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10/07/2022 às 11h00min - Atualizada em 10/07/2022 às 11h00min

Produtos apreendidos ganham nova utilidade e ajudam a promover educação e sustentabilidade em Uberlândia

Parceria entre UFU e Receita transforma equipamentos em microcomputadores para escolas públicas; cigarros são utilizados como adubos e poderão ser fonte de energia no futuro

IGOR MARTINS I DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Tabaco passa por processo de compostagem e pode ser transformado em adubo I Foto: Milton Santos/Dirco/UFU

Transformar tabaco em adubo, cigarro em energia elétrica e produzir softwares a partir de produtos apreendidos. Essas são algumas das ações de um projeto realizado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) em parceria com a Receita Federal. O objetivo principal da iniciativa é destinar à sociedade novos produtos que seriam descartados pelo órgão.
 
A parceria teve início em 2021 e conta com trabalhos em oito cursos de graduação da universidade, incluindo o campus de Ituiutaba (MG). Atualmente, os projetos são desenvolvidos nas áreas de Engenharia Mecânica, Engenharia Elétrica, Relações Internacionais, Ciências Contábeis, Agronomia, Medicina, Economia e Química.
 
De acordo com o pró-reitor de Extensão e Cultura (Proexc), Helder Eterno da Silveira, um dos programas desenvolvidos é a construção de microcomputadores aproveitando componentes eletrônicos. O trabalho é possível graças às ações de apreensão da Receita Federal de TVs Box, popularmente chamados de “TV gato”.
 
O professor explica que, ao invés de incinerar os produtos, algo que aconteceria se não fosse pela parceria, os alunos de engenharia da UFU desmontam o objeto e conseguem elaborar softwares para serem utilizados em escolas públicas. Até o momento, já foram mais de 270 receptores de TV transformados em microcomputadores na cidade.


 
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Após a descaracterização do objeto, o produto passa a ter uma nova versão com editor de texto, jogos pedagógicos, editor de planilha e outras aplicações voltadas à educação. A ideia é ajudar os estudantes com ferramentas e executar outras ações como robótica. Com a destinação dos microcomputadores às escolas de Uberlândia, a expectativa é que 3 mil alunos já tenham sido beneficiados com a iniciativa.
 
“O TV Box é um equipamento pequeno, utilizado para abrir o sinal de TVs a cabo. É um equipamento ilegal que a Receita Federal apreende e encaminha para a universidade. O curso de Engenharia Elétrica percebeu que era possível tirar alguns componentes e transformar em microcomputadores ou softwares. Nós começamos a fazer a produção em maior escala e vamos fazer a destinação no momento apropriado”, disse.
 
PRODUÇÃO DE ENERGIA
Outro projeto da área da engenharia envolve a produção de energia elétrica por meio do cigarro. Segundo o docente, a queima apropriada do produto produz calor e gera matéria orgânica, podendo ser utilizada como energia. A expectativa do programa é disponibilizar eletricidade tanto para a universidade quanto para a cidade de Uberlândia.
 
“Nós já tivemos reuniões com o Município e queremos disponibilizar essa energia elétrica para a cidade em bairros mais carentes, mas esse ainda é um projeto a longo prazo. Ainda estamos desenhando os equipamentos e o polo industrial que vai fazer essa atividade. É perfeitamente possível produzir energia a partir do cigarro. Melhor do que incinerar esse material e causar danos ao ambiente, estamos devolvendo uma nova versão do produto”, contou Helder.
 
O tabaco também passou por um processo de ressignificação e, juntamente com o curso de Agronomia, foi transformado em adubo e destinado a famílias que trabalham com agricultura familiar. “O tabaco pode ser transformado em fertilizante orgânico, desde que passe por um processo de compostagem com uma mistura de terra”, detalhou Helder.
 
DOAÇÕES
Os alunos dos cursos de graduação da UFU também fazem a doação de roupas e calçados por meio da cooperação com a Receita. De acordo com o pró-reitor, uma grande quantidade de tênis e camisetas falsificadas foi recebida pela universidade. Os materiais foram descaracterizados e levados a entidades beneficentes.
 
“Dessa forma, a gente evita poluição ambiental, resíduos sólidos, fuligem. Tudo isso seria um desperdício enorme. O que nós fazemos sempre é verificar a possibilidade de transformação em algo que sirva para benefício social, tanto para a universidade quanto para entidades parceiras”, relatou.
 
Ainda segundo o pró-reitor, a UFU foi responsável por doar uma grande quantidade de máscaras de proteção ao Hospital de Clínicas (HC-UFU) durante o auge da pandemia de covid-19. A entrega também aconteceu graças a uma ação de apreensão da Delegacia da Receita Federal.
 
SERVIÇOS

Além de produzir novos equipamentos e produtos, a UFU também trabalha com a oferta de serviços à comunidade. É o caso dos cursos de Ciências Contábeis, Economia e Relações Internacionais, que oferecem acompanhamentos a comerciantes, seja para a comercialização de produtos ou auxílio fiscal.
 
“Temos feito trabalhos para agricultores poderem vender seus produtos internacionalmente ou participar desse comércio. Em Ituiutaba, criamos um núcleo de apoio fiscal para instruir a comunidade no preenchimento do Imposto de Renda, orientação de como armazenar notas, o que pode e o que não pode. Aí, deixa de ser um produto e vira um serviço, o que também entra na parceria com a Receita Federal”, explicou o professor.
 
A apreensão de uma grande quantidade de suplemento alimentar também ajudou a UFU recentemente. Segundo Helder, o alimento estava vencido e seria destruído pela Receita Federal, mas acabou tendo uma boa finalidade para alunos da universidade.
 
“O alimento já tinha ficado muito tempo no depósito da Receita Federal e não poderia mais ser consumido porque estava vencido. Nós estudamos esse material e acabamos ficando com alguns potes para utilizarmos em sala de aula, para a medição de índice proteico. Isso também é uma descaracterização do produto e acabou sendo utilizado na universidade”, relatou.
 
ESEBA
Uma das instituições beneficiadas com a parceria entre UFU e Receita Federal será a Escola de Educação Básica (Eseba) de Uberlândia. A expectativa é que a unidade receba a instalação de softwares e microcomputadores nos próximos meses, conforme adiantado pelo diretor Daniel Santos Costa.
 
Em conversa com o Diário, Costa afirma que os equipamentos que seriam doados precisaram passar por uma avaliação da Receita, o que acabou adiando a entrega dos produtos à unidade. Segundo ele, os materiais vão beneficiar diretamente os alunos da educação básica e o trabalho pedagógico desenvolvido pelos professores.
 
“Os microcomputadores vão ser articulados dentro da escola por meio dos materiais de informática. É um material interessante, porque ele tem funcionalidades diferentes no sentido de funcionar como um teclado remoto, tendo até mesmo algumas possibilidades de programação. Estamos negociando a melhor data de instalação desses equipamentos”, disse.



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