Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
03/12/2023 às 12h00min - Atualizada em 03/12/2023 às 12h00min

Especialistas destacam os desafios para Uberlândia na próxima década

Diário traz reportagem especial sobre a projeção de crescimento para a cidade, que ganhou 109,2 mil novos habitantes nos últimos 12 anos

IGOR MARTINS I DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Se seguir a média de crescimento populacional, Uberlândia pode ultrapassar 800 mil habitantes na próxima década I Foto: CELSO RIBEIRO/ARQUIVO DIÁRIO
Apontada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como a cidade que mais registrou aumento populacional em Minas Gerais, Uberlândia ganhou, nos últimos 12 anos, 109,2 mil novos moradores. O cenário de crescimento, no entanto, deve demandar novos investimentos e impor desafios para que a cidade suporte uma expansão de proporções semelhantes já na próxima década. Especialistas ouvidos pelo Diário, nesta reportagem especial, destacam os possíveis problemas e os pontos a serem melhorados para um desenvolvimento sustentável do município.
 
De acordo com o último Censo, divulgado em junho deste ano, Uberlândia chegou à marca de 713.232 habitantes. O crescimento percentual populacional registrado na cidade foi o maior entre todos os municípios de Minas Gerais, chegando a 1,39% por ano, acima inclusive da capital Belo Horizonte. Na comparação total, o crescimento chega a 18,08%. A cidade segue como a segunda maior de Minas, atrás apenas de BH.
 
Se a média registrada nos últimos anos se mantiver na próxima década, Uberlândia ultrapassará a marca de 800 mil habitantes. Ainda que pareça um número distante, é nessa projeção que as autoridades se baseiam para traçar o planejamento para a cidade.
 
MOBILIDADE URBANA
Na visão do empresário, engenheiro civil e vice-prefeito de Uberlândia, Paulo Sérgio Ferreira (PSD), a cidade tem se preparado bem para acompanhar esse crescimento. No entanto, mesmo com os aspectos positivos deste fenômeno, ele acredita que é preciso se atentar aos problemas ocasionados pela chamada “explosão demográfica”, quando ocorre um aumento acelerado de população em um determinado local.
 
“O crescimento de Uberlândia tem pontos positivos e pontos que nos trazem muita preocupação. Até hoje, tudo o que temos feito pela cidade é preparar ela para este crescimento. O trânsito consegue andar com tranquilidade, e grandes obras viárias e de infraestrutura foram feitas para suportar esse desenvolvimento. Ainda temos áreas de vazio urbano, mas temos capacidade de ter crescimento usando a infraestrutura já existente. Precisamos ter muito cuidado para o futuro”, disse Paulo Sérgio.
 
Para o professor e pós-doutor em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Vitor Ribeiro, Uberlândia está se preparando para virar um grande polo, mas ainda precisa melhorar diversos aspectos para oferecer melhor qualidade de vida à população. Na visão do especialista, um dos principais pontos está relacionado ao transporte público municipal.
 
Para Ribeiro, é fundamental que o Sistema Integrado de Transportes (SIT) seja melhorado nos próximos anos, tornando-o mais eficiente e inteligente. O professor da UFU destaca ainda que uma das estratégias pode ser a descentralização dos terminais e oferta de novos serviços, como os micro-ônibus.
 
“Essa questão de terminais é coisa do passado. Precisamos de um sistema inteligente, do século XXI. É necessário implementar serviços de micro-ônibus e tirar essa questão rígida dos terminais. Você não precisa colocar um ônibus grande em toda a cidade, para áreas que não têm grande demanda. Hoje, as pessoas que moram em regiões mais distintas são reféns do Terminal Central. É preciso inovar e pensar na população”, analisou o professor da UFU.
 
Há alguns anos, foi levantada a possibilidade da construção de um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). A ideia inicial era de que o equipamento tivesse duas linhas de circulação, do bairro Fundinho ao Umuarama e outra do Daniel Fonseca ao Aeroporto de Uberlândia. O projeto, no entanto, não caminhou.
 
