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24/12/2023 às 11h00min - Atualizada em 24/12/2023 às 11h00min

Uberlândia tem mais de cinco mil pessoas em tratamento contra o HIV

Número de pacientes diagnosticados com o vírus caiu 28% neste ano

JUAN MADEIRA | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Do total de notificações registradas neste ano, 76% se tratam de pacientes do sexo masculino | Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Uberlândia tem mais de cinco mil pessoas em tratamento contra o HIV, de acordo com a Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV (RNP). Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) apontam que o número de pacientes diagnosticados com o vírus caiu 28% neste ano na cidade. O levantamento revela que em 2023, o município computou 134 casos, enquanto em 2022 foram 187. 

 

Ainda de acordo com o Sinan, do total de notificações registradas neste ano, 76% se tratam de pacientes do sexo masculino e 24% do feminino. A faixa etária de 20 a 49 anos representa 85% dos casos. Em relação ao número de mortes em decorrência da Aids, doença causada pelo agravamento do HIV, o município teve três neste ano e, no ano passado, foram seis. 

 

O levantamento também revela uma queda no número de casos de hepatites virais. De janeiro a dezembro deste ano, a cidade teve 59 notificações das enfermidades, uma redução de 35% se comparado com o mesmo período de 2022, quando 92 casos foram registrados. 

 

O infectologista Guilherme Henrique Machado explica que, embora sejam classificados como infecções sexualmente transmissíveis, o HIV e as hepatites virais são distintos. 

 

“Enquanto o HIV afeta o sistema imunológico, as hepatites virais consistem em um grupo de vírus que afetam o fígado. A categorização conjunta ocorre apenas pelo mecanismo de transmissão compartilhado, mas suas características e impactos no organismo são completamente diferentes”.

 

O médico acredita que, de maneira geral, o diagnóstico tem diminuído por conta dos significativos dispositivos de prevenção. “O uso de preservativos é a principal medida preventiva, e a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) é uma contribuição extremamente valiosa também”, explica.

 

Segundo o  infectologista, a abordagem propõe o uso de medicamentos por parte do paciente, que oferece proteção em casos de contato de risco com o vírus. “O preservativo atua como uma barreira mecânica, enquanto a PrEP é uma medida de prevenção medicamentosa, sendo complementares entre si”.

 

Conforme dito pelo Ministério da Saúde (MS), a PrEP é uma combinação de dois medicamentos (tenofovir + entricitabina) que bloqueiam alguns caminhos que o vírus utiliza para infectar o organismo. A PrEP diária e a PrEP sob demanda são as duas modalidades existentes. 

 

“A primeira consiste na tomada contínua dos comprimidos, indicada para qualquer pessoa em situação de vulnerabilidade ao vírus. Já a sob demanda é realizada quando a pessoa tem uma possível exposição de risco ao HIV”, aponta o Ministério da Saúde.

 

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AIDS 

De acordo com Guilherme Machado, o HIV é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST), sendo o principal meio de contágio por via sexual. O especialista adverte que embora existam outras vias de transmissão, como o contato sanguíneo e a possibilidade de contágio de mãe para o filho durante a gestação, o ato sexual é considerado o modo mais crucial de propagação do vírus.

 

“O ato sexual desprotegido representa um risco significativo de contrair não apenas o HIV, mas também outras ISTs”. 

 

Em relação à doença Aids, Machado explica que há dois estágios diferentes. “No primeiro, pessoas vivendo com o vírus não necessariamente têm Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida). A transição para a doença ocorre quando há uma queda significativa na imunidade, marcando uma fase mais avançada da infecção e sendo considerada a etapa mais crítica”.

 

O infectologista reforça que existem “infecções oportunistas” que afetam indivíduos com um sistema imunológico significativamente enfraquecido. “Este cenário mostra a importância crucial de manter o tratamento para prevenir complicações mais graves decorrentes da infecção pelo HIV”, explica.

 

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

Ainda segundo informações do infectologista, uma pessoa diagnosticada e tratada de maneira adequada tem uma perspectiva de vida idêntica à de alguém que vive sem HIV. “Com o tratamento adequado, que envolve o uso regular de medicamentos e acompanhamento frequente, é possível viver uma vida normal”.

 

A moradora de Uberlândia Juliani Pedroso, de 46 anos, se sentiu isolada e relutou a buscar tratamento após o diagnóstico. Mas, após receber apoio psicológico para enfrentar os desafios e preconceitos, encontrou uma nova perspectiva. 

 

“Foi um período muito difícil. No começo, eu neguei tratamento e achei que era o fim da minha vida. Achei que eu não seria aceita pela sociedade mais. Hoje, eu levo uma vida normal e consegui me abrir para o mundo novamente. Estou aqui agora para ajudar as pessoas a entender quem elas são”.

