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21/07/2022 às 08h00min - Atualizada em 21/07/2022 às 08h00min

O contraponto

IVONE ASSIS
"Não há mentira pior do que uma verdade mal compreendida por aqueles que a ouvem", esta frase de William James (1842 - 1910) nos faz refletir sobre essa verdade, especialmente quando se trata de convicções e ideologias. Há que se pensar bem antes de falar, antes de compartilhar, antes de acreditar no que foi mencionado... porque compreensão torta remete a muitos infortúnios. Especialmente em momentos de tensão, em que se costuma ouvir apenas o que convém. J.M. Coetzee afirma: “As nossas mentiras revelam tanto de nós como as nossas verdades). 

José Saramago (1922 - 2010), por sua vez, escreveu: "Quando um político mente, destrói a base da democracia". Em dias tenebrosos, como os dias que antecedem eleições, há que se cuidar atentamente dos ouvidos, para que não ocorra a algum de entortar-se com tanta conversa distorcida.

A mentira sempre esteve entre os condimentos da palavra, pontuando narrativas conforme a conivência. Mas a vida não é uma sessão de Causos, em que, quanto maior a mentira, mais divertida é a história. As obras literárias e os mitos abrigam facilmente a mentira, sem prejuízo, mas a vida não comporta esse “vírus”, que, se não detido, transforma-se em aliado das clínicas psicanalíticas e de psicologia. 

As redes sociais têm se tornado verdadeiros redutos da mentira, seja narcísica, perversa, ou quantas existam. Muitos internautas se encorajam sob o escrutínio virtual, criando verdadeiras redes de intrigas. Mas a mentira não se engorda somente aí, a sociedade adere à mentira quando se nega a cumprir com suas obrigações, por exemplo, trapacear para não pagar o que deve.

Diariamente, a mentira circula, sob o invólucro de defesa e de convicções. Afinal, que fatores levam o sujeito a mentir? A mentira é subterfúgio de defesa. Errado, mas é.

Mentira é uma arma perigosa, que machuca ferozmente. Imaginemos um casal, em que um mente ao outro, jurando amor. Quando a mentira cai por terra e a verdade se levanta, quase sempre o resultado é desolador. Ou lembremos de Galileu Galilei, que, em 1633, se viu obrigado a mentir, repudiando sua crença de que a Terra gira em torno do Sol, para que não fosse queimado vivo na fogueira, condenado por heresia. Galilei escreveu, assinou e leu em voz alta, diante do Conselho da Igreja, sua confissão. Ora, ora, e onde estava a verdade, e onde estava a mentira? 

A mentira é perversa, é vingativa, é estúpida... E nunca faz favor a ninguém, pelo contrário, a mentira empresta com altíssimos juros, para, quando a verdade for questionada, a mentira se defenda dizendo que “quis ajudar, mas o necessitado usou de ingratidão”.

Fernando Pessoa, em seu poema “Se tudo que há é mentira”, narra: “Que o grande jeito da vida / É pôr a vida com jeito. // Mais vale é o mais valer [...] / Para que as palavras sobrem”.

Sabe-se que, por melhor que seja a plantação de trigo, o joio sempre estará inserido em seu meio e, geralmente, eles crescem juntos, para que o trigo não seja penalizado. E assim ficam até na hora da colheita. Essa parábola é um ensino sobre a paciência/justiça de Deus. E se aplica muito bem no cotidiano, considerando que o trigo é a verdade e o joio, a mentira. Ambas (verdade e mentira) trilham lado a lado, até que chega a hora em que apenas uma será aceita. Vejamos a literatura infantil, em que a mentira sempre leva a pior, e a verdade a melhor, como podemos conferir em “Pinóquio”, “Branca de Neve e os 7 anos” e tantos outros clássicos. E como não citar a face da mentira nas guerras, nos sistemas, no mercado, na sociedade e tantos outros? A literatura está abarrotada delas. E quem as denunciam é, exatamente, a verdade, o contraponto.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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