Na opinião de Vitor Ribeiro, a implementação do VLT ainda não é sustentável para uma cidade do porte de Uberlândia. Segundo ele, o custo de manutenção seria muito alto para um fluxo de passageiros ainda baixo na cidade. O foco atual, segundo o especialista, deve ser melhorar o SIT e pensar em diferentes inovações para os passageiros locais.


• Compartilhe esta notícia no WhatsApp
• Compartilhe esta notícia no Telegram
 
HABITAÇÃO
Outro ponto que desafia o crescimento da cidade é o tema habitação. Nos últimos anos, uma das regiões que mais tem atraído investimentos e recebido atenção, tanto do setor privado como do público, é a Zona Sul de Uberlândia.
 
Melhorias na infraestrutura por meio de obras públicas têm sido destaque nesta região. Em abril deste ano, a avenida Nicomedes Alves dos Santos recebeu um
viaduto no cruzamento com a avenida dos Vinhedos. Além disso, também está prevista para os próximos anos a construção de um terminal de ônibus na Av. Nicomedes e um corredor com novas estações para atendimento a usuários do transporte público.
 
Na visão do pós-doutor em Geografia, a Zona Sul deve seguir como o polo mais atrativo de investimentos na questão dos empreendimentos imobiliários, mas outros setores de Uberlândia também devem acompanhar essa expansão.
 
“Não é só a Zona Sul que tem recebido investimentos. Onde há desenvolvimento imobiliário, os setores de comércio e serviço acabam acompanhando. Temos exemplos de subcentros em várias regiões, como é o Luizote de Freitas, o Santa Mônica, o Presidente Roosevelt. As áreas mais elitizadas precisam entender que a construção de moradias para classes mais baixas é benéfica para a cidade”, explicou Vitor Ribeiro.
 
Durante entrevista exclusiva ao Diário, o engenheiro civil, empresário e vice-prefeito, Paulo Sérgio Ferreira, concordou que, de fato, há um destaque atual na Zona Sul, mas que Uberlândia possui margem para crescer de maneira equilibrada nos setores Norte, Leste e Oeste.
 
“A Zona Sul tinha uma quantidade de vazios urbanos. Com a implantação do shopping e das universidades, atraiu muito crescimento para aquela região. Uberlândia é uma cidade que cresce equilibrada. Temos centros urbanos independentes em todas as regiões, como o Luizote de Freitas, Tibery e Santa Mônica. Temos tido lançamentos próximo ao Aeroporto e também próximo ao Distrito Industrial, na Zona Norte”, avaliou o vice-prefeito.
 
CRESCIMENTO DE ÁREAS IRREGULARES
Um dos problemas gerados pelo desenvolvimento, que acaba atraindo pessoas de diversas regiões em busca de oportunidades, tem sido o aumento de áreas irregulares. Conforme divulgado pelo Colégio Registral Imobiliário de Minas Gerais (Cori-MG), a cidade tem cerca de 15 assentamentos atualmente.
 
Na visão do professor da UFU, uma das estratégias para diminuir a incidência das invasões é a construção de moradias populares. Com o desenvolvimento do setor imobiliário no município, o professor informou que vários loteamentos têm surgido dia após dia em todos os setores de Uberlândia, o que pode contribuir com uma expansão populacional e territorial mais sustentável da cidade.
 
PLANEJAMENTO PLUVIOMÉTRICO
A questão climática também deve ser um dos pontos a serem discutidos pelas autoridades nos próximos anos. Na questão de Uberlândia, ainda há uma preocupação com o planejamento pluviométrico, considerando os problemas que a cidade enfrenta anualmente durante o período chuvoso, especialmente na avenida Rondon Pacheco.
 
