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28/08/2023 às 20h39min - Atualizada em 28/08/2023 às 20h39min

Saúde: descentralização do atendimento de alta complexidade é discutida em Uberlândia

Audiência pública aponta necessidade de alternativas para desafogar o HC-UFU

KAUÊ ALTRÃO | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Superlotação e insuficiência de profissionais é um dos problemas apontados pelo HC | Foto: HC-UFU
A necessidade da ampliação da capacidade de atendimento para casos de emergência e de alta complexidade pelo Sistema Único de Saúde (SUS) foi tema de uma audiência pública realizada na tarde desta segunda (28), em Uberlândia. 

A iniciativa faz parte de uma investigação que apura problemas enfrentados no Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), entre eles a superlotação, a falta de insumos e materiais, atrasos e cancelamentos de cirurgias e insuficiência de leitos e de profissionais especializados.

O  assunto ganhou destaque após o falecimento, no mês passado, de Eurípedes Roberto Faria, de 74 anos, que morreu após aguardar, por quase quatro horas, por atendimento dentro de uma ambulância no estacionamento do HC-UFU. 

Durante o debate desta segunda, que contou com representantes da Prefeitura de Uberlândia, do HC-UFU e dos Ministérios Públicos Estadual e Federal, uma das questões apresentadas foi a necessidade de abertura de um Hospital Regional em Uberlândia, além da necessidade de alternativas para o sistema público.

Para o procurador do Ministério Público Federal em Uberlândia, Cleber Eustáquio Neves, a morte do idoso reflete as deficiências na saúde pública de Uberlândia, que, para ele, gera uma reação em cadeia. 

 
“As 8 UAIs recebem pacientes de urgência emergência, o primeiro local o qual o socorro do SUS direciona os casos de alta complexidade. Lá eles não são atendidos pela falta de profissionais para esse tipo de atendimento, como acidentes, infartos ou AVCs. Esse tempo é precioso para a vida. E esses pacientes depois são levados ao HC-UFU, já com superlotação, que atende toda a região. Mas, e sobre o Hospital Municipal, por que não poderia atender esses casos? Por que não tem um Pronto Socorro? E a maior necessidade é a falta de um hospital regional no município”, questionou.

Ainda de acordo com o procurador, o atendimento do Hospital de Clínicas é de “portas abertas”, realizando o socorro para quem necessitar, o que é positivo, mas também contribui para a alta demanda. Para Cléber Eustáquio, parte destes atendimentos poderiam ser destinados a outro centro de apoio para suprir a necessidade. 

“Precisamos de opções da UFU, ou que haja um atendimento no Hospital Municipal, no antigo Santa Catarina ou até mesmo recorrer à necessidade do Hospital Regional. Precisamos de um centro de atendimento de alta complexidade. Ou pelo menos que atendimentos locais passem a se capacitar e se adequar para o pronto socorro”, enfatizou.

Conforme o procurador, Uberlândia tem um pedido antigo para a construção de um Hospital Regional que está no papel desde 2014. Em 2018, a solicitação voltou a tramitar judicialmente, mas, em 2019, após recurso, a questão tornou a ser paralisada. Segundo Cléber Eustáquio, a falta de disponibilização de mais um serviço de atendimento vem ocasionando a alta demanda em toda a rede, o que também impacta no fornecimento de saúde do HC-UFU, que, além do município, também recebe pacientes de toda a região. 

“Precisamos achar uma solução para isso e acredito que a solução é ter mais um centro de referência de alta complexidade, temos situações que são possíveis de se reverter e precisamos desse atendimento. Temos mais de 700 mil habitantes com uma capacidade de leitos pequena. Temos crianças e pessoas esperando em filas de cirurgia há anos. Isso é grave”, concluiu.

Uma avaliação feita pelo Ministério Público Federal apontou que Uberlândia possui atualmente 1.384 leitos no SUS, quantidade inferior à cidade de Juiz de Fora, por exemplo, que possui 1.848 unidades, mesmo tendo uma população menor. O MPF também argumenta que o município de Uberaba, que também possui uma população inferior a Uberlândia, já foi contemplado com uma unidade regional.


