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07/05/2024 às 15h00min - Atualizada em 07/05/2024 às 15h00min

Transplantes de órgãos aumentam quase 42% na região de Uberlândia

Procedimentos mais comuns são de córnea, fígado e rim, aponta a Organização de Procura de Órgão

JUAN MADEIRA | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Lista de transplantes é vinculada ao Sistema Único de Saúde (SUS) | Foto: Ministério da Saúde/Divulgação
Em 2023, a Organização de Procura de Órgãos (OPO) do Oeste de Minas Gerais, que abarca Uberlândia, registrou 306 transplantes, um aumento de quase 42% em comparação ao ano de 2022, quando foram realizados 216 procedimentos. Os transplantes mais comuns foram de córnea, fígado e rim.
 

Segundo o levantamento, os transplantes de córnea aumentaram em 52%, passando de 128 em 2022 para 195 no ano passado. Houve também um aumento nos transplantes de fígado e rim, ambos em 31%, sendo 21 procedimentos de fígado e 79 de rim realizados no último ano. Em 2022, foram realizados 16 transplantes de fígado e 60 de rim. Por outro lado, os transplantes de coração diminuíram, caindo de 11 em 2022 para nove no ano passado.

 

No período do dia 1º de janeiro a 29 de abril deste ano, os dados parciais indicam que foram realizados 100 transplantes no município, com destaque para os transplantes de córnea (76), rim (17) e fígado (4). Os procedimentos de coração, no entanto, totalizaram apenas três no mesmo período.

 

Os dados revelam ainda que até o mês passado, 3.773 pessoas aguardavam na fila para transplantes. Do total, 3.581 pacientes estavam à espera de um rim, 88 de fígado, 29 de coração e sete de pâncreas. 

Em entrevista ao Diário, o médico regulador da OPO, Marcelo Ribeiro Lima, destacou que as estatísticas de doações variam anualmente e que não há uma razão única para o aumento registrado em 2023. Ele sugeriu que os anos de pandemia da covid-19 possam ter impactado negativamente nos transplantes, e que a melhoria recente pode estar relacionada à retomada da rotina normal. 

 

Além disso, o profissional mencionou que a disponibilidade de aeronaves governamentais tem facilitado o transporte das equipes médicas, contribuindo para o cenário positivo.

 

Quanto aos transplantes cardíacos, o médico explicou que não há uma causa única para a redução desses procedimentos. A logística envolvida nesse tipo de transplante é complexa, já que o tempo entre a retirada do órgão do doador e o seu transplante para o receptor é crucial, devido à breve janela de viabilidade do coração”.

 

Marcelo mencionou que a própria condição de viabilidade do coração é um desafio, porque os doadores são geralmente pessoas mais jovens. “Esses fatores, somados ao tempo necessário para todo o processo, contribuem para a complexidade e a menor incidência de transplantes cardíacos”, esclareceu.

 

O médico explicou ainda que em Uberlândia não são realizados transplantes cardíacos, e a maioria desses procedimentos acontecem em Belo Horizonte. “Diferente de outros tipos de transplantes, como o renal, onde há a opção de retornar à hemodiálise se houver incompatibilidade, no caso do cardíaco, essa alternativa não está disponível”.

 

Já no caso das doações de córnea, Marcelo Ribeiro indicou que existe uma janela de tempo mais ampla para a captação do órgão. Então, neste caso, quando uma pessoa falece, independente da causa, os critérios para a doação são avaliados, e a equipe médica entra em contato com a família para obter autorização e retirar a córnea. 

 

“Assim, é possível realizar a captação da córnea mesmo algumas horas após o falecimento. Essa flexibilidade de tempo contribui para uma oferta mais abundante desse tipo de órgão, o que, por sua vez, resulta em mais transplantes de córnea realizados”.

 

COMO FUNCIONAM AS DOAÇÕES

De acordo com Ribeiro, o processo de transplante de órgãos envolve uma série de etapas. Ele explicou que os pacientes com indicação para transplante são cadastrados em listas, geralmente estaduais, e em subdivisões regionais, como a oeste de Minas Gerais, onde Uberlândia se situa. 

 

“As doações acontecem de pessoas que tiveram morte cerebral, e o processo para determinar o diagnóstico clínico é rigoroso e envolve a avaliação de mais de um médico examinador, com exames que confirmam a ausência de fluxo sanguíneo e atividade cerebral”.

 

Portanto, quando se trata de pacientes com morte cerebral, que é mais comum decorrente de Acidente Vascular Cerebral ou traumatismo craniano, há um protocolo a ser seguido. “Quando o órgão é considerado viável, a família é entrevistada e o órgão é inicialmente oferecido para as sub-regiões do estado. Se não houver aceitação, a oferta se expande para todo o estado e, se necessário, para o âmbito nacional”.

 

O médico explicou que a fila de transplantes segue critérios rígidos e é confiável, e a modificação na ordem de prioridade só ocorre em situações emergenciais, quando o paciente está em estado crítico e não sobreviverá por muito tempo sem o transplante.

 

O especialista reforçou que a lista de transplantes é vinculada ao Sistema Único de Saúde (SUS), no Sistema Nacional de Transplantes. “Embora existam hospitais privados credenciados como transplantadores, como o Uberlândia Medical Center em Uberlândia, a lista é única e vinculada ao SUS. Não há prioridade baseada na instituição de saúde ser pública ou privada. A distribuição de órgãos segue critérios de compatibilidade e prioridade estabelecidos”.

 

Marcelo esclareceu também que a concretização da doação depende da família, que é quem assina o termo de doação. “É essencial que o tema seja discutido e esclarecido nas famílias, pois mesmo quando há interesse em doar, às vezes a família tem dúvidas sobre a vontade do falecido. Quando a família tem conhecimento da vontade da pessoa em doar, geralmente aceita a doação”, acrescentou.

 

Para Marcelo, a importância das doações de órgãos é auxiliar o próximo. “Existe uma demanda muito grande de pessoas precisando de órgãos. A doação ajuda alguém que tem um problema de saúde severo e esse é o único recurso da pessoa”.
 


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