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03/04/2024 às 17h42min - Atualizada em 03/04/2024 às 17h42min

Uberlândia celebra o Mês de Conscientização do Autismo com ações de inclusão e apoio

Em entrevista ao Diário, especialistas explicam sobre diagnóstico do transtorno e direitos da população autista

JUAN MADEIRA | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Associação Zeiza Dojo promove ações culturais, esportivas e pedagógicas | Foto: Divulgação

Nesta terça-feira (2), foi celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. A data tem como objetivo difundir informações sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), visando reduzir a falta de informação e discriminação na sociedade. Nos próximos dias, a cidade recebe ações de inclusão e apoio para a população autista. Confira mais detalhes no fim da matéria. 

 

Com sede em Uberlândia, a Associação Zeiza Dojo atua no segmento direcionado para pessoas com deficiências, com foco no TEA, em variadas idades, gêneros e classificações. Atualmente, a Organização Não Governamental (ONG) atende 2.263 famílias, das quais 60% são de indivíduos autistas, totalizando 1.824 crianças, jovens e adolescentes. 

 

A fundadora da organização, Zeiza Dojo revelou que a motivação para criar a instituição foi o diagnóstico tardio de seu filho autista, Flávio Jr., atualmente com 17 anos, que não teve acesso às intervenções necessárias no momento adequado.

 

“Queremos por meio deste projeto promover o direito que as pessoas com o transtorno têm por lei, em suas diversas intervenções de acordo com as necessidades do deficiente. E também de sua família, que adoece por não ter as terapias e o acolhimento necessário”, explicou Zeiza.

 

Karateca e professora da modalidade, Zeiza utilizou o esporte como ferramenta de inclusão e iniciou seu trabalho em 2015 na garagem de casa. “Motivada pelas dificuldades enfrentadas por meu filho, então com cinco ou seis anos, devido à rejeição, exclusão e preconceito, adaptei o karate e comecei a atender mais crianças. Resolvi começar com o que eu tinha, que era meu conhecimento do esporte e uma garagem. Fui aprender e estudar para poder ajudar meu filho e com isso foram chegando muitas crianças”, comenta. 

 

Com a ajuda de uma psicóloga voluntária, o projeto cresceu e obteve um espaço cedido pela Prefeitura Municipal de Uberlândia, que fica na avenida Abadio Bonifácio da Silva, 493, no bairro Granada. De acordo com Zeiza, ao longo do tempo, mais de 10 mil pessoas já passaram pela instituição, e atualmente 2.263 famílias recebem atendimento constante, com mais de 2.000 atendimentos realizados por mês. 

 

Além do karatê, balé, capoeira, dança do ventre, musicalização e hip hop, a ONG proporciona atendimentos clínicos e pedagógicos, com nutricionista, neuropsicopedagogo, psicólogo, terapeuta ocupacional, gastropediatra e fisioterapeuta. 

 

“Todos os atendimentos e atividades culturais ou esportivas são gratuitos para a comunidade. A parte clínica é para as famílias que não tem condições de pagar exames particulares, e as atividades culturais e esportivas são abertas para toda a comunidade, a pessoa não precisa ter um diagnóstico para vir fazer”.

 

Caso alguém queira solicitar acolhimento, a ONG atende pelo Whatsapp (34) 99681-5927, que funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. “Basta solicitar o acolhimento, passar nome do responsável, da criança e a idade. Nossa equipe agenda, entra em contato, passa uma lista de documentos que a família tem que providenciar e nós vamos dando todo apoio”, explicou Zeiza.

 

A responsável pela associação ressaltou ainda que a instituição depende de doações para custear os trabalhos. “A cada 10 reais, conseguimos manter os atendimentos de uma criança por 30 dias aqui. As pessoas podem doar pelo pix [email protected] que cai direto na conta da associação”. Além disso, a ONG também recebe doações de roupas, calçados e alimentos.

 

Por fim, Zeiza enfatizou a importância de conscientizar e disseminar uma visão inclusiva sobre o transtorno. "Estamos focando na campanha mundial deste ano com o tema 'valorizar as capacidades, respeitar os limites’. Você não pediria a um peixe para subir em uma árvore, mas ele é um excelente nadador. Da mesma forma, uma pessoa autista pode não conseguir realizar certas tarefas, mas muitas vezes possui habilidades excepcionais em outras áreas”. 

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DIAGNÓSTICO

O professor do curso de Psicologia do Centro Universitário Una, Daniel Vieira explicou quais são os principais sintomas e características do TEA e como eles se manifestam. “O autismo é um transtorno do desenvolvimento neurológico que afeta a maneira como uma pessoa percebe e interage com o mundo ao seu redor. Devido à sua complexidade, não possui uma cura definitiva, mas existem várias abordagens terapêuticas que podem ajudar a melhorar a qualidade de vida das pessoas com autismo, auxiliando em seu desenvolvimento e adaptação”. 

