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08/10/2023 às 12h00min - Atualizada em 08/10/2023 às 12h00min

Casos de meningite em Uberlândia aumentam 16% em 2023; saiba mais sobre a doença

Inflamação acomete especialmente crianças e pode levar a óbito; vacinação é a melhor forma de prevenção

IGOR MARTINS | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Município tem 75% de cobertura em crianças e 60% em adolescentes; taxa ideal é acima de 95% | Foto: FÁBIO NUNVES/MG

Cerca de 98 casos de meningite foram registrados em Uberlândia entre janeiro e agosto de 2023. O índice é 16% maior do que o computado durante o mesmo período de 2022, quando a cidade teve 84 confirmações da enfermidade. Os dados foram repassados pela Superintendência Regional de Saúde (SRS) a pedido do Diário e levam em consideração os registros de hospitais públicos e privados de residentes do município.

 

Conforme divulgado pela superintendência, a meningite viral é a mais comum entre os pacientes. Dos 98 casos registrados nos oito primeiros meses, mais da metade foram causados por algum vírus, totalizando 55. Na sequência, a meningite bacteriana foi a mais encontrada entre os enfermos, com 32, enquanto as outras 11 foram causadas por outras etiologias.

 

De acordo com o médico infectologista Henrique de Villa Alves, a meningite é um processo infeccioso do sistema nervoso central que acomete as chamadas “meninges”, que revestem o cérebro. A infecção pode ser causada por múltiplos agentes, incluindo bactérias, vírus, parasitas e fungos, sendo que a maioria das doenças são virais.

 

Segundo Alves, existem três tipos de meningite: a viral, a bacteriana e a causada por fungos. A considerada mais grave é a bacteriana, já que apresenta um nível maior de complicações. A menos comum é a fúngica, mas também podem causar maiores complicações e sequelas. As virais acontecem em maior número mas possuem a menor taxa de gravidade.

 

“A meningite é uma inflamação das membranas que revestem o cérebro e que podem ter várias causas. A maior parte dos casos acontecem por infecções virais que muitas vezes passam despercebidas. Uma dengue pode evoluir para a meningite, assim como vírus de gripes e resfriados. Na maioria das vezes, o paciente nem vai procurar um hospital para fazer o diagnóstico. O que requer mais atenção são as meningites causadas por bactérias”, disse.

 

Conforme relatado pelo infectologista, qualquer pessoa pode ser contaminada pela meningite, sendo que os sintomas podem variar de acordo com seu tipo e, sobretudo, de acordo com a idade. Os casos de meningite, no entanto, são mais comuns entre crianças, adolescentes e idosos, mas adultos não estão imunes a serem contagiados pela enfermidade.

 

A bacteriana inclui febre, dor de cabeça e rigidez de nuca. Também há mal-estar, náusea, vômito, fotofobia, confusão mental e, em casos mais graves, convulsões, delírio, tremores e coma.

 

O médico alerta que em recém-nascidos e em bebês, os sintomas podem ser mais difíceis de serem percebidos. Os pequenos podem ficar irritados, ter vômito, reflexos anormais e fontanela (moleira). Dependendo da bactéria que causa a doença, também podem aparecer fadiga, mãos e pés frios, calafrios, dores nos músculos, articulações, respiração rápida, diarreia e manchas vermelhas pelo corpo.

 

A meningite bacteriana é a mais grave e a que geralmente está relacionada com óbitos. Segundo o médico, a resposta inflamatória que o corpo desencadeia para eliminar uma bactéria é maior. Ela acaba tendo uma agressão mais forte no tecido cerebral e tem uma virulência maior. Dentro das meningites bacterianas, há casos mais ou menos graves.

 

“A meningite bacteriana pode causar edema cerebral e confusão mental. Além de afetar as meninges do cérebro, ela afeta todo o corpo humano. O paciente pode ter uma queda de pressão, sangramento, lesões de pele e falha de múltiplos órgãos. Ela tem uma evolução rápida e o tratamento tem que ser feito prontamente. Mesmo assim, o paciente ainda pode evoluir mal. Aqueles que não morrem costumam ter grandes sequelas”, contou o especialista.

 

Os sintomas da meningite viral são semelhantes aos da bacteriana: o paciente pode ter febre, dor de cabeça, rigidez de nuca, falta de apetite, irritabilidade, dificuldade para acordar do sono, dentre outros. As doenças causadas por parasitas ou fungos também são parecidas com aquelas ocasionadas por outros agentes etiológicos.

