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27/09/2022 às 11h15min - Atualizada em 27/09/2022 às 11h15min

UFU faz parceria com a Polícia Militar para facilitar denúncias de violência e importunação sexual nos campi

Corporação vai disponibilizar local com atendimento 24 horas para atender ocorrências registradas na comunidade acadêmica

IGOR MARTINS I DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
UFU deve fazer aquisição de câmeras de segurança para aumentar cobertura de vídeo-monitoramento nos sete campi I Foto: Comunica UFU

Um ofício expedido na última semana pela Polícia Militar (PM) anunciou que a corporação vai atender ocorrências de violência contra a mulher na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) 24 horas por dia. O objetivo da iniciativa é tornar os campi mais seguros para a comunidade acadêmica, incluindo alunas e funcionárias da instituição.
 
De acordo com o prefeito universitário, João Jorge Ribeiro Damasceno, o objetivo da parceria é ajudar as mulheres a se sentirem mais seguras e confortáveis dentro do ambiente universitário. O professor relatou que a universidade tem acompanhado as denúncias pelo Comitê de Proteção às Mulheres.
 
Segundo Damasceno, o comitê é composto integralmente por mulheres que frequentemente se reúnem para discutir melhorias e casos de assédio, importunação e violência contra o gênero. Neste mês, a UFU se reuniu com o Ministério Público Federal (MPF) e foi feita uma petição, relatando a dificuldade em fazer um Boletim de Ocorrência (BO) na instituição.
 
“Muitas pessoas nos relataram a dificuldade de registrar esse boletim na Polícia Militar. Com o ofício, ficou acertado que haverá um local 24 horas por dia para registrar esse boletim. É um avanço interessante para a comunidade. A polícia tem nos ajudado bastante na questão da solução de problemas que a gente gostaria de evitar”, disse.
 
O prefeito universitário falou ainda sobre os investimentos que serão realizados nos sete campi da universidade, buscando aumentar a cobertura de segurança na instituição. Atualmente, existem cerca de 200 câmeras de segurança espalhadas nas faculdades, e a expectativa é de que mais 40 sejam adquiridas futuramente.
 
“Nós vamos colocar essas câmeras em pontos estratégicos. Temos a ideia de comprar câmeras móveis, já que podemos colocar elas em um local estratégico que está crítico, por exemplo. Se a incidência de casos diminuir, podemos colocar essa câmera em outro lugar. Isso, com o ofício da Polícia e as outras plataformas de atendimento, vai melhorar muito”, contou o professor.
 
Além do apoio dos militares nos campi, a UFU também conta com a plataforma “UFU Segura”, um sistema de atendimento implantado em 2017, via WhatsApp, que está disponível nas quatro unidades da instituição em Uberlândia (Educação Física, Glória, Santa Mônica e Umuarama).
 
Damasceno explica que uma pessoa que for violentada pode acionar o telefone (34) 99996-4597 de segunda a domingo, das 7h às 23h, devendo ser utilizado para envio de mensagens. Já os números de atendimento telefônico são (34) 3230-9509 (Santa Mônica) e 3225-8031 (Umuarama). Outra opção é acionar a Comissão Permanente de Acompanhamento da Política Institucional de Valorização e Proteção das Mulheres (CPMulheres) pelo e-mail
[email protected].
 
“A UFU Segura funciona como uma espécie de botão de emergência. A pessoa manda mensagem pelo WhatsApp e a nossa segurança é acionada. Um dos nossos vigilantes vai até o local em minutos”, argumentou.
 
O Diário procurou a assessoria da Polícia Militar para comentar sobre a parceria e trazer mais detalhes sobre a operacionalização das denúncias. Por meio de nota, 
a PM informou que está aberta 24 horas por dia, inclusive o 17º BPM é um dos pontos que registram ocorrências de crimes em qualquer horário, sem restrições. "Lembramos ainda que o canal de atendimento de chamadas de urgência e emergências é o 190, que também está à disposição do cidadão 24 horas."

O local que será utilizado de forma exclusiva para recebimento das denúncias, no entanto, não foi informado.


GRUPO ACOLHIDAS



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Criado em 2016, o Grupo Acolhidas atende mulheres da comunidade UFU que sofreram algum tipo de violência no ambiente universitário. O projeto nasceu após uma pesquisa do Instituto Avon com o Data Popular, intitulada “Violência contra a mulher no ambiente universitário”. O levantamento foi feito com universitárias dos cursos de graduação e pós-graduação.
 
