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10/04/2018 às 05h14min - Atualizada em 10/04/2018 às 05h14min

Uma Argentina além dos tangos e pampas

Jujuy tem aspectos ímpares ainda desconhecidos de brasileiros, como desertos coloridos e depósitos de sal

ROBERTO DE OLIVEIRA | FOLHAPRESS
Montanhosa e com forte influência andina, Jujuy contrasta com parte platina e mais famosa da Argentina | Foto: Roberto de Oliveira/Folhapress

Bastaram quatro passos dentro do Boeing 737-700, em um fim de tarde primaveril no aeroporto de Buenos Aires, para mirar uma garota de traços indígenas, cabelos negros e compridos, bochechas fofinhas e olhos amendoados, levemente rasgados. Duas horas de voo naquela sorridente companhia serviram para que nos aclimatássemos ao que seria uma imersão no coração da Argentina indígena e andina, mais "hermana" de seus vizinhos como Chile e Bolívia, tanto nos traços físicos quanto nos costumes e na cultura.

Aterrissamos no aeroporto de San Salvador de Jujuy. Localizada a 1.400 km de Buenos Aires, a capital da província de Jujuy tem uma população de 330 mil habitantes. Em suas ruas centrais, mulheres vestidas de xales coloridos com bebês amarrados às costas caminham em grupo, murmurando em quíchua, língua indígena ainda hoje falada em países da cordilheira dos Andes.

Aos poucos, o noroeste argentino vai se revelando uma região de características ímpares, com desertos cor de ocre e depósitos de sal que mais se parecem amontados de neve, por onde rebanhos de lhamas pastam ao léu.

Seguimos quase sempre pela Rota 9, rodovia que cruza povoados de uma região árida, repleta de formações geológicas milenares e multicoloridas. Num itinerário que acumula mais de 10 mil anos de história, desponta a Quebrada de Humahuaca, formação geológica que ocupa um vale montanhoso de 155 km de extensão, declarado patrimônio da humanidade na categoria paisagem cultural.

Logo na entrada de Purmamarca, vilarejo a 65 km de San Salvador, uma parada. É ali que estende-se o Cerro de Los Siete Colores. Ao longo de milhares de anos, a natureza vem exercendo a arte de pintar pontos dessa colina de amarelo, laranja, vermelho, verde, marrom, lilás e violeta.

Povoado de terra batida, a vizinha Tilcara é conhecida como a capital arqueológica da província, enquanto Humahuaca, riscada por ruelas de pedra iluminadas por lâmpadas de ferro forjado, é a sede histórica da quebrada. Lá está a Serranías de Hornocal, impressionante colina de 14 cores (o guia não pode bobear, porque vocês precisam chegar lá no momento exato em que o sol incide diretamente sobre a montanha, potencializando, assim, sua coloração).

Moradores desses charmosos povoados têm especial apreço à Semana Santa, feriado que se destaca no calendário de celebrações sincréticas.

Peregrinos de diferentes etnias indígenas se conectam por estradas construídas no período inca e percorrem 24 km até chegarem ao santuário da Virgem, a 4.000 metros.

Atinge um pouquinho mais quem serpentear a Cuesta del Lipan, uma impressionante estrada sinuosa cuja altitude máxima chega a 4.100 metros. É de causar vertigem.

Por ela, alcançamos o deserto de sal argentino, as Salinas Grandes, uma monumental crosta (com cerca de meio metro de espessura), acumulado após secar um lago que ali existia há milhares de anos. Estamos na Rota 52, que liga a Argentina ao Deserto do Atacama, no Chile.

No lugar do caleidoscópio das montanhas, a paisagem segue estonteante mas desta vez bicolor: o azul-celeste domina o céu e parece fundir-se à imensidão branca do sal. É mais uma das inúmeras e surpreendentes paisagens dessa região ainda pouco conhecida pelos brasileiros.
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