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05/10/2018 às 10h49min - Atualizada em 05/10/2018 às 10h49min

Muito além dos esportes radicais

País conhecido pelos roteiros de adrenalina também oferece opções para quem quer relaxar e tomar um bom vinho

FOLHAPRESS
Te Mata Peak, cadeia de montanhas de onde é possível avistar Napier e vinhedos | Foto: Divulgação
Com apenas 4,5 milhões de habitantes, a Nova Zelândia é uma potência turística considerado o seu tamanho. Recebe 3,5 milhões de estrangeiros ao ano e tem na atividade contribuição à economia nacional de 17,5% do PIB, muito acima dos 10,2% da média mundial, segundo o World Travel and Tourism Council.

Mas turismo não costuma casar bem com estatística, e quem decide conhecer a Nova Zelândia normalmente está em busca de algo menos mensurável: emoção. E nisso o país não decepciona. Em suas duas ilhas principais há praias que poderiam estar no Taiti e montanhas nevadas também chamadas Alpes; florestas de coníferas, gêiseres, lagos com atividade termal e vales com rios.

Por vocação ou oportunidade, esses locais se tornaram cenários para a prática de esportes de ação como bungee jump, esqui, surfe, canoagem e rafting. Para o guia "Lonely Planet", é o país com as melhores trilhas do mundo. Não é casual que seu slogan seja "100% pure" (100% pura), em referência à natureza, ou melhor, ao que pode ser vivido nela.

Mas o apelo "go outside" da Nova Zelândia pode, ironicamente, eclipsar belezas de outra ordem. O país está entre os 15 maiores produtores de vinho do mundo, tem brancos e tintos de distinção, e jogar na primeira divisão do enoturismo talvez seja apenas questão de tempo.

Em outro front, Napier, na ilha Norte, é uma das gemas mundiais da arquitetura art déco, dominante nos anos 1920 e 1930, com 140 prédios representativos do estilo. Toques da cultura maori, originária do país, foram acrescidos às linhas geométricas, às formas de templos mesopotâmicos e aos tons pastel próprios da escola.

Talvez para chamar atenção para esse lindo conjunto, que se equipara ao de Miami Beach –as construções são todas baixas, de dois andares –, Napier é, desde o ano passado, cenário de uma maratona, evento-fetiche de corrida cada vez mais utilizado como ferramenta de turismo.

Na beira-mar de Napier, locais e turistas se alinham todo maio para uma prova que termina numa vinícola, na vizinha Hastings. Embora provavelmente jamais tenha a escala de provas queridas dos "maraturistas" como Nova York, Paris e a da Muralha da China, os propósitos aqui são elevados: o maior patrocinador é a Air New Zealand, companhia aérea nacional que é, ela mesma, uma atração turística por conta de seus revolucionários e divertidíssimos vídeos de procedimentos de segurança a bordo.

TERREMOTO

Alvejada por um terremoto de 7,8 pontos na escala Richter em 1931, Napier foi reconstruída em boa parte em estilo art déco, comum na época e, talvez mais importante, de baixo custo, um imperativo do tempo da Grande Depressão. Uma caminhada que tenha início no Art Masonic Hotel ou no vizinho Art Deco Shop e que se desenrole pela rua Tennyson permite ver pérolas como o Teatro Municipal, o prédio do jornal "Daily Telegraph" e diversos outros imóveis anônimos, alguns com placas de comércio a esconder-lhes a beleza.

Pouco mais distante, o edifício da National Tobacco Company é considerado o mais relevante e parece estranhamente familiar. Seu tamanho discreto e a limpeza de ornamentos lembram algo construído para um set de cinema. Para uma imersão completa, no verão, em fevereiro, o Art Deco Festival celebra esse mundo "vintage" em eventos em que anfitriões e visitantes capricham no "dress code" e rodam em carrões Plymouth originais.

E se os prédios art déco de Miami Beach têm uma avenida à beira-mar, a Ocean Drive, a otimizar-lhes a graça, Napier não fica atrás. Sua Marine Parade é uma bonita esplanada, com jardins planejados e o National Aquarium, com cinco espécies de tubarão e dois animais endêmicos: a ave kiwi (gerou o apelido que denomina tudo no país, até seus habitantes) e o tuatara, que parece um lagarto e pode viver cem anos.
 