 

Para que se tenha um diagnóstico de TEA, o profissional ressaltou que o paciente precisará apresentar características como déficits persistentes na comunicação e interação social, além de comportamentos restritos e repetitivos. “Além disso, é importante que esses sintomas presentes no início da infância persistam durante a vida da pessoa e causem prejuízos significativos na vida diária e, também, que esses sintomas não sejam explicados melhor por outra condição”, completou. 

 

Em relação aos níveis de autismo, o especialista apontou quais são as principais diferenças entre eles e como isso afeta o diagnóstico e o tratamento. “Atualmente o TEA pode ser classificado em níveis de suporte, ou seja, o quanto essa criança vai precisar de suporte na vida diária, sendo nível 1, 2 e 3. Os níveis de autismo são úteis para entender a gravidade dos sintomas e identificar as necessidades de suporte”.

 

Quanto ao diagnóstico tardio, Vieira explicou que se trata de um problema recorrente, causado frequentemente pela falta de acesso a informações e de profissionais especializados no assunto no sistema de saúde e até por dificuldades emocionais ou financeiras dos pais. “Além disso, a resistência ao diagnóstico e o estigma associado às condições neurodivergentes podem impedir que algumas crianças sejam avaliadas. Sem avaliação e diagnóstico, não é possível que sejam feitas intervenções necessárias”. 

 

De acordo com o psicólogo, a intervenção precoce pode fazer uma diferença significativa no desenvolvimento de uma criança com autismo. Ou seja, quanto mais cedo as abordagens terapêuticas adequadas começarem, maiores serão as chances de sucesso em ajudar o paciente a adquirir habilidades sociais, emocionais e de comunicação. “Por isso, o diagnóstico precoce e o acesso a serviços terapêuticos são fundamentais”, frisou.

 

Para Daniel Vieira, as abordagens mais eficazes no tratamento e intervenção para pessoas com autismo devem ser construídas de maneira individualizada às necessidades da pessoa. 

 

“Existem várias abordagens terapêuticas para o autismo, cada uma com suas próprias técnicas e metodologias. O importante é que essa pessoa seja acompanhada por uma equipe multidisciplinar, composta por psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, psicomotricistas e psicopedagogos, que atuarão para a melhoria e a redução dos sintomas identificados durante a avaliação”, afirmou. 

 

Para melhorar a inclusão e suporte às pessoas com autismo, o psicólogo indica ser crucial promover conscientização e sensibilização na sociedade. As principais práticas incluem ações educativas em escolas e espaços sociais para garantir uma inclusão verdadeira e responsável.
 

DIREITOS
Em entrevista ao Diário, o advogado Lucas Nunes esclareceu que as pessoas com espectro autista têm os mesmos direitos garantidos às pessoas com deficiência. “No Brasil, a Lei Berenice Piana estabeleceu a Política Nacional de Proteção dos Direitos das Pessoas com Transtorno do Espectro Autista, e além desta, o Estatuto da Pessoa com Deficiência também se aplica”.

O especialista comentou que os direitos incluem atendimento prioritário em filas públicas e privadas, acesso universal à saúde pelo Sistema Único de Saúde (SUS), educação inclusiva e acompanhamento por profissional de apoio para adaptação de atividades e trabalhos.

 

“Em casos de negativa de direitos, a orientação é exigir e, se necessário, denunciar à polícia e aos órgãos fiscalizadores para aplicação de sanções, como multas e responsabilização civil por danos morais”.

 

Além disso, existem benefícios como isenção de impostos na compra de veículos zero, gratuidade no transporte público municipal e interestadual, e descontos em passagens aéreas. “No entanto, a falta de publicização desses direitos faz com que muitas famílias desconheçam ou não tenham acesso a esses benefícios”, frisou. 

 

ATIVIDADES DE INCLUSÃO E CONSCIENTIZAÇÃO

 

12° SEMINÁRIO SOBRE AUTISMO

Data: 06 de abril

Local: Universidade Federal de Uberlândia

Realização: Associação Zeiza Dojo Casa do Autista

Inscrições e Programação: www.sympla.com.br/zeizadojo

 

Vamos ao Parque? Piquenique da Diversidade

Data: Domingo, 07 de Abril

Horário: 9h às 10h30

Local: Parque do Sabiá (Quiosque do Mundo da Criança)

 

Atividades:

Brincadeiras e Pinturas

Contação de Histórias

Sessão de Fotografias

Atendimentos com equipe multidisciplinar: psicólogas, neuropsicopedagogia, jurídico e agendamentos para CIPTEA (Carteira de Identidade da Pessoa Autista)

 

Observações:

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Realização: Ong Zeiza Dojo Casa do Autista

Apoio: Prefeitura de Uberlândia


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