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09/08/2017 às 05h06min - Atualizada em 09/08/2017 às 05h06min

Afonso Lana e a liberdade de criação

Artista plástico mineiro fala de suas novas obras que podem ser vistas em mostra coletiva na Oficina Cultural

ADREANA OLIVEIRA | EDITORA
Afonso Lana entre os quadros “Pastores da noite” e “No atelier”, produções de 2017 expostas na Oficina Cultural / Foto: Adreana Oliveira

 

O artista plástico Afonso Lana é o que pode se chamar de um otimista por natureza. Nascido em Rio Casca (MG), há 72 anos, tem uma trajetória que causaria danos irreparáveis a pessoas de espírito mais frágil. Radicado em Uberlândia há 35 anos e tema do documentário “A luz que surgiu por trás da colina” (Carlos Segundo, 2009, 75 min), ele foi preso político nos anos de chumbo que muita tristeza trazem à sociedade brasileira. Mesmo assim, por meio de sua arte, tem uma leveza de espírito capaz de contagiar seus interlocutores em diversas ocasiões.

Professor aposentado da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), ele é artista convidado da exposição coletiva “Aqui, lá, em todo lugar”, promovida pelo Núcleo de Pesquisa em Pintura e Ensino (Nuppe) da UFU. Obras dele e de Darli de Oliveira estão na Galeria Alternativa da Oficina Cultural na mostra “Pintura: Processo identidade”.

“Aceitei prontamente o convite do Nuppe, formado por professores e ex-alunos da UFU que têm uma extensa pesquisa na área da pintura. Apresento trabalhos inéditos de uma nova fase pela qual estou passando”, comenta Afonso Lana. Mais conhecido por seus trabalhos na linha de pinturas matéricas, que usa materiais descartados na natureza, ele agora deixa fluir um pouco mais o lado mais expressionista. “Estou trabalhando com a pintura mais figurativa que sempre me interessou e abordo mais a questão psicológica do ser humano, principalmente do seu isolamento”, afirma o artista.

As cinco telas da série intitulada “Isolamento” foram produzidas ao ar livre, sem pressa e levaram muitas horas para ficarem prontas. “Às vezes o que você não vê é o que dá mais trabalho”, comenta sobre o fundo e as sombras das pinturas que ganham vida nas paredes da galeria. “Se tem algo que percebi nesta última década é que as pessoas estão cada vez mais isoladas e parece que perderam força até para refletir. Esses trabalhos têm muita profundidade e confesso que eu mesmo fiquei impressionado com o resultado”, disse de forma modesta.

As obras “Um homem na multidão”, “Lobo solitário”, “A paquera”, “No atelier” e “Pastores da noite” mostram o homem na vida noturna que pode trazer à tona personalidades reprimidas durante o dia. A dimensão é brasileira, mas o caráter do trabalho é universal, perceptível ao primeiro olhar que os espectadores lançam sobre as telas.

 

NUPPE

Exposição reúne trabalhos de 15 artistas

As telas de Afonso Lana da série “Isolamento” dividem espaço com telas da artista plástica e professora aposentada da UFU Darli de Oliveira. “Nós fomos colegas e fico muito feliz por ter a oportunidade de dividir o espaço com ela”, afirma o artista. As obras estão na sala Alternativa da Oficina Cultural. 

Ao lado, Galeria de Arte Lourdes Saraiva de Queiroz, a exposição coletiva do Núcleo de Pesquisa em Pintura e Ensino (Nuppe) traz obras dos seguintes artistas: Alexandre França, Aninha Duarte, Beth Shimaru, Brayan Arantes, Camila Moreira, Dayane Justino, Elsiene Coelho, Flaviane Malaquias, Gladyse Robles, Jane Cobo, Roberta Melo, Rodrigo Freitas e Sérgio Rodrigues.

Afonso Lana comemora iniciativas como esta em um país onde a arte é pouco valorizada. Para ele, que hoje não tem uma obrigatoriedade de produzir por conta de um nome ou por reconhecimento financeiro, os artistas são verdadeiros guerreiros. “Se vem prestígio e dinheiro é consequência. Me vejo bastante ocupado e trabalhando por amor, por pura paixão à arte e espero permanecer assim por um bom tempo”, relata o artista, que descobriu a arte nos anos de chumbo.

Afonso Lana foi estudante de veterinária. No Rio de Janeiro, foi preso político na ditadura militar entre 1969 e 1971. Depois de ser exilado no Chile entre 1971 e 1973, foi exilado para a Alemanha entre 1971 e 1982. Em Dresden trabalhou como operário e fez faculdade de pintura. De volta ao Brasil, lecionou na UFU até se aposentar, em 2013.


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