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25/10/2022 às 15h11min - Atualizada em 25/10/2022 às 15h11min

Temperatura média em Uberlândia subiu 0,3°C na última década

Estudo produzido por doutor em Geografia revela que índice anual saltou de 23,3°C, em 2010, para 23,6°C em 2021

SÍLVIO AZEVEDO I DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Médias de temperaturas mínimas e máximas absolutas na cidade são de 8,2°C e 36,4°C, respectivamente I Foto: ARQUIVO DIÁRIO
Um estudo publicado por um professor doutor em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) revelou transformações significativas no clima de Uberlândia, na última década. Segundo Eduardo Petrucci, a temperatura média na cidade teve um aumento de 0,3°C, saltando de 23,3°C, em 2010, para 23,6°C, no ano passado. O levantamento apontou ainda que, nos últimos seis anos, a cidade teve variações de 1,5°C e 0,5°C nas mínimas e máximas absolutas, respectivamente. 
 
O especialista em Climatologia analisou o comportamento climático do Município entre 2010 e 2021 e constatou alterações consideráveis tanto na temperatura média anual, quanto nas máximas e mínimas registradas pelos termômetros locais. 
 
No levantamento, o especialista comparou dois períodos. Entre 2010 e 2015, a média anual foi de 23,2°C. Já nos seis anos seguintes, esse índice subiu para 23,6°C. O resultado foi uma alteração de 0,4°C na comparação entre os dois períodos e de 0,3°C, considerando a média da última década.
 
 “Parece pouca coisa olhando apenas o aumento de 0,4°C, mas é um valor a ser levado em consideração, visto que estamos dentro do intervalo de aumento da temperatura global, assim como preconizado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)”, afirmou o climatologista.
 
Os estudos mostraram ainda que os anos com a menor média anual de temperatura foram 2011 e 2013, que atingiram os 22,8°C. O maior índice foi percebido em 2019, com 24°C, e 2015, com 23,9°C (veja os números no fim da matéria).



 
“Houve muitas anomalias acontecendo nesses anos, não só no Brasil como em todo o mundo. No Brasil, a ação dos bloqueios atmosféricos inibiu a chegada de massas de ar unidas na nossa região, diminuindo também a nebulosidade, fazendo com que os raios solares incidissem diretamente sobre a gente, deixando os dias e noites mais quentes”, explica Eduardo.


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Segundo o doutor em Geografia, não há como afirmar que o clima mudou, mas deduzir sobre algumas características das variáveis climatológicas nos últimos anos.

 
“Com certeza o período com maior variação de temperatura foi a década de 2010. Nesse período muitos fenômenos que possuem suas próprias características de frequência de ocorrência 'resolveram' atuar, alterando o padrão normal do clima. O ano de 2019 foi ruim de chuva aqui para nossa cidade, assim como 2014. Já 2021 foi um ano bem chuvoso. Estão acontecendo muitas variações que nossos modelos, ainda básicos, tem dificuldade de analisar e fazer previsões”, avalia.
 
O professor reforça que, nos últimos anos, as temperaturas máximas têm se elevado gradualmente e as temperaturas mínimas têm diminuído, o que explica condições mais extremas do que o normal e uma sensação de “ou tá muito quente ou tá muito frio”.  “Eu, enquanto climatologista e pesquisador, vou totalmente de acordo com os 90% dos pesquisadores mundiais que afirmam as evidências das Mudanças Climáticas, e só de podermos identificar uma variação de temperatura em um período de 10 anos já são indícios que estamos sentindo reflexos das mudanças climáticas globais”.
 
Para o climatologista Rafael de Ávila Rodrigues, a variação de 0,3°C na média anual, índice teoricamente baixo, é um sinal de alerta. “É um alerta para preocupar em relação aos efeitos do aumento da temperatura nos centros urbanos devido, principalmente a impermeabilização do solo, casas, prédios e construções que, ao absorver a radiação solar, proporciona um maior aquecimento da superfície. Com o crescimento das cidades a tendência é de maior aumento emissão de poluentes e consequentemente aumentando os níveis de desconforto térmico”, destacou.

MÍNIMAS E MÁXIMAS
A tese apresentada pelo pesquisador Eduardo Petrucci também mostrou alterações relevantes com relação às temperaturas mínimas e máximas. Em Uberlândia, a média das temperaturas máximas, entre 2010 e 2021, considerando os registros absolutos, foi de 36,4°C. De 2010 a 2015, essa medição foi de 36,2°C. De 2016 a 2021, a média percebida foi de 36,7°C, o que equivale a uma variação de 0,5°C entre os dois períodos, aproximadamente. O ano mais quente da última década foi 2020, que atingiu a marca de 38,5°C.
Já às mínimas tiveram uma variação maior. De acordo com o estudo científico, entre 2010 e 2015, a média das mínimas (valores absolutos) na cidade foi de 9,0°C, enquanto entre 2016 e 2021, o índice chegou a 7,5°C, ou seja, 1,5°C mais frio. A média mínima da última década foi de 8,2°C. Enquanto em 2010, a temperatura mais fria registrada foi de 8,2°C, 2021 registrou o menor índice, 4,7°C. A mais alta do período nesta comparação foi percebida em 2015, com 12,8°C.               