 

Durante o tratamento, Juliani passou por um processo de aceitação e reconhecimento, desmistificando a ideia de que sua vida estava limitada pela soropositividade. Para ajudar outras pessoas que passam pela mesma situação, ela escreve o livro  “Quando sei quem sou”. 

 

“Meu livro nasceu para transmitir a mensagem de que, independente dos desafios enfrentados, é possível superá-los com leveza, compreendendo que a vida não se resume aos problemas que enfrentamos. Ele oferece ferramentas para ajudar as pessoas a entenderem que sua identidade vai muito além do vírus”.

 

A escritora esclarece que o tratamento permite que as pessoas tenham uma vida longa, plena e comum. “A primeira coisa que vem na mente de uma pessoa contaminada é que ela vai morrer, e isso não é verdade. Hoje, quem faz o tratamento vive muito e não é impedido de fazer nada. Muito diferente do estigma e medo associados à doença nas décadas passadas. Hoje eu tenho o vírus, mas ele é indetectável e intrasmissível”, conta.

 

TESTAGEM

Reforçando a importância do tratamento, o infectologista Guilherme Machado indica que a busca de atendimento médico especializado é essencial. “O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece os Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA), locais específicos com profissionais especializados para atender pessoas com HIV. No entanto, qualquer infectologista pode oferecer tratamento. Iniciar o processo o mais rápido possível é crucial para prevenir complicações”, explica.

 

Em Uberlândia, o SUS oferece o tratamento adequado para pessoas diagnosticadas com o HIV. Além disso, a rede pública também disponibiliza testes por meio do Programa de Infecções Sexualmente Transmissíveis, seja o teste rápido ou o teste sorológico. 

 

O teste rápido, com resultado entre 15 e 20 minutos, é feito no Ambulatório Herbert de Souza (na rua Avelino Jorge do Nascimento, 15, Roosevelt) e algumas unidades de saúde.  Ele detecta a presença do vírus HIV e das hepatites B e C. Para atendimentos, basta apresentar a carteira de identidade. O ambulatório também oferece acompanhamento, tratamento e orientações aos pacientes, assim como todas as unidades de saúde do município.

ACOLHIMENTO

O presidente da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV (RNP) em Uberlândia, Edval Cantuário destaca o trabalho da instituição na cidade. O local oferece serviços gratuitos de psicologia, fisioterapia e assistência jurídica a pessoas diagnosticadas com HIV. 

 

“Nossa ONG oferece atendimento integral e gratuito, abrangendo desde o incentivo aos testes até palestras de prevenção em diversos locais, como escolas, presídios e faculdades. Nosso foco está na prevenção e no apoio”.

 

As formas de entrada são variadas para quem precisa de assistência. Alguns chegam após testarem positivo, indicados por redes de apoio ou encaminhados de ambulatórios como o Herbert de Souza. Há também quem os encontre por meio das redes sociais ou indicações de amigos.

 

Os interessados podem entrar em contato com a RNP pelo telefone (34) 3216-3181, que também é WhatsApp, ou buscar as redes sociais @rnp_uberlandia, pelo e-mail [email protected] ou pessoalmente na Rua Yá Nasso, 376, no bairro Planalto.

 

“Além disso, temos agentes sociais que realizam visitas domiciliares para auxiliar aqueles com dificuldade de buscar medicação nos ambulatórios. Para quem não tem condições ou sente vergonha, oferecemos um serviço de busca e entrega de medicação em casa, pois embora o tratamento possa ser feito particularmente, a medicação é disponibilizada apenas pelo SUS. Estamos comprometidos em fornecer suporte abrangente para garantir que todos tenham acesso ao cuidado necessário”, aconselha.

 

Edval acredita que é fundamental encorajar as pessoas a buscarem tratamento precoce e realizar o teste. “Atualmente, o tratamento para HIV é altamente eficaz e muito menos agressivo do que no passado, envolvendo apenas um a dois comprimidos com efeitos colaterais menores”, aponta.

 

O integrante da RNP ressalta que uma pessoa em tratamento e com carga viral indetectável não transmite o HIV. “O Ministério da Saúde enfatiza que indetectável é igual a intransmissível, reforçando a segurança do tratamento para prevenir a transmissão do vírus”, finaliza.

 

Dezembro Vermelho

A campanha Dezembro Vermelho no Brasil mobiliza ações nacionais contra o HIV, Aids e outras ISTs, visando à prevenção, assistência e proteção dos direitos das pessoas infectadas. O país fortaleceu suas iniciativas de saúde, oferecendo tratamento e incorporando medicamentos de primeira linha, com 92% dos pacientes em tratamento alcançando a indetectabilidade do vírus.

O SUS disponibiliza estratégias avançadas de prevenção, ampliando o acesso ao diagnóstico precoce e a ações específicas para populações-chave. O movimento visa conscientizar sobre ISTs, doenças transmitidas principalmente por contato sexual desprotegido com uma pessoa infectada por vírus, bactérias ou outros microrganismos.
 


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