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04/07/2024 às 18h00min - Atualizada em 04/07/2024 às 18h00min

Em dois anos, câncer atingiu 630 pessoas com menos de 50 anos em Uberlândia

Dados revelam aumento de diagnósticos entre pacientes mais jovens; oncologista atribui cenário a fatores genéticos e estilo de vida

JUAN MADEIRA | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Especialistas alertam para fatores de risco e prevenção do câncer | Foto: Agência Brasil

Nos últimos dois anos, mais de 630 pessoas com menos de 50 anos foram diagnosticadas com câncer em Uberlândia, conforme dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES) e do Datasus. Em 2022, a doença afetou 309 pacientes da faixa etária, enquanto em 2023, o número de casos subiu para 324. 

Em entrevista ao Diário, a oncologista Gisela Matos Franco apontou que os casos de câncer na população mais jovem têm duas principais origens. A primeira tem relação com os casos genéticos hereditários e a segunda se trata do estilo de vida.

 

“Pessoas com herança familiar têm predisposição genética a desenvolver essas doenças em idade mais precoce, o que explica parte dos casos em jovens. Outro ponto é influenciado pelo estilo de vida, como sobrepeso, obesidade, alimentação rica em alimentos ultraprocessados, poluição e exposição hormonal. Esses fatores têm contribuído para alterações que acontecem mais cedo, aumentando a incidência entre pessoas mais novas", acrescentou.

 

Os tipos de câncer mais comuns entre as pessoas com menos de 50 anos são tumores de intestino e  tumores ginecológicos, como os de mama e colo do útero. Em razão disso, as mulheres são as principais vítimas, com 71% dos casos. Nos últimos dois anos, 451 mulheres foram diagnosticadas com câncer em Uberlândia. 

 

“As meninas têm menstruado cada vez mais cedo, então há uma janela de exposição estrogênica maior, o que pode estar relacionado a tumores mamários e ginecológicos”, explicou Gisela.

 

A oncologista enfatizou a importância de um estilo de vida saudável como principal medida preventiva. “Evitar a ingestão excessiva de álcool, o tabagismo, não ter uma alimentação rica em ultraprocessados, manter uma rotina de atividade física e controlar o peso são fundamentais para a prevenção”, orientou.

 

Ainda de acordo com a média, as pessoas devem estar atentas a sinais e sintomas que podem surgir. “É importante observar qualquer anormalidade no corpo. No intestino, há alterações como prisão de ventre, dor para evacuar e sangue nas fezes. Outro sintoma comum a vários tipos de câncer é a perda de peso sem explicação".

 

No caso das mamas, a mulher pode perceber nodulações e alterações na pele, e no caso do colo do útero, algum sangramento anormal e dor na relação sexual são sinais de alerta. “É importante reconhecer o que é diferente do habitual e fazer acompanhamento médico de rotina”.

 

DIAGNÓSTICO INESPERADO
A publicitária Vanessa Michelon, de 35 anos, recebeu um diagnóstico de câncer de mama aos 34 anos e, segundo ela, o processo foi longo e inesperado. “O diagnóstico foi uma surpresa para mim porque eu não imaginava que poderia ser câncer e também porque, nos momentos em que cogitei, não imaginava a amplitude disso”.

Residente em Uberlândia, mas atendida inicialmente em Patrocínio, Vanessa notou dois nódulos do tamanho de uma ervilha no seio, um ano antes da descoberta. “Fui atendida em um posto de saúde e disseram que não era nada, pediram para eu voltar depois de seis meses. Isso foi em abril de 2022”, relatou. 

Após seis meses, ao refazer o exame, a médica concluiu que os nódulos não haviam crescido, mas pareciam ter se juntado. Vanessa foi então encaminhada para uma especialista, mas esperou outros seis meses para ser atendida. “Nesse ponto, eu já tinha dores, não conseguia dormir de lado e meu seio estava inchado, um bem diferente do outro”, explicou.

Quando finalmente conseguiu se consultar com o especialista, foi uma corrida contra o tempo para diagnosticar e iniciar o tratamento o quanto antes. Em maio de 2023, ela recebeu o diagnóstico no dia 15 de junho e já iniciou o processo de tratamento.

Vanessa finalizou a primeira fase do tratamento em março de 2024, após passar por quimioterapia, cirurgia e radioterapia. Agora, ela está em bloqueio hormonal para suprimir os hormônios, já que o câncer era positivo para receptores de hormônios. 

“Estou voltando a trabalhar aos poucos, atendo alguns clientes para me manter ativa. Sou publicitária de formação e atuo no marketing digital há uns 12 anos”, afirmou.

Hoje, Vanessa se sente bem, com o cabelo crescendo e retomando a normalidade em muitas áreas da vida, embora reconheça as mudanças físicas e emocionais que o tratamento trouxe. “Estou em um processo de adaptação há uns dois meses”, disse.

Além disso, Vanessa fundou o grupo de apoio Mulheres Informadas e Curadas, inspirado por relatos que viu no Instagram. “O projeto já está sendo encaminhado para virar um instituto de apoio a mulheres em tratamento de câncer, fornecendo informações, orientações e desenvolvimento pessoal e profissional, com profissionais da saúde, nutrição, terapia e desenvolvimento humano com a psicologia positiva”, explicou.

A publicitária destacou, por fim, que percebeu formas de auxiliar outras mulheres, contribuindo significativamente para o desfecho positivo do tratamento. “Quando alguém mantém uma mentalidade positiva, compreende melhor o momento presente e o que realmente importa, isso proporciona maior tranquilidade, reduz a ansiedade e ajuda a identificar o que pode melhorar o bem-estar. A abordagem da psicologia positiva foi fundamental para que eu atravessasse meu tratamento de forma positiva”, concluiu. 

CÂNCER APÓS OS 50

Conforme apontam os levantamentos da SES-MG e Datasus, nos últimos dois anos, Uberlândia totalizou 3.359 novos casos de câncer. Mesmo que a quantidade de diagnósticos tenha aumentado entre a população com menos de 50 anos, a maioria das ocorrências (82%) continua sendo em pessoas mais velhas. 

 

Os dados apontam que em 2022, mais de 1,3 mil pacientes com mais de 50 anos de idade foram vítimas do câncer, enquanto em 2023, foram 1.330 diagnósticos, um total de quase 2.800 casos durante o período. 

 

Entre as pessoas da faixa etária, 1.428 são homens, representando 52% dos casos, e 1.298 são mulheres, correspondendo a 48% dos diagnósticos. Os tipos de câncer mais frequentes nesse grupo são neoplasia maligna da mama (301 casos), melanoma maligno da pele (416) e neoplasia maligna da próstata (519).

 

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