções os eleitores vão ter de escolha. Se não foram eleitos, é porque o eleitor gostou de poucos”, disse Joao Batista.

A redução no número de deputados eleitos por Uberlândia, segundo o cientista político, em tese, também não deve interferir no desenvolvimento da cidade, já que a Constituição Federal garante que os recursos arrecadados pelo Estado e União sejam destinados a Uberlândia. “O interesse dos deputados estaduais e federais é participar da distribuição do orçamento, mas eles não vão fazer isso pensando em Uberlândia, ele vão vir aqui mostrar que fizeram emendas, mas estão pensando na reeleição deles. Com ou sem deputado estadual e federal, os orçamentos do Estado e União serão destinados para a cidade. Parte desse recurso, a própria Prefeitura arrecada e decide na Câmara de vereadores como vai ser distribuído”, disse João Batista Domingues Filho.  

 
CAMINHO INVERSO
Três dos quatro representantes da cidade tiveram mais votos fora
 
Dos quatro candidatos eleitos a deputado com domicílio eleitoral em Uberlândia, três tiveram mais votos fora da cidade do que no colégio eleitoral local. No caso de Weliton Prado (Pros), o único representante uberlandense a garantir uma vaga na Câmara Federal, apenas 20% dos votos foram de eleitores de Uberlândia, onde ele obteve 26.459 votos dos 129.199 recebidos em todo o Estado.

Já entre os três reeleitos para a Assembleia de Minas, apenas Luiz Humberto Carneiro (PSDB) teve mais votos em Uberlândia, mas, mesmo assim, ele dependeu de quase 49% dos votos de fora para conquistar a vaga. Na cidade, ele teve 25.739 votos, dos 50.341 de todo o Estado.

Elismar Prado (Pros) teve 42% dos votos locais, o que representam 22.935 eleitores do município frente aos 53.842 em território mineiro. E Leonídio Bouças (MDB), assim como Weliton Prado, teve a maior parte dos eleitores de fora. Em Uberlândia foram 20%, ou seja, 10.583 dos 52.593 votos totais. 

Todos os vencedores da campanha em Uberlândia tiveram uma votação menos expressiva dentro da cidade nesse ano. A maior queda foi no resultado de Weliton Prado, que teve a metade dos eleitores de Uberlândia do lado dele em relação ao último pleito, em 2014.

Felipe Attiê precisaria de mais 2.700 votos para conseguir a vaga na Câmara Federa
oto: Willan Dias/ALMG

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