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28/05/2024 às 09h30min - Atualizada em 28/05/2024 às 09h30min

Caso de estudante universitária que morreu na porta da UAI será investigado criminalmente

Após procedimento administrativo, MPE concluiu que houve omissão no atendimento médico de Vitória Alyce

REDAÇÃO I DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Vitória Alyce Pereira Cardoso morreu no dia 3 de abril após passar mal em ônibus; família alega que houve negligência médica I Foto: Arquivo Pessoal

Após a realização de um procedimento administrativo, o Ministério Público Estadual (MPE) concluiu que houve omissão no atendimento médico de Vitória Alyce Pereira Cardoso, estudante universitária que morreu na porta da Unidade de Atendimento Integrado (UAI) do bairro Tibery, em Uberlândia, no dia 3 de abril. Nos próximos dias, um procedimento investigatório será instaurado para apurar a participação dos profissionais que atuaram no dia do caso.

Desde o dia do ocorrido, o MP colheu informações a respeito da ocorrência envolvendo Vitória Alyce, de 19 anos, que morreu após passar mal em um ônibus enquanto voltava para casa. Na época, o Diário conversou com Juliene Cardoso, tia da vítima, que informou que ela estava na faculdade e voltava para casa por volta de 22h. A jovem teria entrado em um ônibus, mas caiu no chão poucos segundos depois. O motorista desviou o percurso e foi até a UAI Tibery, mas a demora no atendimento gerou complicações no quadro de Vitória, que teve uma parada cardiorrespiratória.

A família alega que houve negligenciamento no atendimento de Vitória. Após chegarem na UAI Tibery, o motorista saiu do ônibus às pressas, informando que a estudante precisava de atendimento com urgência. No entanto, conforme relato de testemunhas que estavam dentro do veículo, a equipe da unidade alegou que não poderia atender Vitória, já que ela precisaria estar dentro do hospital para iniciar os primeiros socorros. A alegação foi de que há um protocolo interno que estabelece que os pacientes não podem ser atendidos do lado de fora, e que inclusive seria necessário acionar o Corpo de Bombeiros para fazer o primeiro atendimento.

Três semanas após o caso, a Missão Sal da Terra, administradora da UAI Tibery, apontou que não houve relação entre o atendimento e o óbito da estudante. Conforme nota divulgada pela instituição, após uma investigação, não foi encontrado "nexo de causalidade" em relação ao ocorrido. Além disso, a sindicância chegou a conclusão de que o tempo entre a chegada, o atendimento e a retirada da jovem do veículo foi de 11 minutos. De acordo com familiares de Vitória, o tempo foi de aproximadamente 30 minutos.

PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
Todo o ocorrido foi alvo de apuração do Ministério Público Estadual. Um dos pedidos do órgão à Prefeitura de Uberlândia foi com relação às câmeras de segurança do local, para apurar a demora no atendimento de Vitória Alyce. No entanto, conforme consta no documento do ministério, "a UAI Tibery não está equipada com imagens de circuito de câmeras".

Além disso, o MPE concluiu que mais de um profissional deixou de agir no momento do ocorrido, recusando-se a executar ações devidas que poderiam ter evitado a morte de Vitória Alyce, diminuindo os riscos ou, no mínimo, aumentando as chances de sobrevivência da vítima. O órgão também informou que se deparou com indícios de que a conduta dos servidores da saúde envolvidos possam ter repercussão na esfera criminal. O caso será investigado para apurar devidamente a quem deve ser atribuída a responsabilidade pela morte da vítima.

RELEMBRE O CASO
Vitória Alyce Pereira Cardoso morreu no dia 3 de abril na porta da UAI Tibery, em Uberlândia. Para os familiares da vítima, houve negligência no atendimento médico na unidade de saúde.


A jovem cursava História na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e seguia normalmente com o seu dia. Ela chegou à faculdade à tarde e voltou para casa por volta de 22h. Vitória entrou em um ônibus do transporte público e, segundo relatos de testemunhas, passou mal e caiu no chão poucos segundos depois. O motorista desviou o percurso e foi até à UAI Tibery.

"O motorista desviou da rota e foi imediatamente para a UAI Tibery. Quando ele chegou, ele desceu correndo e pediu socorro, mas eles alegaram que não podiam atender a Vitória, porque tinha que atender dentro da unidade. O motorista disse que estava de ônibus e que não tinha como entrar na unidade com o ônibus. Eles não quiseram atender ela", disse a tia de Vitória, Juliene Cardoso, em entrevista ao Diário. 

Após alguns minutos, um enfermeiro da UAI Tibery foi até o ônibus para verificar a situação de Vitória. De acordo com a tia da jovem, o tempo de chegada do ônibus até o primeiro atendimento durou entre 20 e 30 minutos. O funcionário chegou a acionar duas enfermeiras e colocou a estudante em uma cadeira de rodas. No entanto, devido à demora no atendimento, Vitória não resistiu.

"Quando Vitória foi socorrida, ela já havia sofrido a parada cardiorrespiratória em decorrência do mal súbito. Houve negligência não apenas médica, mas de todos os trabalhadores da unidade de saúde. Temos muita clareza de que aquelas pessoas são preparadas para atender casos de crise. Todas elas negligenciaram o atendimento, do maqueiro até os médicos. Todo mundo virou as costas para a Vitória. Todo mundo foi negligente e todo mundo assinou o atestado de óbito da Vitória", concluiu Juliene. 

O Diário entrou em contato com a Missão Sal da Terra, responsável pela gestão da UAI Tibery, e com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) para obter os posicionamentos sobre o caso. 

Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que está preparando abertura de procedimento administrativo para averiguar a atuação da Missão Sal da Terra e que, em relação às outras recomendações, está realizando análise para adoção de medidas cabíveis. Já a Missão Sal da Terra esclareceu que, até o momento, não recebeu qualquer notificação do Ministério Público sobre o relatório citado.



* Matéria atualizada às 9h40 e às 10h04 para acréscimo de informações. 



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