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13/09/2018 às 09h20min - Atualizada em 13/09/2018 às 09h20min

Brinque de esquimó perto de casa, na terra do vulcão onipresente

Neve vai até novembro na região do Lonquimay, com trilhas na floresta e estações de esqui

FOLHAPRESS
A trilha no gelo é percorrida a pé próxima ao vulcão Lonquimay, que fica a 2.865 metros de altitude, perto de Malalcahuello e Curacautín, no Chile. Trajando roupas pesadas para combater a temperatura abaixo de zero e calçando "snowshoes", espécies de raquetes utilizadas por esquimós para andar na neve, o grupo de turistas tem como uma das principais atrações do passeio de duas horas –mas longe de ser a única – uma araucária cuja idade é estimada em 1.400 anos. Com 30 metros de altura (o equivalente a um prédio de dez andares), a árvore é vista pelo guia Ricardo Castro como ponto obrigatório de parada de visitantes da reserva natural de Malalcahuello. "É onde todos querem ir, pela imponência, importância e beleza", disse ele, que trabalha na região há 24 anos.

A combinação de se aproximar do vulcão, esquiar na neve e brincar de esquimó tem atraído cada vez mais turistas, brasileiros especialmente, à região de Curacautín, 676 quilômetros ao sul de Santiago. O passeio calçando as "raquetes" é feito com até um metro de neve no solo, profundidade atenuada com o uso dos equipamentos apropriados – além dos calçados, bastões para apoio e roupas impermeáveis integram o kit obrigatório para a atividade. Ter um bom guia é fundamental, já que ele conhece a região e sabe onde é seguro caminhar. Não é raro avistar lebres e raposas pelo caminho. O inverno está prestes a terminar no Brasil, mas em algumas estações de esqui no Chile ainda há neve. Em Corralco, próximo ao vulcão Lonquimay e a cem quilômetros da fronteira com a Argentina, a temporada neste ano vai até o dia 1º de novembro, de acordo com o Serviço Nacional de Turismo do Chile.

A Associação de Centros de Esqui do país espera que neste ano 1,4 milhão de pessoas visitem as estações para praticar o esporte ou apenas conhecer o ambiente gelado. A ocupação média dos hotéis em 2018 ano está em 82%, ante os 79% registrados no ano passado, conforme o Hoteleros de Chile (sindicato dos hotéis). A melhora do índice contribui para ampliar a fatia do turismo na economia nacional, hoje baseada na produção de cobre e madeira. Formado por rochas basálticas e andesito, o Lonquimay está ativo, mas sua última erupção ocorreu em 1988 – e durou até 1990. O mais grave registro data dos anos 1960. No topo da região, o vulcão é enxergado praticamente de todos os pontos da reserva nacional de Malalcahuello, que atrai especialmente famílias.

Além de cabanas para hospedagem, o local tem um resort, aberto em 2013, que integra o complexo da estação de esqui de Corralco. A área tem 1.800 hectares de terrenos esquiáveis, o correspondente a 2.521 campos de futebol. Para os mais radicais, há passeios até a cratera do vulcão, de 800 metros de extensão, numa aventura de até seis horas de duração que deve ser acompanhada por guias. A estação de esqui, de onde parte a trilha, fica numa altitude de 1.200 metros. Para chegar ao vulcão, portanto, é necessário subir 1.665 metros.

Quem acha, no entanto, que esquiar é radical o bastante para uma única viagem, há opção de passar o dia deslizando na neve. O custo com o aluguel de equipamentos e com as aulas custa cerca R$ 800. É possível aprender a esquiar não só em Corralco, mas também em Farellones, La Parva, El Colorado e Valle Nevado. Em todas essas estações, após uma hora de aprendizado, o turista já começa a se divertir, ou pelo menos não cair na primeira tentativa. Nas aulas, os monitores ensinam a forma correta de usar as pernas e o tronco e – muito importante– como fazer o esqui parar. É possível alugar equipamento para um dia por R$ 270 no Valle Nevado – custo que sobe com as roupas impermeáveis, capacete, óculos protetor e instrutor.

Como a subida até a estação próxima a Santiago é repleta de curvas – há cerca de 60 delas –, a recomendação é que o turista faça apenas uma refeição leve antes do percurso, para evitar possíveis enjoos. Também é indicado que não utilize roupas de algodão, pois no caso de o visitante transpirar ou se molhar, dificilmente a peça secará rapidamente devido às baixas temperaturas.