De acordo com a pesquisa, 25% das estudantes já sofreram agressões por terem rejeitado alguma “investida” nas dependências acadêmicas ou eventos universitários. Além disso, o levantamento mostrou que 42% das alunas já sentiram medo de sofrer violência no ambiente universitário e 36% já deixaram de realizar atividades por medo.
 
Integrante do coletivo feminista, Anita Naves explica que o grupo surgiu no intuito de auxiliar as vítimas de assédio sexual, moral ou discriminação de gênero que ocorrem dentro da Universidade Federal de Uberlândia, preservando a identidade das vítimas e se empenhando no combate de situações de cunho vexativo.
 
Segundo Anita, o apoio da Polícia Militar é fundamental para aumentar o número de denúncias relacionadas a violência contra a mulher dentro dos campi da UFU. Para ela, o fato de a corporação disponibilizar o oferecimento de boletins de ocorrência 24 horas por dia também deve contribuir para a maior segurança da comunidade, já que a instituição oferece cursos durante o dia e noite.
 
Na visão de Anita Naves, os casos de violência não estão restritos apenas a estudantes, e pode acontecer até mesmo com funcionárias do local. “O nosso objetivo é acolher e atender mulheres que precisam de ajuda, dando suporte e criando um espaço de sororidade e apoio psicológico e jurídico, sem julgamentos”, disse.
 
Em conversa com a reportagem, Anita ressaltou a importância do coletivo e relembrou os casos recentes de violência contra a mulher dentro da instituição. Em maio, um funcionário terceirizado da UFU foi preso pela Polícia Militar após ser acusado
de importunação no campus Monte Carmelo. O rapaz, de 23 anos, teria exibido o órgão genital a uma mulher e se masturbado na presença da vítima dentro da universidade.
 
Outro caso que ganhou repercussão foi a do professor do curso de ciências biológicas, Douglas Santos Riff,
acusado de praticar assédio moral e sexual contra alunas do curso. O docente foi demitido após conclusão do processo administrativo disciplinar que havia sido instaurado pela universidade.
 
Com os casos recorrentes, o MPF já havia recomendado à UFU
a adoção de medidas em caso de denúncias de assédio moral ou sexual contra membros da comunidade acadêmica, incluindo alunas, servidores técnico-administrativos e terceirizados. A recomendação foi feita após o órgão tomar ciência de diversos procedimentos disciplinares instaurados dentro da instituição.
 
 “O coletivo sente que o ambiente universitário continua sendo perigoso, é um ambiente que existe uma violência de gênero muito forte. A gente está aqui para ouvir e abraçar essas mulheres, não vamos soltar a mão de ninguém. Caso uma mulher seja violentada, basta acionar alguma de nossas integrantes. Lá, daremos todo o apoio e a vítima vai poder decidir se quer fazer uma denúncia ou não. O importante é que ela tome uma decisão da melhor forma possível”, explicou Anita Naves.


VIOLÊNCIA
A violência contra a mulher é qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado.
 
Violência física (visual): É aquela entendida como qualquer conduta que ofenda integridade ou saúde corporal da mulher. É praticada com uso de força física do agressor, que machuca a vítima de várias maneiras ou ainda com o uso de armas, exemplos: Bater, chutar, queimar, cortar e mutilar.
 
Violência psicológica (não-visual, mas muito extensa): Qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima da mulher, nesse tipo de violência é muito comum a mulher ser proibida de trabalhar, estudar, sair de casa, ou viajar, falar com amigos ou parentes.
 
Violência sexual (visual): A violência sexual está baseada fundamentalmente na desigualdade entre homens e mulheres. Logo, é caracterizada como qualquer conduta que constranja a mulher a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada; quando a mulher é obrigada a se prostituir, a fazer aborto, a usar anticoncepcionais contra a sua vontade ou quando a mesma sofre assédio sexual, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade.
 
Violência patrimonial (visual-material): importa em qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de objetos pertencentes à mulher, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades.
 
Violência moral (não-visual): Entende-se por violência moral qualquer conduta que importe em calúnia, quando o agressor ou agressora afirma falsamente que aquela praticou crime que ela não cometeu; difamação; quando o agressor atribui à mulher fatos que maculem a sua reputação, ou injúria, ofende a dignidade da mulher. (Exemplos: Dar opinião contra a reputação moral, críticas mentirosas e xingamentos). Obs: Esse tipo de violência pode ocorrer também pela internet.

* Matéria atualizada em 28 de setembro para acréscimo de informações.


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