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01/04/2022 às 12h20min - Atualizada em 01/04/2022 às 12h20min

Demissão de profissionais prejudica atendimentos no Centro de Referência Nacional em Hanseníase de Uberlândia

Coordenadora da unidade disse que número de consultas caiu pela metade; dados do MS apontam que diagnósticos da doença na cidade reduziram quase 50% durante a pandemia

SÍLVIO AZEVEDO e IGOR MARTINS
Centro de referência realiza 55 mil procedimentos e atende 6 mil pessoas por ano | Foto: Acervo Credesh

Os atendimentos do Centro de Referência Nacional em Hanseníase e Dermatologia Sanitária (Credesh) em Uberlândia estão sendo prejudicados pela demissão de profissionais de diversas áreas. A informação foi confirmada pela coordenadora do Centro, Isabela Goulart, que ressaltou que o número de consultas caiu pela metade nos últimos meses. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, a quantidade de diagnósticos da doença na cidade reduziu quase 50% durante a pandemia da covid-19.

O Credesh passa por uma disputa judicial para que os serviços do local não sejam interrompidos. A situação ocorre desde que a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) assumiu a gestão do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU). No início de março, o Ministério Público Federal (MPF) obteve na Justiça uma liminar impedindo que as partes fechem a unidade.

A coordenadora do Centro disse que a situação na unidade é caótica e que seis dos 20 funcionários já foram demitidos. Conforme dito por ela, outros 14 colaboradores já estão na lista de dispensa. A situação afeta o atendimento nas áreas de psicologia, fisioterapia, médica e farmacêutica.

“O erro foi da UFU e da direção do hospital. Por que estão fechando algo público? O serviço está aberto há 22 anos, sempre funcionou com financiamento do SUS, sempre com profissionais da FAEPU e da UFU. Já estamos conversando há mais de ano, mas não fazem nada. Fomos no MPF para questionar como podem fechar um serviço que realiza 55 mil procedimentos e atende 6 mil pessoas por ano”, questionou Isabel.

Segundo o procurador da República, Cléber Eustáquio, o pedido de liminar foi realizado para que o serviço fosse mantido. “A ordem judicial determina que o serviço seja mantido. De alguma maneira deverão manter o serviço. Ou contratar pessoal da Ebserh, ou da Faepu ou da UFU”.

Cléber acredita que a questão está próxima de ser resolvida com um aditamento do contrato de gestão que a UFU tem com a Ebserh, que vai incluir o Credesh. “Vamos ter uma audiência de conciliação e, provavelmente, ficará acordado que será feito um aditamento que vai incluir o Credesh no contrato de gestão. Quer dizer que a Ebserh deve manter o serviço e contratar todos os profissionais necessários”.

Por meio de nota, a UFU informou que cumprirá a decisão judicial. Esclareceu ainda que "sempre se absteve de promover qualquer ato tendente ao fechamento do Credesh ou impediu que este continue a prestar seus serviços à população de Uberlândia".

SITUAÇÃO QUE PREOCUPA
Em Uberlândia, o número de diagnósticos de hanseníase caiu 45,8% entre 2019 e 2021, passando de 207 para 112. A queda preocupa profissionais de saúde, já que a pandemia da covid-19 afetou a procura das pessoas pelo exame que identifica a doença.
 
Em âmbito nacional, a quantidade de diagnósticos da doença também caiu em dois anos, cerca de 37,67%. Já no estado de Minas Gerais a queda foi de 27,7% entre 2019 e 2021. Os dados são do Ministério da Saúde.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia, o Brasil é o segundo país no mundo em casos de hanseníase, perdendo apenas para a Índia. E, segundo a entidade, entre as razões para a queda no número de diagnósticos está a pandemia.

“Não é que diminuíram os casos e a gente está avançando na questão da doença. Não é uma coisa pra gente ficar feliz porque sabemos que o que está acontecendo é uma subnotificação.  Com a questão do isolamento, as pessoas foram orientadas a ficar em casa. Elas ficaram com medo da contaminação em postos de saúde e hospitais e isso fez com que tivesse uma subnotificação. A procura caiu nos últimos dois anos”, disse o dermatologista Diogo Pazzini.

Ainda de acordo com o médico, a pessoa com hanseníase que não procura tratamento coloca em risco a saúde das pessoas de convívio próximo. Porém, em caso de tratamento, o ciclo de transmissão é interrompido. “Os sintomas não são necessariamente perceptíveis. São manchas na pele, áreas com diminuição de sensibilidade e em estágios iniciais, algumas pessoas nem se dão conta que estão doentes. É aí que a gente orienta. Tem uma mancha no corpo, uma mancha branca, avermelhada, perda de sensibilidade na região, procure o médico”, finalizou.

A DOENÇA
A Hanseníase é uma doença infecciosa e contagiosa, transmitida por um bacilo curável, que afeta os nervos e o infectado pode apresentar manchas avermelhadas ou esbranquiçadas na pele, e em algumas partes do corpo pode sentir dormência, fisgadas ou formigamentos.

Além disso, o paciente pode perder ou ter diminuição de sensibilidade ao toque, ao frio ou calor e à dor. Em tratamento regular, o paciente não transmite a doença e pode conviver normalmente com colegas de trabalho, escola, amigos ou familiares.

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