Em relação à estação Valle Nevado, a mais procurada no entorno de Santiago, Corralco tem pista para iniciantes menos inclinada, daí a procura de famílias pelo local. Todas as noites ocorre o encerramento das atividades do dia com coreografias feitas por esquiadores com tochas de fogo. Se esquiar e fazer trilha perto do vulcão são uma aventura, a própria viagem de Santiago à região do Lonquimay ("densa floresta" na língua mapuche, dos indígenas que viviam na região antes da chegada dos espanhóis) é um bom aperitivo do que virá pela frente.

Após chegar à capital chilena – a quatro horas de voo de São Paulo –, o turista precisa voar mais uma hora e 20 minutos até Temuco e viajar por mais 120 quilômetros de carro. Com neve na pista, o que é quase regra no inverno, o percurso é feito em no mínimo duas horas. Mas o visual compensa o esforço. As araucárias dominam a paisagem. Não há cidades grandes no trecho, apenas vilas com pequenos mercados e cabanas de madeira típicas das regiões geladas do globo. A estação de Corralco é um atrativo recente do Chile. O local foi cedido pelo governo em 2005 a um grupo de empresários que investiu num resort com 54 apartamentos e na criação da estação de esqui, que tem 29 pistas. Parte delas tem um grau de dificuldade elevado, com inclinação superior a 60 graus e é acessível apenas aos esquiadores profissionais.

A estação, que conta com seis teleféricos, fica a três minutos do resort e a menos de 20 minutos de cabanas instaladas nas rodovias próximas.

ATENÇÃO
Fuja de pousada gelada e de outras roubadas


Vistas de longe, as cabanas na neve no sul do Chile, na pequena cidade de Malalcahuello, a 130 quilômetros do aeroporto de Temuco, são lindas e lembram cenário de filme. Dezenas delas se espalham dos dois lados da estrada, em meio a pequenos e bons restaurantes. Se do lado externo a temperatura pode chegar a -11ºC, dentro das cabanas a calefação resolve o problema. Ou não. A reportagem ficou hospedada uma noite numa delas em que o sistema só funcionou por volta das 5h da manhã. Até isso ocorrer, dá-lhe blusas e mais blusas. Do mesmo modo, visitar, na mesma cidade, uma estância com águas termais enquanto a neve cai do lado de fora parece tentador. O local atrai centenas de visitantes todos os dias, a um custo de R$ 120 por pessoa.

Bonita por fora, é lotada por dentro e passa a impressão de que não é reformada desde a década de 1970. Esses passeios no Chile, que atraem milhares de brasileiros todos os anos, podem esconder algum tipo de "armadilha" e é importante ficar atento para escapar delas. Certifique-se, antes de partir, de que os serviços anunciados de fato funcionam. Isso não vale apenas para os destinos mais distantes da capital, Santiago. Na própria cidade, evite horários de pico, durante o inverno, para ir até estações de esqui como Valle Nevado (a 65 quilômetros da capital) ou para deixar o local no fim do dia.

Com a neve, é comum motoristas estacionarem seus carros e vans no meio das curvas para colocarem correntes nos pneus. Sem os acessórios, é praticamente impossível chegar às estações de esqui. Isso retarda a viagem de todos e, aliado ao excesso de veículos na temporada, o tempo gasto com a subida e a descida da cordilheira pode chegar a seis horas. Moradores também recomendam que o turista fuja de lojas com as quais agências de city tour tenham acordos comerciais. Isso porque elas podem ter preços mais elevados – vale de locais que vendem souvenirs para a família às que alugam roupas para esquiar.

Outro destino muito procurado – e com algumas pegadinhas para os visitantes – é Valparaíso, a 120 quilômetros de Santiago, declarada patrimônio da humanidade em 2003 pela Unesco. A cidade abriga a La Sebastiana, uma das três casas do poeta chileno Pablo Neruda, ganhador do Nobel, e que oferece uma vista do oceano Pacífico, da própria cidade e da vizinha Viña del Mar. Por isso, em períodos de pico, é preciso esperar até uma hora para conseguir entrar. Além de a casa ter corredores estreitos, a fila se forma também para que o turista possa visitar o local com o audioguia. Portanto, evite o início ou o fim do dia.
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