 
VARIAÇÃO PLUVIOMÉTRICA
O estudo também apontou que a precipitação média anual para a cidade de Uberlândia é de 1.507 mm. A estação chuvosa na cidade ocorre geralmente entre outubro a março, todos eles com precipitação acumulada superior a 100 mm mensais. Nessa época, também ocorrem as maiores temperaturas mensais, superiores a 23°C.
 
Por outro lado, a estação seca, percebida de junho a agosto, registra precipitação mensal inferior a 20 mm. “Em anos passados ou décadas passadas a precipitação era bem mais distribuída do que é agora. Há uma tendência na redução do período chuvoso, mas não há tendência de redução do volume de chuvas anuais. Logo, pode esperar que a mesma quantidade de precipitação ocorra em menos tempo, isso faz com que tenhamos chuvas muito concentradas, chuvas torrenciais, aquelas com potencial para causar muitos prejuízos humanos, financeiros e ambientais”, explicou Eduardo.

Para o climatologista Rafael de Ávila, a variação de precipitação mensal ocorre, principalmente, por conta de alterações das condições na circulação regional devido a atuação de uma massa de ar seco. “Forma um bloqueio atmosférico impede o avanço das frentes frias vindas da região sul do Brasil. Assim, aumenta as temperaturas e diminui a umidade aonde os índices chegam semelhantes a deserto. Com o avanço da massa de origem polar acarreta quedas bruscas da temperatura mínima do ar dependendo da época do ano”, esclareceu.
 
O climatologista observa que, com os dados históricos do período, existe o risco de a situação se tornar mais extrema, com temperaturas cada vez mais altas e o índice de chuva cada vez menor. “As previsões do IPCC indicam que a tendência é a ocorrência de maiores eventos climáticos extremos, tais como: secas severas, recordes de temperatura e maior variabilidade das chuvas de forma concentradas, pontuais e distribuição irregulares. Esses acontecimentos estão associados principalmente a um maior aquecimento do planeta que acarreta alterações nos padrões climáticos globais”, informou Rafael.
 
IMPACTO AMBIENTAL
As alterações climáticas têm ligação direta com os impactos produzidos no Meio Ambiente. Segundo o ambientalista mestre em Geografia, João Paulo Hordones Faria, a diminuição das áreas verdes pode ser um dos causadores das transformações percebidas na última década.
 
“Se você tem as áreas verdes, que chamamos de cobertura vegetal, tem uma mudança mesmo que no microclima local. Se você olhar para Uberlândia, se não me engano, nós estamos com uma média de 14% de cobertura vegetal natural. Com essa porcentagem não se pode ter uma qualidade ambiental”, disse.
 
Para o ambientalista, a diminuição das coberturas vegetais na cidade é notória. Como exemplo, ele cita a recente supressão de uma área no entorno do Córrego Mogi, importante espaço para o ambiente da cidade, com solo que absorve a água das chuvas e diminui os impactos nas áreas mais baixas.
 
Uma área estratégica que deverá ser ocupado por um condomínio. O meio ambiente, e nós que estamos envolvidos, somos afetados. No período chuvoso você tem chuvas cada vez mais intensas, um grande volume de água num curto espaço de tempo, causando as inundações. Por quê? Porque está tudo impermeabilizado. Com a urbanização, se antes, ele sozinho já não era capaz de suportar toda a infiltração das chuvas, vai diminuir e, com isso, as enchentes causarão mais desconforto para a população”, destacou.
 
O especialista lembra que as amostras de monitoramento são recentes, datam de menos de um século e, em se tratando de Uberlândia, algumas décadas. “Então quando a gente fala sobre mudança climática, são hipóteses que estão se confirmando, demonstrando, com o passar dos anos. Imagino que minimamente as ações do homem aceleram. Se são o principal, ou o único, isso necessita de estudos mais aprofundados no passar dos próximos anos, com uma amostra maior de monitoramento”.
 
TEMPERATURA MÉDIA ANUAL
  • 2010: 23,3°C
  • 2011: 22,8°C
  • 2012: 23,2°C
  • 2013: 22,8°C
  • 2014: 23,4°C
  • 2015: 23,9°C
  • 2016: 23,6°C
  • 2017: 23,3°C
  • 2018: 23,4°C
  • 2019: 24°C
  • 2020: 23,5°C
  • 2021: 23,6°C
 
TEMPERATURA MÁXIMA ABSOLUTA
  • 2010: 35,1°C
  • 2011: 34,5°C
  • 2012: 36,6°C
  • 2013: 34,9°C
  • 2014: 38,3°C
  • 2015: 38°C
  • 2016: 35,5°C
  • 2017: 37,2°C
  • 2018: 35,1°C
  • 2019: 36,8°C
  • 2020: 38,5°C
  • 2021: 37,2°C
MÉDIA TOTAL: 36,4°C
 

TEMPERATURA MÍNIMA ABSOLUTA
  • 2010: 8,2°C
  • 2011: 7,1°C
  • 2012: 8,7°C
  • 2013: 7,2°C
  • 2014: 10,2°C
  • 2015: 12,8°C
  • 2016: 9,1°C
  • 2017: 7,3°C
  • 2018: 8,7°C
  • 2019: 6,7°C
  • 2020: 8,8°C
  • 2021: 4,7°C
MÉDIA TOTAL: 8,2°C


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