 

“No início, a meningite pode ter sintomas mais leves, com mal-estar e febre, sem ter sintomas neurológicos. Muitas vezes, quando o paciente procura um hospital não é possível fazer o atendimento porque ainda não há suspeita de meningite. O mais prudente é orientar que naquele momento não há sintoma ou sinal de doença grave, mas a qualquer mudança, o paciente precisa retornar. A grande questão da meningite é que ela é uma doença que evolui muito rápido. O paciente pode estar bem de manhã e no fim do dia estar em coma. É uma doença que tem urgência e que precisa ser tratada rapidamente”, explicou o infectologista.

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MORTES
Apesar do aumento de casos confirmados, as mortes causadas por meningite caíram 62,5% na comparação dos anos de 2022 e 2023. No ano passado, a SRS totalizou 16 óbitos de residentes de Uberlândia em hospitais públicos e privados. Neste ano, mesmo com mais notificações, o índice total foi de seis mortes.

 

Os dados da superintendência regional mostram que a meningite bacteriana segue sendo a mais fatal na cidade. Das seis mortes registradas no ano, cinco foram causadas por uma bactéria, enquanto uma foi por vírus. No ano passado, entre os 16 óbitos confirmados por meningite, 10 foram bacterianas, dois virais e quatro por outras etiologias.

 

“Talvez as mortes caíram porque o atendimento foi prestado de forma adequada. Antes dos antibióticos, a meningite tinha 100% de letalidade. Talvez o aumento de casos esteja relacionado com o declínio na vacinação. Todas as meninges bacterianas possuem vacinação, inclusive na rede pública, que é o melhor jeito de se prevenir contra a doença”, disse Henrique.

 

HC-UFU
Além dos casos computados pela SRS, o Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU) também registra atendimentos relacionados à meningite. Em 2023, a unidade confirmou 38 casos da doença, uma diminuição de 58% em relação a 2022, quando o hospital teve 91 confirmações da enfermidade.

 

Um agravante do dado disponibilizado pelo HC-UFU é com relação às mortes registradas na unidade. O número de óbitos computados nos dois anos foi igual, mesmo com uma diferença considerável no número de casos confirmados: seis para cada ano. No entanto, por atender 27 municípios do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, o hospital informou que não é possível afirmar quantos casos registrados e de mortes são de residentes de Uberlândia.

 

FORMAS DE PREVENÇÃO

De acordo com Henrique de Villa Alves, a melhor forma de prevenção contra a meningite segue sendo a vacinação, mas há algumas medidas de prevenção que podem ser adotadas para evitar a contaminação da doença.

 

Por ser uma doença contagiosa, evitar locais com aglomeração de pessoas ajuda a prevenir casos de meningite, bem como não compartilhar objetos de uso pessoal. O infectologista também recomenda o reforço dos hábitos de higiene, lavando as mãos com frequência, especialmente antes das refeições. Deixar os ambientes ventilados também é um dos pontos a serem observados.

 

“A meningite pode ser transmitida de pessoa para a pessoa. Quando o paciente é diagnosticado, ele fica isolado para o início do tratamento. Nós temos contato a todo tempo com pessoas portadoras. A maioria delas não desenvolvem a doença. Não existe uma forma específica de prevenção a não ser a vacinação. Esse precisa ser o foco”, relatou.

 

HISTÓRIA DE FAMÍLIA

A vida de Nathalia Oliveira mudou devido à meningite bacteriana. No dia 26 de agosto, a recepcionista perdeu a filha Manuella, de 6 anos, que não resistiu à luta contra a infecção. Em conversa com o Diário, a mãe contou sobre o diagnóstico da pequena e fez um alerta para os pais com relação aos sintomas da enfermidade.

 

De acordo com Nathalia, Manu tinha todas as vacinas oferecidas pelo SUS, mas a mãe conta que o nome “meningite” nunca havia passado por sua cabeça. Ela só foi descobrir o que era e o que isso causava após a morte de sua filha. Os sintomas, no início, pareciam ser de uma virose comum, mas na realidade era a meningite bacteriana.

 

“A Manu começou a ter sintomas de vômito e febre, que é normal de uma virose. Ela foi para a escola, brincou, tudo normal. Ela deu uma recaída um dia depois e a levamos ao hospital. A rigidez na nuca foi o que levou o médico a suspeitar de meningite. Os médicos já fizeram exames e separaram ela em uma sala”, relembrou Nathalia.

