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20/07/2022 às 11h00min - Atualizada em 20/07/2022 às 11h00min

Uberlândia tem mais de 300 mil endividados, aponta Serasa

Cidade é a segunda do estado com maior índice de inadimplência, atrás apenas da capital Belo Horizonte

IGOR MARTINS | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Planejamento financeiro e corte de gastos pode auxiliar endividados, segundo administrador | Foto: Agência Brasil
Em maio deste ano, a cidade de Uberlândia atingiu a marca de 304 mil pessoas inadimplentes, o que significa que mais de 40% da população do Município está endividada, segundo o indicador do Mapa da Inadimplência da Serasa Experian. O índice registrado no município é o segundo maior do estado de Minas Gerais, ficando atrás apenas da capital Belo Horizonte, que possui 938 mil endividados.

De acordo com a Serasa, são 66 milhões de inadimplentes em todo o Brasil. Em Minas Gerais, o número de pessoas endividadas chega a 6,3 milhões. As dívidas mais comuns estão relacionadas a bancos e cartões de crédito (28,14%), despesas com contas bancárias como água, luz e gás (22,93%) e varejo (12,49%).

O indicador aponta ainda que, em Minas Gerais, as pessoas com mais endividamentos são as com 26 a 40 anos de idade, representando 2,2 milhões de inadimplentes. Na sequência, aparecem os indivíduos de 41 a 60 anos (2,1 milhões), acima de 60 anos (1,2 milhão) e 18 a 25 anos (767 mil). O levantamento da Serasa Experian também revela que cada pessoa inadimplente no estado tem, em média, R$ 3,8 mil em dívidas. 

O jornalista Wando Moreira está com o nome sujo na Serasa há sete meses, após adquirir uma dívida de aproximadamente R$ 2 mil com um banco na cidade de Uberlândia. Apesar das tentativas de renegociação, o uberlandense de 32 anos ainda não conseguiu sair da inadimplência.

“Não tenho condições de pagar essa dívida agora, já fiz várias tentativas de negociação. Atualmente, estou fazendo alguns serviços e recebendo menos de um salário mínimo. É muito difícil, porque preciso pagar outras contas e preciso me sustentar”, contou.

Quem também está com o nome sujo na Serasa é Flávio Miguel, de 39 anos, que está desempregado. Ele tem dívidas no cartão de crédito há dois anos e está com as parcelas do financiamento do imóvel atrasadas há pelo menos seis meses. A saída no momento, segundo o uberlandense, é fazer “bicos” e comprar apenas o essencial.

“Está muito complicado, energia cara, supermercado caro, tenho que pagar condomínio. A gente tem que procurar fazer alguns serviços que aparecem. A parcela do meu apartamento é alta, e com os juros altos, aí que não tenho condições mesmo. Sou casado e tenho um filho de 13 anos, estamos comprando só o básico”, disse.

NA PONTA DO LÁPIS
Na visão do administrador Alexandre Rodrigues de Carvalho, o número de inadimplência em Uberlândia surpreende e tem relação direta com as mudanças nas formas de trabalho após a pandemia de covid-19. Em entrevista cedida ao Diário, o especialista afirmou que muitos empregos foram extintos devido à reinvenção e reestruturação de empresas e indústrias da cidade.

Como exemplo, o coordenador dos cursos de gestão do Centro Universitário Una citou a função de vendedor de loja. Segundo ele, muitas pessoas têm optado por empreender digitalmente, o que gera substituição nas vagas de emprego. Quem não se adequa e não se aprimora nos dias atuais, acaba ficando para trás e perdendo o emprego, segundo Carvalho.

“A pessoa precisa fazer uma reflexão sobre o que levou ela a perder esse emprego. É quebrar o paradigma de que ela está velha demais, é uma questão de se reciclar. Tudo no mundo está em transformação. O que pode ser uma crise agora pode ser uma condição de melhoria nessa reformulação de vida”, disse.

Para o professor, o primeiro passo para uma pessoa inadimplente é fazer um exercício de reflexão, colocando “na ponta do lápis” todas as receitas e despesas mensais. Dessa forma, o endividado terá uma ideia realista de onde cortar gastos desnecessários, priorizando sempre o que é essencial.

“A pessoa precisa criar uma escala de prioridade. É o aluguel, a parcela da residência, a alimentação, a energia. Se a pessoa conseguir tirar as coisas supérfluas, melhor. São coisas que são doloridas, mas necessárias. Um carro, por exemplo, pode ser substituído por uma moto ou pelo ônibus. São dores que precisamos saber tratar e resolver. Quanto mais cedo isso for feito, melhor será a situação dessa pessoa”, detalhou Alexandre.

O administrador alertou ainda sobre o uso de cartões de crédito, especialmente para pessoas com alguma dívida. Segundo ele, é preciso ter consciência e responsabilidade na hora de fazer alguma compra no crédito, já que as taxas de juros cobradas por bancos podem prejudicar ainda mais o consumidor em caso de atraso no pagamento.

“A minha orientação é que uma pessoa que sofre uma redução nas receitas, faça uma reformulação. Uma pessoa que continua tendo o mesmo gasto mesmo perdendo o emprego vai ter problemas. É ter maturidade e admitir que algumas compras, um passeio ou alguma atividade de recreação não cabem no orçamento. O cartão de crédito muitas vezes acaba sendo um vilão”, relatou.

 

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PLANEJAMENTO FINANCEIRO
Alexandre Rodrigues de Carvalho ressaltou a importância de ter um planejamento financeiro, prevendo a destinação de parte da renda para emergências em caso de perda de emprego, inadimplência ou até mesmo cuidados médicos. O ideal é que a pessoa guarde uma quantia todos os meses, seja de 10%, 20% ou 30% dos ganhos.

A iniciativa permite que em momentos de crise, uma pessoa possa passar pelas dificuldades de uma maneira mais tranquila. Na visão do professor, a educação financeira deve começar desde cedo e precisa ser mais incentivada nas instituições de ensino.

“O planejamento financeiro é necessário e essencial. Infelizmente, não somos orientados a efetivamente pensar na questão da reserva ou da previdência. Somos uma nação que vivemos o momento. Quanto mais cedo uma pessoa começar a fazer isso, melhor vai ser, porque ela vai ter mais autonomia. Se uma pessoa perde o emprego ou tem uma dívida, ela consegue ter segurança financeira”, contou Alexandre.

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