Nos últimos anos, foram realizadas obras de bolsões de contenção de água, visando a minimização de enchentes, alagamentos e enxurradas. Na visão do vice-prefeito, Paulo Sérgio Ferreira, esse é um problema antigo do município e que não será resolvido de imediato. No entanto, algumas estratégias podem ser implementadas para minimizar a questão.
 
Em relação à questão da Rondon Pacheco, o vice-prefeito afirmou que é preciso implementar um sistema para retardar o escoamento de água. Assim como aconteceu nos bairros Umuarama e Morumbi, alguns bolsões de água devem ser feitos em loteamentos espalhados pelo município para amenizar o problema.
 
“Bolsões de água estão sendo feitos para captar e ir escoando essa água aos poucos. Esse tipo de obra tem que continuar sendo feita em Uberlândia para poder resolver definitivamente o problema das enchentes na Rondon Pacheco. Também temos que nos preocupar com as matas ciliares e o replantio de árvores. Isso dá mais suporte para a gente evitar grandes enchentes e evitar um colapso na questão do escoamento da água”, detalhou Paulo Sérgio.
 
ABASTECIMENTO
Um ponto que preocupa especialistas a nível mundial é a questão da distribuição de água. Uberlândia teve alguns problemas pontuais com desabastecimento em 2019, mas segundo o vice-prefeito, o Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) será capaz de atender toda a população com água tratada mesmo se dobrar o número de habitantes.
 
“Uberlândia talvez seja uma das cidades mais preparadas para ter esse crescimento não só na questão da distribuição de água, mas também no tratamento de esgoto e destinação dos resíduos sólidos. Temos um aterro sanitário que é modelo, totalmente certificado e ambientalmente adequado. Logicamente a cidade cresce e a demanda também, mas estamos trabalhando para atender a população que aqui existe e a população que vai chegar”, disse.
 
ÁREAS VERDES
A manutenção das áreas verdes também é um desafio no futuro, já que a expansão imobiliária muitas vezes resulta na supressão de regiões arborizadas. Em 2021, o Diário noticiou a construção de um empreendimento colocou fim a uma área de preservação do cerrado com mais de 82,2 mil m², ameaçando ainda a vida
de 200 espécies de aves na região.
 
Para o vice-prefeito, é preciso implementar estratégias que entreguem conforto ambiental para a população de Uberlândia. Ele considera fundamental estimular o plantio de árvores e dar atenção especial para as áreas de preservação da cidade, como o Parque do Sabiá, Siquieroli, Gávea e Santa Luzia.
 
“Quando a gente constrói ciclovias, contribuímos com a questão ambiental. Tem menos poluição de ar, menos emissões. Quando temos um Rio Uberabinha com margens conservadas e despoluído, é um privilégio. Temos que estimular o plantio de árvores para reduzir a temperatura e a poluição da cidade. A questão ambiental de Uberlândia está boa, mas precisa melhorar”, informou Paulo Sérgio.
 


POLÍTICAS PÚBLICAS
O investimento em políticas públicas é apontado pelo diretor do Observatório de Políticas Públicas, Leonardo Barbosa, como uma questão imprescindível para o desenvolvimento da cidade. Segundo ele, o Legislativo de Uberlândia será fundamental para os avanços na próxima década. No entanto, na visão dele, os vereadores ainda não são protagonistas na definição das pautas do Município e essa realidade terá que mudar.
 
De acordo com o especialista, a agenda legislativa de Uberlândia é, atualmente, quase inteiramente pautada pelo Executivo. Dessa forma, Barbosa afirma que é a Prefeitura quem costuma tomar as rédeas dos temas mais importantes que são tratados na Câmara Municipal, enquanto o Legislativo apenas confirma os projetos.
 
Para as próximas décadas, Leonardo Barbosa crê em uma preocupação maior com a pauta ambiental, um tema sensível e complexo que tem sido alvo de sessões, tendo em vista o avanço do aquecimento global, poluição e também as recentes ondas de calor, que chegaram a elevar as temperaturas de Uberlândia para a casa dos 40°C.
 
