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08/12/2023 às 12h10min - Atualizada em 08/12/2023 às 12h10min

Notificações de leptospirose aumentam 50% em Uberlândia

Cidade registrou 24 casos e um óbito até outubro deste ano; infectologista fala sobre proliferação da doença em enchentes e inundações

JUAN MADEIRA | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
As notificações de casos de leptospirose em Uberlândia aumentaram 50% em comparação com o ano passado, de acordo com dados divulgados pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). Ao longo de 2022, 16 casos foram computados na cidade, porém, até outubro de 2023, o número saltou para 24, um nível não alcançado desde 2015, quando houve o registro de 23 ocorrências.
 
De acordo com a SES-MG, os números se referem a casos notificados até o momento da análise e estão sujeitos a revisão ou alteração. Os dados apontam ainda que em cerca de 90% das notificações aconteceram hospitalizações devido a sintomas severos nos pacientes. Neste ano, até o momento, uma pessoa morreu em decorrência da doença. Em 2022, não foram registrados óbitos da enfermidade.
 
A leptospirose é uma enfermidade infecciosa transmitida pela bactéria Leptospira, presente na urina de roedores. A transmissão ocorre por exposição direta ou indireta à água contaminada, penetrando no organismo através de lesões na pele. Isto evidencia os perigos decorrentes das enchentes, como a que aconteceu
na última terça-feira (5) em Uberlândia.
 
O infectologista Henrique de Villa Alves ressalta que as inundações propiciam o ambiente ideal para a disseminação e persistência da bactéria, aumentando os casos da enfermidade. “A leptospira é transmitida através da urina do rato, que acaba eliminando a bactéria e ela vai ser espalhada através de um meio líquido. Então, quando ocorrem essas enchentes, a água acaba levando a bactéria que pode entrar em contato com o nosso corpo, principalmente em locais machucados, arranhados, ou com as nossas mucosas, como boca e olho”, explica.

 
O especialista aponta ainda que a prevalência da doença na zona urbana é maior pela forma de transmissão. “Na zona rural também existem ratos, mas raramente tem acúmulo de água e geralmente ela não é corrente. Vale ressaltar que se alguma pessoa precisar se expor a água ou lama, para limpar sua casa, por exemplo, orientamos que usem botas e luvas de borracha para tentar proteger a pele”.
 
Segundo a Superintendência Regional de Saúde de Uberlândia, a incidência da leptospirose atinge áreas urbanas em 82,81% dos casos notificados, enquanto as áreas rurais e periurbanas (transições entre rural e urbano) somam 14,06% e 3,13%, respectivamente.
 
PREVENÇÃO
Conforme informado por Henrique de Villa Alves, a prevenção pode ser feita de diversas formas, como manter os ambientes urbanos limpos, sem entulho e lixo. “É uma coisa que cabe tanto à população quanto às autoridades, evitar descartar entulho em locais inapropriados, aproveitando o serviço de coleta urbana”.
 
O infectologista reforça também que cabe às autoridades otimizar a limpeza de ambiente públicos, especialmente em áreas com mato, como terrenos baldios que precisam ser podados de forma regular, para evitar a presença de roedores.
 
“Outra forma de prevenção inclui evitar o contato com águas de enchente, seja através da prevenção das inundações, limpeza de bueiros e bocas de lobo, ou utilizando proteção adequada nas mãos e nos pés, caso seja inevitável a aproximação”.


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SINTOMAS
O especialista alerta que os sintomas da leptospirose podem se confundir com outras doenças, por ser uma enfermidade com sinais característicos, como febre, mal-estar, fortes dores no corpo, especialmente nas panturrilhas, e olhos vermelhos.
 
“Essas são características marcantes, mas podem ser confundidas com sintomas de outras doenças, como dengue, gripes e até mesmo a covid-19, que também apresentam febre e dores corporais”, aponta.
 
Ainda de acordo com Henrique de Villa Alves, a maioria dos pacientes apresenta uma forma mais leve da doença, mas existem casos mais graves, podendo apresentar quadros de hemorragia pulmonar gerando dificuldades respiratórias muito grandes.
 
Além disso, o infectologista explica que alguns pacientes podem desenvolver disfunção renal, chegando a necessitar de hemodiálise devido à falência dos rins e que o risco de letalidade pode chegar a 40% nos casos mais graves. “Essas incidências demandam hospitalização e cuidados intensivos”, finaliza.
 
O médico explica que não há um perfil específico de pessoas que desenvolvem a forma grave da doença, e revela que não existem fatores de risco para aumentar a gravidade, dependendo, portanto, da interação de cada indivíduo com a bactéria.
 
DIAGNÓSTICO
Alves adverte que é necessário, para aqueles que estiveram em contato com água de inundações e apresentaram sintomas entre sete a dez dias, informar uma equipe médica para que a suspeita seja considerada e investigada corretamente.
 
“Em relação ao contato com água de enchente e a possibilidade de contrair a leptospirose, não há como prever quem ficará doente. Por isso, a recomendação é apenas para quem teve sintomas, procurar assistência médica”.
 
O diagnóstico é disponível na rede pública de saúde, geralmente realizado em situações de urgência e emergência. “Quando há suspeita da doença, o paciente busca uma unidade de pronto atendimento para notificação e coleta de exames de sangue, visando identificar anticorpos contra a leptospira”, explica o médico.
 
O tratamento deve ser iniciado antes da confirmação do diagnóstico, que pode ser lento por conta da avaliação dos exames. “Isto é crucial para casos graves, que precisam ser tratados rapidamente. Enquanto os leves, muitas vezes, são resolvidos espontaneamente, sem necessidade de intervenção específica. Pacientes com sinais leves podem apresentar apenas febre leve por alguns dias, indisposição e dor de cabeça”, finalizou
 
DADOS
 
Mortes por leptospirose em Uberlândia
 
2015: 4
2016: 4
2017: 0
2018: 3
2019: 1
2020: 2
2021: 4
2022: 0
2023: 1
 
Casos notificados
 
2015: 23
2016: 21
2017: 12
2018: 13
2019: 14
2020: 11
2021: 11
2022: 16
2023: 24


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