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11/02/2022 às 18h30min - Atualizada em 11/02/2022 às 18h30min

Em entrevista exclusiva ao Diário, presidenciável Ciro Gomes fala sobre recuperação da economia e propostas de governo

Pré-candidato cumpre agenda em Uberlândia neste sábado (12) e participa de encontro com apoiadores na Câmara Municipal

DHIEGO BORGES E SÍLVIO AZEVEDO
Gomes participa de encontro com apoiadores na Câmara Municipal de Uberlândia neste sábado (12) I Foto: DIVULGAÇÃO
Terceira via não, “tem uma avenida enorme pela frente”. Essa foi a frase escolhida pelo pré-candidato a Presidência da República, Ciro Gomes (PDT), para apresentar sua visão do cenário que pretende enfrentar para a disputa das Eleições 2022.  De passagem por Uberlândia, Ciro concedeu uma entrevista exclusiva ao Diário destacando suas propostas para o Brasil, caso venha a se tornar o próximo chefe do Executivo do país.
 
Em um encontro com apoiadores neste sábado (12), o pré-candidato deve apresentar o que tem chamado de Projeto Nacional de Desenvolvimento, uma série de medidas que ele acredita que possam significar a retomada do crescimento econômico, aliado ao desenvolvimento social e o fortalecimento do setor produtivo nacional. O evento acontecerá no plenário da Câmara Municipal de Uberlândia, às 17h.
 
No bate papo com o Diário, o presidenciável falou sobre seu plano de governo e não dourou pípula ao falar sobre seus adversários. Confira a entrevista completa:
 
DIÁRIO: Como o senhor avalia o cenário político atual com essa polarização entre direita e esquerda? Pesquisas recentes mostram Lula e Bolsonaro disparados, com o senhor e Sérgio Moro dividindo a atenção de 7% a 8% das intenções de voto. Dentro dessa polarização, existe um caminho, um espaço para o crescimento de uma “terceira via” no país?
 
CIRO GOMES: Pesquisa de intenção de voto é retrato, e a vida é filme. Ainda faltam oito meses para a eleição, e em política, ainda mais na política brasileira, isso é uma eternidade. Se pegarmos as pesquisas realizadas no começo de 2018, ninguém poderia imaginar que Bolsonaro acabaria eleito. Essa expressão “terceira via” é uma expressão preguiçosa, que tenta juntar na mesma prateleira projetos completamente diferentes. Eu não tenho nada a ver com Doria, que até mudou o nome para BolsoDoria para se eleger. Não tenho nada a ver com esse picareta do Moro, que favoreceu a eleição do Bolsonaro quando era juiz e depois aceitou ser ministro dele. Aceitar promessa de vantagem indevida é corrupção, está na lei. Eu não tenho nada a ver com essas viúvas do Bolsonaro. Eu tenho uma proposta concreta de mudança para o Brasil, que não aguenta mais as mentiras do passado nem a tragédia do presente. Objetivamente, o que as pesquisas mostram é que, hoje, cerca de 75% do eleitorado rejeita Bolsonaro e apenas 25% o aprovam. Lula fica mais ou menos com 40%, e os outros 35% estão buscando uma alternativa. Ou seja, tem uma avenida enorme pela frente.
 
DIÁRIO: Em 2018, pesquisas apontavam a vitória de Jair Bolsonaro em “todos os embates”, menos com o senhor. Esse cenário de confronto direto, no entanto, não chegou a ocorrer. Para esse ano, com as ações do Governo bastante questionadas, principalmente na atuação contra a covid-19, a situação pode ser considerada favorável para os candidatos que fazem oposição a Bolsonaro? Em um cenário de segundo turno, o senhor acredita que venceria?
 
CIRO GOMES: Infelizmente, esse confronto não chegou a ocorrer em 2018, pois o PT preferiu mentir para o povo, dizendo que Lula seria o candidato de dentro da cadeia e depois lançando como candidato Fernando Haddad, que não tinha conseguido se reeleger para a Prefeitura de São Paulo dois anos antes e perdeu a eleição no primeiro turno para João Doria, recebendo menos votos que brancos e nulos. Eu acredito que Bolsonaro pode nem disputar a eleição. Ele está muito desgastado por conta do seu governo desastroso na economia, que provocou a volta da fome do nosso povo, e da sua atuação criminosa durante a pandemia, que foi responsável pela morte de centenas de milhares de brasileiros. O destino dele é a cadeia, e ele sabe disso. Se ele vier a disputar e chegar ao segundo turno, qualquer um que enfrentá-lo vence. Por isso que Lula claramente não se empenhou pelo impeachment, que teria sido a melhor opção para o país. Mas, tenho a convicção que estarei no segundo turno e vamos poder apresentar ao Brasil o projeto que pode recuperar nossa economia e reduzir desigualdades.
 
