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18/02/2018 às 05h51min - Atualizada em 18/02/2018 às 05h51min

Camping também pode ser cinco estrelas

Com confortos de hotel, glamping é alternativa para se hospedar em lugares turísticos de difícil acesso

ANA LUIZA TIEGHI | FOLHAPRESS
Entardecer visto de barraca no Roving Bushtops, na Tanzânia, onde é possível dormir próximo a animais da savana / Foto: Folhapress

Acampamento não costuma combinar com luxo, mas há uma modalidade de hospedagem que une as duas coisas: o glamping, expressão que resulta da junção das palavras camping e glamour.

O objetivo é oferecer conforto e, ao mesmo tempo, levar o hóspede para bem perto de lugares de difícil acesso com atrativos naturais.

Desde 2002, o Parador Casa da Montanha, em Cambará do Sul (RS), permite acampar em barracas com cama king size, lençol térmico, calefação, lavabo e energia elétrica. Os modelos maiores de cabanas têm até banheiro próprio; na versão mais simples, os hóspedes tomam banho em um vestiário com produtos da L'Occitane, marca do spa do hotel.

"É como estar realmente acampando. Se chove, você ouve a água batendo na lona, ouve o barulho dos pássaros, do rio", diz Rafael Peccin, diretor de marketing do hotel.

Outro veterano do acampamento com algo a mais no Brasil é o Korubo, que mantém 17 barracas próximas do Parque Estadual do Jalapão, a 315 km de Palmas (TO).

As cabanas são grandes, a ponto de permitir que um adulto fique em pé, e vêm com cama e lavabo. Para tomar banho, também é preciso se dirigir a um vestiário, com água aquecida pelo sol.

"Proporcionamos o conforto adequado para quem está querendo curtir a natureza e ficar longe de internet e celular", diz Luciano Rodrigues Cohen, que criou o Korubo em 2001. Do acampamento, partem expedições para conhecer o Jalapão.

A área das cabanas fica a cem metros do rio Novo e por lá é possível encontrar antas, veados, emas, lobos-guarás e outros animais do cerrado.

"Quando a gente é criança, brinca de acampar no próprio quarto, e acho que as pessoas ficam com essa coisa na cabeça. Quando surge a oportunidade, querem
fazer", diz Cohen. Segundo ele, pelo menos 75% dos hóspedes são mulheres.

"O pessoal do Korubo trouxe para o Brasil a ideia de elevar o nível do acampamento para que pessoas que não são habituadas à prática possam viver a experiência proporcionada por dormir em uma barraca em um lugar lindo", afirma Bobby Betenson, dono da agência de viagens de luxo Matueté.

Para ele, o glamping é procurado por quem já fez viagens clássicas e quer conhecer algo novo. "O cara que está sonhando ter um carrão não vai achar barraca um luxo, mas quem já tem, acha."

NO MEIO DA MATA

Com chalés em vez de barracas, o autointitulado glamping Mangarito, no Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira (Petar), em Iporanga (SP), tenta passar a sensação de estar acampado no meio da mata atlântica. Já o Anavilhanas Jungle Lodge (AM) integra o hóspede à floresta amazônica.

Ambos investiram em cabanas sobre palafitas, com muito vidro e materiais naturais. "A interação com a mata é maior do que em uma pousada normal", afirma Vandir de Andrade Júnior, dono do Mangarito.

"A ideia é que o hóspede se sinta dentro da mata, mas com todo o conforto possível e sem qualquer chance de a floresta entrar no quarto junto com ele", afirma Augusto Costa, proprietário do Anavilhanas. No caso de seu hotel, a inspiração para as cabanas foi a arquitetura dos ribeirinhos e dos índios.

Erguer cabanas foi a solução encontrada pelos donos do Hostel da Vila, em Ilhabela (SP), para ampliar as acomodações. "Minha ideia era aumentar o número de leitos, mas a casa do hostel é alugada, e não podemos expandir construindo em uma área que não é nossa", afirma Felipe Gamba, um dos proprietários do empreendimento.

Desde novembro de 2017, eles oferecem três cabanas de glamping, com energia elétrica, ar-condicionado e cama box. Em janeiro, lançaram uma kombi reformada que também recebe hóspedes.
 
MUNDO

Espaços prometem conforto próximo à natureza

O glamping é uma alternativa de hospedagem para lugares de difícil acesso ou onde o impacto ambiental com a construção de um hotel tradicional seria muito grande.

O Longitude 131º, no Parque Nacional de Uluru-Kata Tjuta, na Austrália, fica próximo a um monolito considerado sagrado por povos nativos, em uma zona árida no centro do país, e sua construção é discreta no ambiente.

O Ecocamp Patagonia, na Patagônia Chilena, está localizado no Parque Nacional de Torres del Paine, ao final da Cordilheira dos Andes, em um lugar de acesso difícil. Suas cabanas têm formato circular, como um iglu, construção típica dos antigos habitantes da região.

Glampings são bem comuns em desertos. O Merzouga Luxury Desert Camps fica no Marrocos, no deserto do Saara, a nove horas de Marrakech. Tem dois campos de tendas, um maior, com 15 barracas de lona, e outro privativo, com cinco.

De acordo com Céline Deschamps, diretora de marketing do Merzouga, o que torna o hotel especial é a "experiência do deserto, longe de tudo, combinada com conforto", e a junção de "uma bela localização, longe de outros acampamentos, sem barulho ou poluição visual, com serviço acolhedor, banheiro privativo e tendas de 24 metros quadrados."

Em savanas africanas, os glampings servem de base para safáris. O Roving Bushtops, que fica no Parque Nacional de Serengeti, na Tanzânia, é um exemplo. Suas cabanas são construídas em bases móveis, deslocadas por caminhões conforme a migração dos animais, para facilitar o acesso dos turistas.

Sylvia Silva, gerente de vendas da agência de turismo Selections, se hospedou no local no ano passado. "Você se sente dentro da savana quando está na barraca", diz. Ela ouvia barulhos de insetos e hienas a noite toda. "Mas os funcionários falam para você relaxar, porque os animais não sabem abrir zíperes."

Na serra da Estrela, região montanhosa de Portugal, a Vinha da Manta tem nove tendas sobre bases de madeira espalhadas pela vegetação de uma fazenda, cada uma com cozinha, banheiro e deck.

"O local foi cuidadosamente escolhido por sua vista, privacidade e clima", dizem os proprietários, os holandeses Menno Simon e Jacqueline Steeman. "Os hóspedes podem relaxar, ouvir as corujas e experimentar a sensação de bem-estar que dormir ao ar livre proporciona."
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