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UFU X PREFEITURA
Na visão do superintendente do Hospital de Clínicas da UFU/Ebserh, Luciano Martins, a gestão do HC tem organizado a equipe de médicos que realizam a triagem dos casos, principalmente de urgência e alta complexidade, de forma a realizar uma triagem que condiz com a necessidade. 

Porém, ainda conforme o representante, o hospital ainda segue necessitando de colaboração, tanto do serviço de saúde no município como na região, que também determinam o fluxo de pacientes. 

“Recebemos uma alta demanda e um grande fluxo de direcionamento de solicitações de encaminhamento para o HC, além de Uberlândia. Temos casos em que poderíamos encaixar outras pessoas até mesmo com mais necessidade. Porém, não podemos só fechar as portas, temos vidas do outro lado. Qual seria a decisão certa? Eu atendo e tenho uma superlotação. Precisamos entender que somos prestadores de serviço, com dificuldade como qualquer outro e estamos aumentando nossos laços com a gestão municipal para avaliar de forma mais precisa e ágil cada caso”, disse. 

Por outro lado, o secretário municipal de Saúde, Clauber Lourenço, afirma que o município ainda não consegue disponibilizar o atendimento de pronto socorro no Hospital Municipal devido ao alto custo, tanto com a necessidade de profissionais como de adequação dos espaços.

De acordo com o secretário, atualmente, o município já investe na saúde além da capacidade mínima exigida. Segundo Clauber, atualmente, para suprir a necessidade, o acordo com o HC é realizado de forma a realizar a prestação de serviços para os casos de alta complexidade. Sendo assim, os casos de atendimento primário seguem sendo feitos pelas demais unidades, como o Hospital Municipal e as Unidades de Atendimento Integrado (UAIs). 

INVESTIMENTOS EM 2023

Na última semana, a Prefeitura de Uberlândia divulgou um balanço dos investimentos feitos pelo Município na área da Saúde em 2023. O levantamento aponta que foram aplicados mais de R$ 618 milhões na saúde pública entre janeiro e julho deste ano. 

De acordo com o Executivo, deste total, R$ 434 milhões saíram dos cofres do Município e os outros R$ 184 milhões foram provenientes de repasses da União e Estado. Em 2022, durante todo o ano, segundo a Prefeitura, foram investidos mais de R$ 624 milhões na cidade, enquanto, em 2021, R$ 527 milhões. Conforme as projeções da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a estimativa é que em 2023 o valor ultrapasse os gastos anteriores.

De acordo com a SMS, o recurso foi utilizado para manutenção das unidades municipais de saúde e das Unidades de Terapia Intensiva (UTI), custos com procedimentos cirúrgicos, atendimentos de rotina para a população e os demais serviços ligados aos cuidados da população, incluindo os realizados em parceria com a rede privada e no Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU).

O balanço apresentado aponta que os principais centros de atendimento médico, como o Centro de Internação Clínica, Centro de Internação Pediátrica e o Anexo do Hospital e Maternidade Municipal Dr. Odelmo Leão Carneiro, geraram um custo médio mensal de R$ 10 milhões neste ano. Em relação às oitos Unidades de Atendimento Integrado (UAIs) da cidade, o gasto médio mensal é de R$ 20,4 milhões. Anualmente, são aplicados cerca de R$ 245 milhões nas unidades. 

Referente aos repasses destinados a procedimentos do Sistema Único de Saúde (SUS), o Município afirma que investiu mais de R$ 21 milhões nos primeiros sete meses de 2023. Ainda durante o período, o relatório da SMS detalha que foram repassados R$ 133 milhões ao Hospital de Clínicas da UFU, provenientes dos cofres municipais e das verbas enviadas pelo Governo Federal. 

PRÓXIMO PASSO
Após a audiência pública, a próxima etapa será um levantamento dos depoimentos que auxiliarão os Ministérios Públicos a deliberarem sobre como vão atuar no desdobramento da apuração. O MP também deve solicitar novamente a abertura do hospital regional na cidade.


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