 

Depois de receber as primeiras medicações em um hospital público da cidade em uma quarta-feira, Nathalia lembra que Manu começou a reclamar de dores de cabeça e dor na nuca com mais intensidade. Pouco depois, a pequena começou a ter delírios e tentou morder a própria mão.

 

“Quando isso aconteceu, os batimentos dela estavam em 49. O médico olhou para mim e falou que precisava entubar dela. Não sei explicar o que eu senti na hora, mas meu coração entrou em desespero. Eu senti uma coisa no coração, não sei o que foi, mas mãe tem isso, mas senti que minha filha havia morrido naquele instante”, disse a recepcionista.

 

Manu foi transferida até o HC-UFU no mesmo dia, onde foi entubada e sedada para se recuperar da doença. Inicialmente, ela fez exames para averiguar a atividade cerebral. O cérebro da menina estava inchado. Mesmo com as medicações, Manuela não estava reagindo e, segundo os médicos do local, o caso era grave e com risco de morte.

 

Apenas três dias depois, em um sábado, novos exames foram realizados e foi constatada a morte cerebral de Manuela. “Eu conversei com minha filha ainda com os aparelhos ligados. Pedi para ela me dar um sinal, mas infelizmente ela não deu”, lamentou.

 

Pouco mais de um mês após a morte de Manu, Nathalia Oliveira faz um alerta para os pais de crianças e adolescentes. “Não acreditem no nome ‘virose’. Os sintomas iniciais de meningite são febre, vômito e dor de cabeça. Tem muito pai e mãe indo em hospitais e os médicos mandando voltar. A meningite tem hora só para matar, mas não tem hora para chegar. A meningite leva a óbito de 24 a 48 horas, como foi o caso da Manu”, alertou.

 

VACINAÇÃO EM UBERLÂNDIA
Conforme dados levantados do Sistema de Informação de Insumos Estratégicos (SIES), no fim de setembro, a SRS Uberlândia no ano de 2022 dispensou ao município de Uberlândia 18.562 doses da vacina meningo ACWY e 68.325 doses de meningo C. De janeiro a agosto de 2023, 22.069 doses da Meningo ACWY e 110.041 doses de Meningo C foram entregues para Uberlândia.

 

A secretaria Municipal de Saúde informou no último mês que tem realizado a campanha para vacinação contra meningite desde novembro de 2022, aplicando mais de 160 mil doses além das de rotina, atingindo 75% de cobertura em crianças e 60% em adolescentes, o equivalente às médias alcançadas nacionalmente. No entanto, a cobertura ideal deve ultrapassar a taxa de 95%.

 

O Diário de Uberlândia procurou a Prefeitura para obter mais informações sobre a cobertura vacinal no Município, bem como consultar a disponibilidade de doses contra a meningite na rede municipal. Até a publicação desta reportagem, não houve retorno. 

 

VEJA VACINAS DISPONÍVEIS NO SUS

 

No Sistema Único de Saúde (SUS), as vacinas contra as formas mais graves de meningite disponíveis são:

 

Meningite do tipo C (a proteção está contida na vacina Meningo C)

- Para crianças (1ª dose aos 3 meses; 2ª dose aos 5 meses; e reforço entre 12 meses e 4 anos 11 meses e 29 dias)
- Para adolescentes entre 10 e 11 anos – 1 dose
- Para Trabalhadores de Saúde – 1 dose

 

Meningite do tipo A ou C ou W ou Y (a proteção está contida na vacina Meningo ACWY)

- Para adolescentes entre 12 a 15 anos – 1 dose

 

Meningite por pneumococo (a proteção está contida na vacina Pneumo 10)

- Para crianças (1ª dose aos 2 meses; 2ª dose aos 4 meses; e reforço entre 12 meses e 4 anos 11 meses e 29 dias)

 

Meningite por Haemophilus influenzae (a proteção está contida na vacina Pentavalente):

- Para crianças (1ª dose aos 2 meses; 2ª dose aos 4 meses; e 3ª dose aos 6 meses)

 

Meningite tuberculosa (a vacina BCG protege contra a meningite tuberculosa):

- Para crianças, ao nascer

 

Nas Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF) o funcionamento é das 7h30 às 16h30. Já nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), das 8h às 18h, sendo que as unidades dos bairros Brasil e Tocantins, devido ao Horário do Trabalhador, funcionam até as 21h. 

 

Nos ambulatórios das Unidades de Atendimento Integrado (UAI), exceto Morumbi e São Jorge, o horário de atendimento é das 8h às 21h. As doses disponibilizadas dependem do envio pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais e do Ministério da Saúde. 



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