DIÁRIO: O senhor já fez parte do governo Lula, como Ministro da Integração Nacional, entre 2003-2006.  Como o senhor avalia a pré-candidatura do ex-presidente Lula? Será um páreo difícil, até mais do que foi em 2018? Existe a possibilidade de o senhor renunciar à candidatura para apoiar a chapa petista em um cenário de segundo turno?
 
CIRO GOMES: Eu disputei contra Lula em 1998 e em 2002. Como não fui eleito, fui dar a minha contribuição ao país como ministro. Ajudei a fazer obras importantes, como a transposição do rio São Francisco. O governo Lula fez algumas políticas que melhoraram temporariamente a vida dos mais pobres, até por isso o povo guarda uma memória afetiva do período em que ele era presidente, que se reflete nas intenções de voto hoje. Mas, Lula teve todas as chances para fazer uma mudança profunda nas estruturas desiguais do país, porém preferiu fazer um governo de conciliação, dando migalhas para os pobres e deixando os ricos cada vez mais ricos. Via juros, Lula transferiu para os ricos mais de R$ 4 trilhões, enquanto para os pobres foram destinados no mesmo período R$ 332 bilhões na somatória das políticas sociais compensatórias. Como nunca ninguém fez nada pelos pobres, esse pouco que Lula fez pareceu muito. Ele mesmo admitiu isso em uma palestra, que comentei em um dos reacts na minha live Ciro Games, que faço toda terça à noite. Mas o povo também precisa lembrar que Lula foi o responsável pelo governo Dilma e toda a crise econômica que foi obra dela e da qual sentimos os efeitos até hoje. Não existe nenhuma possibilidade de eu renunciar à minha candidatura porque eu apresento um projeto verdadeiro de mudança para o Brasil. Todos os governos desde Fernando Henrique, com mudanças cosméticas de discurso, mantêm a mesma política econômica (superávit primário, câmbio flutuante e metas de inflação), e o mesmo modelo de governança política, baseado no toma-lá-dá-cá, junto dos mesmos corruptos e suspeitos de sempre. Eu quero ser presidente para acabar com isso.
 
DIÁRIO: Qual a estratégia que o senhor pretende adotar para atacar essas duas lideranças políticas e tentar captar votos de eleitores insatisfeitos tanto com Lula quanto com Bolsonaro?
 
CIRO GOMES: Eu peço a Deus que ilumine a minha palavra e a nação brasileira para que o nosso povo procure entender as causas da nossa tragédia. Em 2018, 70% do povo da nossa querida Minas Gerais votou em Bolsonaro contra Lula, não porque nosso povo seja “gado”, como os petistas tentam criticar, mas sim por causa de toda a corrupção que foi central nos governos do PT. Precisamos lembrar que Palocci devolveu R$ 100 milhões? Ou dos R$ 51 milhões em dinheiro vivo no apartamento do Geddel? E também por causa de toda a grave crise econômica do governo Dilma, que foi colocada lá por Lula. Não é possível que agora o nosso povo vote em Lula para tirar Bolsonaro, que é um incompetente e genocida, mas que não é o único responsável pela crise; ele agravou a crise que já vinha dos governos petistas. O povo precisa ter essa clareza.
 
DIÁRIO: Outro concorrente direto da sua campanha é o ex-ministro Sérgio Moro. O senhor o enxerga como uma possível ameaça?
 
CIRO GOMES: Moro é uma ameaça ao Brasil. Ele é um inimigo da nação, que, além de ser corrupto, está a serviço de potências estrangeiras. Apesar de toda força que tentaram dar a ele, não vejo grandes chances de ele estar na disputa. Ele tem que explicar como ganhou mais de R$ 3 milhões em apenas 11 meses, trabalhando para uma empresa que administra a massa falida de empresas que ele, Moro, quebrou quando era juiz. Sabe quanto tempo um professor brasileiro precisa trabalhar para ganhar isso? 68 anos. E uma pessoa que recebe um salário-mínimo? 212 anos.
 
DIÁRIO: Desde que perdeu as eleições em 2018, o senhor tem percorrido as universidades brasileiras em rodas de conversa com os jovens. Como tem sido a recepção deste público? Há uma insatisfação geral destes universitários que pode apontar para uma possível mudança em 2022?
 
CIRO GOMES: De todos os principais pré-candidatos, posso dizer que sou o único que consegue viajar pelo Brasil de avião de carreira e entrar nas universidades de cabeça erguida e sem ser hostilizado. Sem dúvida a juventude brasileira está sentindo na pele a crise que vivemos. E sabem muito bem quando ela surgiu e como foi agravada. O sentimento de mudança, de rebeldia existe e precisamos unir com um projeto, com esperança.
 
DIÁRIO: Durante esses últimos anos, o senhor vem construindo um plano que tem sido chamado de Projeto Nacional de Desenvolvimento. Quais são as principais bases que sustentam esse planejamento para o Brasil e como ele foi estruturado?
 