 RELAX
Spa a céu aberto tem gêiseres e lago vulcânico

 
Se a Nova Zelândia é o paraíso dos esportes radicais, as 72 virgens estão em Rotorua, a 230 km de Auckland, maior cidade e principal porta de entrada do país. Em Rotorua, a atividade geotérmica é incessante, fazendo da região e do lago homônimo um gigantesco spa a céu aberto.

Relaxamento aqui é um imperativo, o que pode ser feito nas praias lacustres ou em termas fechadas e mais exclusivas, como o Polynesian Spa, que tem dezenas de pequenas piscinas de água mineral alimentadas por fontes que jorram direto do lago Rotorua. Para quem gosta de água entre 36 e 42 graus centígrados, poucos lugares parecerão tão acolhedores.

Os melhores engenheiros dos parques de diversão da Flórida talvez não tivessem competência para criar tantas variações em torno de um único tema como aqui. Há os gêiseres de onde a água jorra a uma altura de 30 metros em Wai-o-Tapu, crateras com águas borbulhantes no Waimangu Volcanic Valley, emanações multicoloridas às margens do próprio lago Rotorua, e, permeando tudo, como uma assinatura caprichosa do autor, um odor violento de ovo podre, razão de Rotorua ter o apelido de "cidade sulfurosa". O cheiro se torna assimilável ao longo dos dias no lugar. Afinal, é preciso se aproximar do lago para senti-lo.


Baía de Oneroa, na ilha Waiheke, que tem cerca de 90 quilômetros quadrados de área, na Nova Zelândia​ | Foto: Divulgação

SEQUOIAS

No meio do belo parque Redwoods, a seis quilômetros do centro, o turista nem mesmo se lembra de que existe um grande lago por ali. Um santuário de sequoias, essas idosas e gigantescas árvores que são famosas nos parques da Califórnia, pode ser apreciado em pontes suspensas ou em trilhas muito bem sinalizadas. Bikers também são bem-vindos por ali, e os caminhos desde Rotorua são todos off-road.

HAKA

As tradições maoris ficam um pouco mais evidentes em Rotorua, onde parcela razoável da população descende desses primeiros habitantes da Nova Zelândia. Em diversos lugares há espetáculos com gradações diversas na escala pega-turista, mas, de qualquer forma, aprende-se algo sobre ritos e costumes para além do "haka", a coreografia beligerante popularizada pelos All Blacks, célebre seleção de rúgbi do país.

Próximo do Polynesian Spa fica a Tamaki Maori Village, cuja "experiência" noturna inclui jantar, mesa de sobremesa e coreografias em que a proximidade de artistas com o público é tão extrema que por um instante podemos nos imaginar em pleno Teatro Oficina. Para algo menos imersivo, um templo maori com seus totens característicos na beira do lago Rotorua, próximo do hotel Ibis, o Te Papaioru, vale como destino de uma caminhada informal.
 
 VINHO
Perto da metrópole, ilha parece paraíso tropical

 

Vinícola na baía de Hawke, na Nova Zelândia, que tem se destacado pela qualidade dos vinhos | Foto: Divulgação

 A vegetação é copiosa, os caminhos são sinuosos, morros se elevam e despencam a todo momento e as praias são enseadas. Se Ilhabela ficasse em Taboão da Serra ou em Perus, e não a 200 km de São Paulo, talvez a comparação pudesse fazer mais sentido. Afinal, Waiheke está muito perto de Auckland, a grande metrópole neozelandesa.

Basta pegar uma balsa no waterfront de Auckland e em 40 minutos o turista chega à baía de Matiatia, na ponta oeste da ilha. Com cerca de 90 km² de área, Waiheke é quatro vezes menor do que Ilhabela, mas guarda semelhanças no conjunto de praias mansas, nos muitos mirantes de onde é possível avistá-las e até na extensão da malha cicloviária, aquém do desejável.

Mas o valor agregado do vinho, que aqui encontra um microclima sem temperaturas extremadas e um solo apropriado –o que os especialistas chamam de terroir–, faz de Waiheke algo mais do que mais um balneário bastante bom para serviço público, na arguta expressão do escritor Tom Wolfe.

Destino "imperdível" segundo o guia "Lonely Planet", a ilha tem 25 propriedades que produzem 13 tipos de uvas viníferas. Syrah, merlot e a branca pinot gris são as mais presentes.
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