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28/02/2019 às 08h21min - Atualizada em 28/02/2019 às 08h21min

O carnaval dos pierrôs

TIAGO BESSA
Às vésperas do Carnaval, nosso samba continua de uma nota só, como na última semana. Como nos últimos (muitos) anos, melhor dizendo. E carnaval é tempo de alegria, de cometer excessos antes da “santidade” da quaresma, certo? Não para os torcedores dos clubes uberlandenses, especialmente os do UEC. Não que os do CAP não sofram, mas é que os do Verdão têm infinitamente mais experiência neste quesito: o sofrimento.
Na Commedia dell’Arte francesa, desenvolvida a partir da versão italiana, aparece um personagem muito famoso e peculiar: o Pierrô (ou Pierrot). Trata-se de um palhaço de semblante triste, sofrido, que vê a sua amada Colombina entregar-se ao Arlequim. Este, por sua vez, é um pândego, um malandro brincalhão e descompromissado que sempre prejudica quem se mete a ter com ele algum tipo de proximidade. Por isso, o Pierrô vive solitário e deprimido a pensar em quão injusto é o mundo dos apaixonados cujo amor não é correspondido.

Em Uberlândia há alguns milhares de pierrôs: os torcedores do Verdão. Apaixonados pelo clube, apegados ainda no ano de 1984 (mesmo quem não o presenciou) e nas peripécias realizadas no passado, os pierrôs uberlandenses – e os “uberlandinos” também – acompanham bravamente sua Colombina nas arquibancadas dos estádios por onde o time passa. Temporada após temporada são vencidos por toda a sorte de arlequins travestidos de empresários da bola, patrocinadores e políticos oportunistas, diretorias negligentes e torcedores de fachada. Mas continuam lá, a amar sua Colombina na esperança de que um dia ela corresponda ao seu sentimento e à sua dedicação.

Assim como no folclore francês, os pierrôs uberlandenses são vistos como lunáticos e distantes da realidade por insistirem nesse amor não correspondido e sôfrego pelo Verdão, justamente pela sua ingenuidade e por sua insistência em amarem a quem aparentemente não os ama. A estória conta que, um dia, a Colombina percebe todo o amor do Pierrô por ela, dando cabo da companhia do Arlequim e vivendo feliz com seu ingênuo amante. A história, por outro lado, ainda não encontrou esse desfecho, e os torcedores esmeraldinos continuam seu calvário nas arquibancadas, presenciando um time que ainda não venceu no Módulo II.

Mais uma vez a esperança cruza o caminho desses pierrôs incansáveis, aliviando um pouco da ansiedade da espera por uma vitória (uma VITÓRIA) daquelas dignas dos excessos do Carnaval. E que não venha uma nova quaresma de jejum!
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