Em 2023, 470 imigrantes solicitaram residência em Uberlândia | Foto: Agência BrasilUberlândia abriga mais de 5 mil imigrantes de 123 nacionalidades, de acordo com o Sistema de Registro Nacional Migratório (Sismigra) da Polícia Federal, responsável pelos pedidos de residência por migração e refúgio. Especialistas ouvidos pelo Diário apontam que muitos enfrentam vulnerabilidade, barreiras linguísticas, burocráticas e xenofobia. Iniciativas como a Cátedra Sérgio Vieira de Mello (UFU) e a ONG Taare têm oferecido apoio a essa população na cidade.
Os dados do Sismigra mostram uma variação no número de solicitações de residência nos últimos anos. Em 2019, foram registrados 680 pedidos, número que caiu para 245 em 2020, devido à pandemia da covid-10. Em 2021, o total subiu para 328 e, em 2022, houve um aumento expressivo, com 523 solicitações.
Em 2023, 470 imigrantes solicitaram residência em Uberlândia. Do total, 62,47% eram homens e 37,42% mulheres. Os dados de 2024 ainda não foram contabilizados pela Polícia Federal.
A coordenadora da Cátedra Sérgio Vieira de Mello, Marielle Maia, acredita que o número real de imigrantes na cidade pode ser ainda maior do que o registrado oficialmente. “Muitos imigrantes não conseguem formalizar sua documentação, o que os deixa sem acesso a serviços essenciais. Essas pessoas têm os mesmos direitos que qualquer cidadão brasileiro, mas muitas vezes não conseguem exercê-los por falta de informação ou de preparo dos serviços públicos”, afirmou.
Maia destacou que o aumento da população imigrante exige uma resposta mais forte do poder público para garantir a inclusão social e econômica dessas pessoas. Embora a Cátedra e a ONG Taare desempenhem papéis fundamentais no acolhimento e integração, ambas defendem que políticas públicas mais amplas são necessárias para consolidar esses esforços.
“A aprovação de políticas específicas para imigrantes seria um passo importante. Sem uma estrutura municipal adequada, eles continuam invisíveis e vulneráveis”, alertou Maia, reforçando a necessidade de capacitar agentes públicos para lidar com essa realidade.
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ACOLHIMENTO
Ehvis Mitchel, venezuelana de 51 anos, chegou a Uberlândia em 2019, fugindo da crise política e econômica em seu país. Recebida por amigos, ela entrou em contato com a ONG Taare, onde começou a aprender português.
“Aprender a língua foi fundamental para mim, abriu portas para conseguir um emprego fixo como costureira”, relatou Mitchel, que hoje é voluntária na ONG, ajudando outros imigrantes em sua jornada de integração.
Atualmente, ela também auxilia na mediação entre imigrantes de língua espanhola e a diretoria da ONG. “Sei como é difícil chegar a um novo país sem conhecer o idioma ou os direitos que temos. Agora, como voluntária, ajudo outros imigrantes a encontrar esse caminho, como eu mesma fiz”, concluiu.
A ONG Taare, liderada por Letícia Félix, atua diretamente no acolhimento de imigrantes, oferecendo aulas de português. A instituição também distribui cestas básicas e orienta os imigrantes sobre a regularização da situação migratória.
“Nosso principal objetivo é dar autonomia aos imigrantes por meio do ensino da língua portuguesa, essencial para sua integração”, explicou.
A organização atende principalmente venezuelanos, haitianos, colombianos e afegãos. “Embora nosso trabalho seja divulgado pelas redes sociais (@ong.taare), a maioria dos imigrantes chega até nós por meio do boca a boca”, acrescentou Félix, que ressalta o crescimento contínuo da demanda pelos serviços da ONG, com a necessidade de ajuda de mais voluntários para garantir um atendimento adequado a todos.
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