CIRO GOMES: O Projeto Nacional de Desenvolvimento que apresento ao Brasil para debate tem sido construído por mais de 600 professores, cientistas e técnicos das mais diversas áreas e dos mais diversos segmentos sociais. A ideia central é recuperar a economia brasileira, com industrialização, respeito ao meio ambiente e visando sempre a redução das desigualdades e a superação da miséria. Ele está detalhado num livro que escrevi como resultado da minha peregrinação por universidades em todo o Brasil e desse amplo debate com especialistas de diferentes campos do conhecimento: “Projeto Nacional: O Dever da Esperança”. Também lançamos recentemente um site (cirogomes.com.br), em que há um resumo dos principais pontos do projeto. Convido a todos a ler o livro, a visitar o site e a enviar suas reflexões e contribuições para, juntos, sairmos desta profunda crise em que diversos governos nos deixaram.
 
DIÁRIO: Sua campanha tem utilizado como mote a frase “a rebeldia da esperança”. Como o senhor contextualiza essa linha de pensamento?
 
CIRO GOMES: Rebeldia e esperança são as duas únicas energias capazes de retirar o Brasil das trevas e da estagnação onde nos encontramos. Elas têm que estar juntas e aliadas. Uma separada da outra não consegue, não alcança! A rebeldia sem esperança é a rebeldia sem causa. E a esperança sem rebeldia é um sonho que nasce moribundo. Mas, quando se juntam rebeldia, esperança e um novo Projeto Nacional de Desenvolvimento está firmado um elo inquebrantável. Uma corrente capaz de eletrizar o Brasil e levá-lo adiante. Mas, esta não é uma tarefa isolada de um presidente. É de toda uma nação de pé, mobilizada para transformar profundamente o Brasil. De pé, a cantar um hino de amor à rebeldia e um cântico de fé à esperança.
 
DIÁRIO: Uma das propostas apresentadas no seu plano de governo para a área da Educação está uma remuneração mensal para alunos do ensino médio mediante avaliação de frequência e rendimento escolar. Como o senhor pretende viabilizar essa proposta? Qual a principal melhoria que o senhor propõe para a Educação no Brasil?
 
CIRO GOMES: O que defendo é o que já é praticado no Ceará em metade das escolas de ensino médio: escola profissionalizante em tempo integral, da qual o estudante sai com estágio remunerado pelo governo em empresas de sua região. Isso pode ser levado para todo o Brasil. Hoje, a melhor educação pública do país é a do Ceará. Segundo o Ideb, das 100 melhores escolas do Brasil, 79 são do Ceará.
 
DIÁRIO: Outra ideia apresentada em seu projeto dentro de uma reforma tributária está a proposta de reduzir o conjunto de impostos de Pessoa Física e Jurídica. Isso significa dizer que haverá uma redução de tributos que serão pagos pelos brasileiros?
 
CIRO GOMES: O Brasil precisa entender qual é o caminho do crescimento. Nenhuma nação desenvolvida do mundo se desenvolveu com base no capital dos outros. E essa é a premissa do equívoco que tange o Brasil desde FHC, repetido por Lula, Dilma, Michel Temer e pelo Bolsonaro. A minha proposta entra em um caminho de construção da poupança nacional através de um desenho absolutamente novo e original, porém em linha com as melhores práticas e com a melhor literatura do mundo. É fundamental mexer no desenho dos tributos do país, que hoje penalizam só quem produz e trabalha, cobram muito mais do pobre e da classe média e transformam o Brasil no paraíso fiscal dos super ricos. O Brasil é o único país, ao lado da pequena Estônia, que não cobra tributos sobre lucros e dividendos empresariais. Eu vou cobrar.
 
DIÁRIO: O senhor teve no primeiro turno 51.275 votos em Uberlândia. Como avalia essa votação e a importância desse colégio eleitoral na sua campanha em 2022?
 
CIRO GOMES: Uberlândia tem uma das maiores economias do interior do Brasil com influência não apenas em Minas Gerais, mas também em São Paulo. Esta é uma terra de gente trabalhadora, com universidades e muita pesquisa. Sou muito agradecido por todo apoio que recebo e espero sempre poder retribuir.
 
DIÁRIO: Quais seriam suas medidas nos 100 primeiros dias de governo, caso o senhor seja eleito?
 
CIRO GOMES: Na democracia brasileira, os seis primeiros meses do mandato presidencial são os mais importantes. Pretendo neste período apresentar e já colocar para análise e votação do Congresso Nacional as reformas necessárias para o país. São reformas como a do sistema tributário, que cobra mais dos mais pobres e da classe média. Vou voltar a cobrar impostos sobre lucros e dividendos, na melhor linha do que é cobrado em todo planeta. Além da reforma do sistema previdenciário, que não suporta mais ser apenas de repartição, entre outras. Também vou mudar a política de preços da Petrobras, que está cobrando do povo brasileiro em dólar a gasolina, o óleo diesel e o gás de cozinha. A Petrobras voltará a ser uma empresa para beneficiar o povo brasileiro e vou transformá-la na maior e mais moderna empresa de energia do mundo.

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