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14/11/2019 às 09h14min - Atualizada em 14/11/2019 às 09h14min

Futebol e racismo

TIAGO BESSA

Já foi o tempo em que estádios de futebol eram lugares frequentados pelas camadas menos privilegiadas da sociedade brasileira. Época dos “geraldinos” do Maracanã, que rodeavam o anel inferior do estádio carioca o jogo todo, submetendo-se a ficarem em pé pelo preço mais barato do ingresso. Quando da realização da Copa do Mundo no Brasil, houve a exigência de que os estádios utilizados seguissem o “gourmetizado” e elitizado “padrão FIFA”. Um padrão excludente e que atende perfeitamente aos anseios do brasileiro médio, principalmente um: não querem se misturar com a ralé!

Essas palavras podem parecer duras, caro leitor, mas não há poesia que amenize nossa miserável realidade de exclusão social. Tenho percebido, desde a implantação do “padrão FIFA” em nossos principais estádios, um absurdo encarecimento dos ingressos de boa parte dos jogos, o que, via de regra, impede quem não tem condições financeiras de assistir aos jogos in loco. O pobre, no caso! Sabemos que os negros são 75% entre os mais pobres no Brasil (fonte: informativo "Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil" – IBGE/2019) e, sendo assim, do ponto de vista racial são justamente os negros os mais afetados quanto à frequência nas arquibancadas dos principais clubes de futebol. Um paradoxo, se levarmos em conta que a grande maioria de nossos jogadores é de negros!

Na última rodada do Brasileirão houve uma cena ridícula e bizarra no Mineirão, no derby belorizontino: além da briga entre torcedores, um deles resolveu insultar um segurança pela cor de sua pele. Valendo-se de sua carteira funcional de brasileiro médio, bradava ao segurança: “Olha a sua cor! Olha a sua cor!”. Da parte do segurança percebe-se no vídeo uma tentativa de diálogo, respondida com cada vez mais brados e babas da ira de ser superior, de cabeça e alma cheias de ódio, mas vazias de educação e respeito.

Esse parece ser o infeliz caminho de nossas principais arquibancadas: sua elitização, “gourmetização” e, consequentemente, seu embranquecimento. Uma pseudo elite mal educada, egoísta e historicamente adestrada a tratar o pobre e o negro como seus serviçais, e não como iguais. Eles vão às mais variadas igrejas e, em meio a louvores, procissões e ritos, não aprendem o principal ensinamento de seus mártires: o altruísmo. Parecem aprender somente o que é relativo a uma falsa ideia de prosperidade, crendo que o que eles denominam “salvação” é uma graça meramente metafísica.

Serão, todos, relegados ao Hades dos idiotas. E parafraseando Belchior: que as ovelhas negras jamais fiquem branquinhas!!!

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.









 

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