“A questão climática, em termos de política pública, tem uma dimensão não apenas de atuação local, mas regional. Não é possível fazer muito se não contarmos com uma articulação estadual, nacional e internacional. Os efeitos climáticos não são controláveis só na região em que nós nos encontramos, mas Uberlândia definitivamente precisa se atentar a isso”, disse.
 
Pensando ainda no âmbito da questão ambiental, Barbosa vê uma esperança para melhorar a realidade dos problemas climáticos através da implementação de diferentes tipos de transporte no futuro, seja para daqui uma ou mais décadas. De acordo com o especialista, a Prefeitura precisa começar a dar mais atenção a pedestres, sem deixar de realizar benfeitorias para motoristas.
 
Segundo Leonardo Barbosa, Uberlândia não é uma cidade acessível e convidativa para pedestres nos dias atuais. As calçadas são irregulares e há pouco incentivo para o uso de veículos não-poluentes, como é o caso das bicicletas. Além disso, a precariedade do transporte público também desencoraja os usuários a aproveitarem o serviço, levando ao maior uso de carros e consequentemente aumentando a emissão de CO2 na atmosfera.
 
“Uberlândia precisa induzir as outras cidades a terem comportamentos semelhantes, pressionar autoridades estaduais, nacionais e internacionais. Isso é muito importante para a gente garantir a nossa sobrevivência, seja para a geração atual ou a futura geração. A agenda verde não é mais uma questão de luxo, é uma necessidade que transcende classe e posição partidária”, avaliou Barbosa.
 
REVITALIZAÇÃO DO CENTRO
Outro ponto abordado pelo Diário com Paulo Sérgio Ferreira foi com relação à revitalização do Centro de Uberlândia. Em 2020, a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) anunciou um projeto para renovar a área e melhorar a região para comerciantes e clientes. O objetivo da iniciativa é promover uma série de mudanças urbanísticas.
 
O vice-prefeito afirmou que o Município também tem um projeto de
revitalização do Centro de Uberlândia e que, na visão dele, é fundamental que a região seja melhorada. Três anos depois do projeto apresentado pela CDL, Paulo Sérgio pensa que seja a hora de reavaliar o tema e partir para a ação.
 

“Eu entendo que o Centro precisa ser revitalizado. Precisamos ter o uso do Centro com comércio e com pessoas morando por lá. Revitalizar para ninguém usar não adianta. Precisamos de iluminação pública de qualidade, trafegabilidade para idosos, grávidas e mulheres, segurança. Nós fizemos um projeto, mas não houve tempo para se implantar. A questão da revitalização é complexa e sensível. Tem que fazer uma nova pesquisa e envolver os comerciantes. A CDL tem um bom projeto, temos que discutir com a sociedade e fazermos alguma coisa para melhorar o Centro. Não sei dizer se é o nosso projeto ou da CDL, mas que tem que fazer algo, isso tem”, disse o vice-prefeito.


 
CORRIDA ELEITORAL
Em 2024, as Eleições vão definir quem deve ser o próximo prefeito (a) do Município. Durante a entrevista ao Diário, o atual vice-prefeito, Paulo Sérgio Ferreira afirmou que a gestão está focada em terminar o mandato, mas que ele já demonstrou interesse em uma eventual disputa ao cargo de chefe do Executivo no próximo ano.

 
“Tenho lealdade e admiração pelo prefeito. Trabalho com ele há 20 anos. O foco hoje é melhorar a vida das pessoas na cidade e terminar um bom mandato. A candidatura não é de uma pessoa, mas de um grupo. O meu nome está à disposição. Eu tenho condições de ser candidato, mas isso vai depender do grupo político do qual fazemos parte. Me sinto preparado para poder administrar a cidade, mas é uma decisão do grupo, e não uma decisão individual”, pontuou.


VEJA TAMBÉM:
 
 

Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90